Capítulo 2

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Capítulo 2

Fui dormi mais chateada ainda, pois o assunto não prosseguiu. Ele simplesmente falou:

- Nem vem com esse assunto. Não estou com tempo para essas coisas. – o que mais me aborreceu foi o que ele completou – até parece que não tenho o que fazer!

Eu me senti muito mal, pois parecia que eu não fazia nada. Como se o meu trabalho não tivesse valor, afinal além dele, eu era: motorista, dona de casa, enfermeira, cozinheira, estudante, jardineira, esposa e mais outras funções...

No outro dia fiz minha matrícula individual no horário da tarde. Eu tinha decidido que desta vez eu iria fazer as aulas. Poderia até me decepcionar, mas eu precisava fazer para tirar essa vontade de dentro de mim.

Meu primeiro dia.

Vesti uma saia rodada de cintura alta que há muito não usava. Coloquei um short curtinho de malha elástica por baixo. Foi bom por dois motivos, pois me deixava mais a vontade e firmava minha barriga. Uma camiseta justa e uma sapatilha.

Estava me sentindo uma colegial no primeiro dia de aula.

Pior foi quando os outros alunos começaram a chegar de roupas de ginásticas. Senti-me como uma idiota. Estava fora da idade mesmo. Por que pensei que estava vestindo certo? Minha vontade era de sumir daquele salão.

Os professores entraram e se apresentaram. A moça também estava com roupa de ginástica, mas colocou uma saia por cima. Isto acabou me deixando mais relaxada.

- Olá... Boa tarde a todos... Eu sou o Carlos e esta a Margô. Vamos nos divertir a partir de hoje, pois dançar é isso: brincar, divertir e relaxar. Você! – apontou para mim – aproxime, por favor, qual seu nome?

- Isabel...

- Vejam Isabel... – pegou na minha mão e fez que eu desse uma rodada – ela está vestida para uma dança. Assim tenho certeza que ela vai entrar no clima muito mais rápido. Então vou dar um conselho, venham vestidos para festa... - bateu palma – agora vamos nos apresentar.

Depois que todos falaram os nomes a Margô deixou a música preencher o ambiente. Começamos por fazer passos sozinhos... Aqueles dois para frente e dois para trás... Ele dizia que precisava ver o molejo de cada um.

- Soltem o corpo... Esqueçam quem está lá fora e preste atenção no seu corpo, neste instante que é somente seu... – falava alto.

No final, eu já transpirava e sentia o corpo relaxado. Cansado, mas relaxado.

Cheguei em casa, tomei um banho e preparei o jantar antes de buscar as crianças na escola. Precisava trabalhar a noite no ateliê.

Assim foi nos dias em que eu ia para as aulas durante a tarde.

Eu e o Pedro não falamos mais sobre esse assunto. Ele sabia que eu estava chateada, mas não falou nada. Como eu o conhecia bem, sentia que aquilo estava o incomodando, mas não facilitei desta vez. Fiquei na minha, curtindo a minha indiferença. Ele rodeava, fazia suas brincadeiras e piadas, sem graça por sinal, contudo eu permanecia distante.

Durante um mês a nossa rotina ficou assim, estranha. Não parecia em nada o casal, Isabel e Pedro. Todavia, eu me sentia outra pessoa. Estava feliz com as aulas. Passava aquela uma hora e meia com a cabeça em outro mundo. Isso até refletiu no meu trabalho, a cada dia minhas pinturas tornavam-se mais alegres e criativas.

Uma noite eu acabava de preparar o jantar cantarolando e dançando na cozinha, escutei uma risadinha. Olhei e minha filha me encarava rindo.

- Mãe, você há um tempo vem cantando mais e vive dançando, por quê?

- Tem que ter motivos para cantar e dançar? – perguntei dançando valsa com ela pela cozinha.

Ela ria alto, o que acabou chamado atenção dos irmãos. Em pouco tempo estava revezando com eles. Confesso: cada um pior que o outro. Olhei para porta e o Pedro sorria olhando a cena, que parei em seguida.

- Não vou ser convidado para essa valsa?

- Não! – resumi respondendo.

- Magoei. – disse ele.

- Eu também. – foi o que limitei a dizer.

- Bel... Continua magoada comigo por causa daquela conversa?

- Não Pedro, pois não houve conversa. Você simplesmente disse não. Esqueceu?

- Bel! E eu tenho tempo para essas coisas?

- Pedro! – parei olhando para ele muito séria – quando você terá?

- Sei lá... Um dia...

- Eu venho esperando esse dia há 22 anos. Foi uma promessa lembra?

- Não!

- Pois eu lembro, muito bem por sinal.

- Claro! Você é Natrum¹!

- Não me venha com essa! E outra coisa, tempo nós arrumamos quando queremos e priorizamos. Eu cansei! – joguei o guardanapo no balcão da cozinha e saí em direção do quarto – sirva o jantar para as crianças!

Entrei no banho e chorei... Sabia que precisava realmente liberar tudo que estava engasgado na minha garganta. Não poderia segurar mais, estava me fazendo mal tudo aquilo preso.

Como sempre, ele não falou mais nada. Naquele dia eu dormi no quarto da minha filha.

Nos dias das aulas de dança de salão eu já acordava feliz. Àquelas horas eram meu bálsamo. Estava fazendo par constante com o professor, enquanto a Margô ficava com um senhor que também não tinha uma acompanhante.

A aula de samba-rock foi um show a parte. O professor convidou um casal da terceira idade para fazer uma performance para nós. Foi incrível! E no final da apresentação eles nos convidaram para um 'jantar dançante da terceira idade', onde eles fariam várias apresentações. Que delícia seria, pensei.

A noite um dia Pedro comentou:

- Quer ir ao jantar no clube sábado?

- Jantar? De que? – ele riu lendo no seu computador.

- 'Jantar dançante da terceira idade. '

- Nossa pai... Já!? Vocês não então muito novos para isso? – falou o Jeremias.

- Que isso filho! Para dançar tem que ter idade? – perguntei.

- Imagino as músicas caretas que vão rolar, e o passinho milenar que os velhotes devem dançar... – falou rindo.

Pensei comigo: ah se ele visse aqueles dois dançando... Pior que teria que ficar calada, afinal ninguém sabia das minhas aulas, somente a Elaine.

- E aí? Vamos? Posso comprar os convites? – insistiu ele.

- Pode.

Com certeza estava querendo fazer uma média comigo. Sair e me levar para dançar.

- ¹Medicamento homeopático que tem como característica a pessoa não esquecer promessas e situações passadas.




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Você já sentiu falta de ser reconhecida por aquilo que faz ao outro?

Então vou te dar uma dica: Quando fizer algo por alguém faça por você e não espere reconhecimento. O que vier é lucro. E coloque-se sempre em primeiro lugar.

Amor é cada um caminhar separados, mas com o olhar na mesma direção.

Anular-se pelo outro gera frustrações e arrependimento em algum ponto da vida. O melhor é cada pessoa ser feliz e fazer o outro feliz.

O que vai acontecer neste jantar?

Qual sua opinião?

Beijos

Lena Rossi

Promessa de uma dança - Terceiro lugar em Desafio em LetrasOnde histórias criam vida. Descubra agora