Não seja preguiçoso: pesquise!

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Essa dica é especialmente importante se você está escrevendo algum tipo de ficção histórica, ou simplesmente um livro que tem lugar em outra época, ou ficção científica.

Tem a ver com o que nós falamos no último capítulo sobre as falhas lógicas na sua trama (a cor do cabelo da Luana mudando, sem a menção de que ela o tenha tingido), mas agora nós falaremos sobre as inexatidões históricas e científicas - e como evitá-las.

Equívocos históricos se chamam "anacronismos". Podem ser materiais ou ideológicos. Por exemplo, quando você faz Júlio César consultar o tempo em um relógio. Bem, relógios não tinham sido inventados quando esse cara caminhou sobre a Terra. É um anacronismo material. Um anacronismo ideológico é quando você insere na mentalidade ou comportamento do seu personagem algo que não pertencia à época em que ele vive. Nem sempre soará estranho, porque as pessoas raramente sabem quando cada ideia apareceu na nossa sociedade. Mas você não pode criar um personagem comunista na Idade Média ou, como eu e minha amiga fizemos uma vez em um diálogo da nossa história - felizmente já editado e arrumado - fazer um guerreiro viking defender o vegetarianismo. 

Quanto às inexatidões científicas, elas são muito comuns, inclusive nos filmes de ficção científica. O melhor exemplo: explosões no espaço sideral. Bem, não há oxigênio no espaço, então não há combustão (a reação química que faz as coisas pegarem fogo), e as ondas de som não se propagam no vácuo. Assim, explosões de verdade no espaço teriam muito menos graça - um desaparecimento simples e silencioso, "puff!"

Bem, você não precisa explodir coisas sempre na sua ficção espacial, de qualquer forma.

Como evitar essas inexatidões? Há duas respostas. A primeira (e mais difícil) é "Crie o seu próprio mundo fantástico, em que todas as coisas acontecem do jeito que você quer, com os seus próprios povos, línguas, História, criaturas, reações, etc". Tolkien fez isso, e funcionou muito bem pra ele. Ele era meio louco e hipercriativo. Mas um monte de pessoas faz isso também hoje, e nem sempre funciona para elas. Eu acho que sei por quê. Tolkien só criou um mundo inteiro dele mesmo porque ele já tinha previamente consumido um monte de conteúdo sobre história e línguas. Ele era um grande pesquisador e um homem estudioso. Ele tinha assimilado tanto material, que foi capaz de organizá-lo de uma maneira diferente na sua cabeça e criar seu próprio mundinho (ou mundão).

É aquele negócio: pra reorganizar a matéria, você precisa ter os átomos pré-existentes. O ser humano não cria nada a partir do nada. Sempre existe uma referência, mesmo que você não se dê conta dela.

A melhor e mais simples opção é simplesmente a PESQUISA. "Oh, mas pesquisa soa como dever de casa, não é divertido!" Você pode torná-la divertida, procurando em boas fontes. Filmes, documentários, livros, ou só a Wikipédia mesmo. Você não precisa se tornar um especialista do assunto ou um grande cientista, apenas confira para ter certeza de que não está escrevendo algo muito bizarro.

Além disso, qual é a melhor forma de aprender se não enquanto você está fazendo algo que aprecia? Quer dizer, você vai pesquisar essa informação para usá-la. Então ela provavelmente vai ficar melhor fixada na sua mente, porque será aplicada logo em seguida. E você não vai se aborrecer ao estudar sobre o que quer que seja o assunto da sua obra, porque cada nova informação e curiosidade fará você pensar, "Ei, isso é legal! Eu posso usar na minha história!"

Eu fiz muito disso para o livro com o viking que mencionei (Uma História Bárbara, se quiser olhar no meu perfil). Nós situamos a história no Século I d. C., então tivemos que pesquisar sobre romanos, povos bárbaros, vikings, árabes, a geografia do mundo antigo, o cristianismo primitivo, que línguas eram faladas e que hábitos sociais se tinha naquela época. Nós encontramos um monte de fatos interessantes que eles não te contam na escola, por exemplo, que os romanos tinham medo de corujas, eles pensavam que as corujas traziam má sorte. 

Então, não seja preguiçoso: pesquise. Apenas aprenda a se divertir pesquisando. Desse jeito, você vai enriquecer muito a sua história. 

Ah, e mesmo que algum anacronismo escape na revisão, não pire. Sabe quem foi que deu um relógio para o Júlio César, como eu comentei acima? William Shakespeare! Na sua peça, bem, "Júlio César". Então se anime, você ainda tem esperança!

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