CAPÍTULO 3: ONDE ELA DORMIA

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Gratel

***

Eu não conseguia dormir. Eu agarrei o travesseiro ao lado da minha cabeça, tentando controlar o desejo de empurrá-lo entre as minhas pernas doloridas. Eu não sabia assim acalmaria ou incendiaria a minha febre.

Mamãe e papai tinham ficado surpresos ao nos ver voltando para casa juntos. Nós não vínhamos passando tempo o suficiente um com o outro, eles tinham dito, e então a minha mãe tinha dado uma bronca em Hansel por me negligenciar só porque ele estava ficando mais velho e começando a olhar para as garotas.

Eu não gostei de como ela disse isso, "olhando para as garotas". Isso me fez pensar que Hansel fazia as coisas que ele fez comigo com outras mulheres. É por isso que elas lhe davam todos aqueles olhares maliciosos e piscadelas? Eu odiava pensar nele tocando o lugar proibido de outra mulher assim. Nele se revelando a uma outra pessoa. Em ter sua febre curada por outra.

Mas eu sabia que as outras meninas ficavam com febre quando olhavam para ele. Algumas das minhas próprias amigas, inclusive. Elas gostavam de vê-lo cavando nos campos. Gostavam do seu corpo e os músculos longos e magros. Elas diziam que queriam tocá-los, e suas bochechas coravam ao ouvir suas próprias palavras.

Sim, ele dava febres às outras meninas. Eu não era nada especial. 

Mas eu queria ser.

Eu queria perguntar à minha mãe o que ela queria dizer. Eu queria dizer a ela que ele era meu. Mas eu não podia fazer isso. Hansel tinha dito que eu não devia contar a ninguém o que tinha acontecido, e mesmo se ele não tivesse me avisado, eu sabia que era errado. Pecaminoso. Algo pelo qual eu nunca poderia ser perdoada.

Nós já tínhamos arruinado o pano do altar. Isso foi um pecado que jamais seria perdoado. Nós tínhamos feito algo na casa de Deus que nunca deveria ter acontecido. Eu sabia disso. Eu estava ciente disso mesmo durante o acontecimento, enquanto o meu corpo gritava de dor e eu aceitava o pecado de Hansel. E uma parte do meu corpo tinha gostado - tinha gostado da dor, a sensação de estar sendo aberta, a sensação de estar tão perto dele. Eu gostava do jeito que ele ofegava. A expressão em seu rosto enquanto se metia em mim. O olhar sombrio em seus olhos, como se eu fosse tudo o que existia. Tudo o que importava. Eu queria aquele olhar para mim, sempre. Eu queria possuir aquele olhar assim como ele me possuiu.

E então eu tinha pecado ainda mais do que ele, que tinha apenas procurado aliviar sua febre, porque eu tinha aceitado o seu pecado e acrescento-lhe ao meu próprio desejo de pecar novamente e novamente.

Tinha sido um jantar muito longo e desconfortável. Eu estava com muita fome, mas foi difícil para comer. Difícil ficar tão perto de Hansel. Difícil olhar para as mãos dele segurando o garfo, ou para seus lábios enquanto ele comia e falava. Lembrei-me daquelas mãos no meu corpo. Lembrei-me de seus lábios nos meus seios. Lembrei-me dele empurrando seus dedos contra a minha pele, me machucando.

Mas Hansel estava bem controlado. E quando minha mãe tinha mencionado a ele que algo estava errado comigo, ele apenas disse que eu não estava me sentindo bem, e então ele tinha me levado para um passeio. Ela tinha ficado satisfeita com isso. Ela me disse para terminar de comer rapidamente e ir para a cama, e que ela subiria logo para ver se eu estava bem.

Então eu corri lá para cima depois do jantar e fiquei na minha cama. Eu permiti a minha mãe arrumasse minhas cobertas e beijasse a minha bochecha. Mas algo sobre isso parecia errado. Este segredo pairava entre nós, agora.

Um segredo que eu nunca devia revelar a ninguém. 

Um segredo que eu nunca poderia esquecer.

Agora, longe de Hansel e longe de nossos pais, eu ainda não me sentia composta ou segura. Ele estava no quarto ao lado, provavelmente dormindo. Nossos pais também estavam dormindo.

Eu me levantei. Se ele estivesse dormindo, não haveria problema em olhar para ele, não é? Eu não iria aborrecê-lo. Eu não o assustaria. Eu só queria vê-lo por alguns segundos.

Arrastei-me até a minha porta e a abri.

Ela rangeu. Quando eu pisei no corredor, as tábuas do assoalho rangeram também. Eu congelei. E se alguém me ouvisse? O que eu seria capaz de dizer?

Mas não havia nenhum movimento. Todos estavam em suas camas, exceto por mim.  

Eu cheguei à porta de Hansel, levantei meu punho, mas não bati. Eu descansei meus lábios sobre a madeira. Ele estava do outro lado, dormindo. Ele estava lá, e nem imaginava o tumulto que se formava dentro de mim. A dor que ainda estava crescendo dentro de mim. Eu a sentia, embora eu soubesse que não deveria. E mesmo sabendo que era errado, que era a fonte da dor dele, eu ainda ansiava por isso. Eu queria sentir aquela felicidade de ser rasgada. De me perder. Eu queria isso, mesmo que destruísse a nós dois.

Virei a maçaneta e abri a porta. 


CONTINUA EM: A Confissão do Meu Irmão-Adotivo (Meu Meio-Irmão #3)

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A Tentação do Meu Irmão Adotivo (Meu Meio-Irmão #2) Nadia DantesOnde histórias criam vida. Descubra agora