Prólogo

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Junho de 2007, há oito anos atrás

Minhas mãos tremiam enquanto eu tentava pela terceira vez digitar os números no telefone antigo. Respirei fundo antes recomeçar novamente rezando para que tudo o que eu havia ouvido de manhã no colégio tivesse sido apenas uma brincadeira de mau gosto dos meus colegas, ele não poderia ter ido embora... não quando eu mais precisava dele do meu lado, não quando a minha vida praticamente dependia de uma palavra dele.

O telefonema caiu na caixa postal pela centésima vez naquele dia, e o meu desespero em contra partida subiu para níveis astronômicos. Desisti do telefone e saí às presas em direção à porta, agarrando as chaves do portão pelo caminho. Meu avô chamou meu nome quando passei pela porta quase correndo, mas o ignorei.

A única coisa em que pensava era em encontra-lo, eu só precisava vê-lo e tudo ficaria bem, nós daríamos um jeito em tudo.

Quando cheguei em frente aos grandes portões da mansão dos Machado toquei o interfone e aguardei enquanto o segurança abria passagem. Ao passar notei o olhar enviesado que o homem me dirigiu, provavelmente se perguntando porque eu parecia tão afobada e ofegante. Ele me deixou passar; eu já havia estado naquela casa apenas algumas vezes, mas eu me lembrava de quando Afonso havia ordenado meu acesso livre.

Passei pela piscina e subi os degraus de acesso a porta de entrada, porém antes que eu subisse os últimos degraus as portas se abriram para revelar a sra. Machado em um vestido negro de alcinhas. 

- O que você quer?! - Ela indagou, sua voz estava carregada de desprezo e por um segundo fiquei sem reação.

A sra. Machado nunca havia sido a pessoa mais legal comigo naquela casa, mas também nunca havia me tratado com nada além da educação forçada e distante com a qual eu havia me acostumado vindo dela. Desdem e desprezo por outro lado era algo completamente diferente.

Superei a surpresa inicial pela reação da mulher e foquei-me no que realmente havia me trazido aquele lugar.

- Por favor, eu preciso falar com o Afonso - Falei em um arquejo.

- Ele foi embora, e não perca o seu tempo vindo aqui novamente, ele não vai voltar. Aliás, ele deixou bem claro que não quer mais saber de você. Agora me dê licença que eu tenho mais o que fazer! - E com isso ela fechou as portas pelas quais havia saído a menos de um minuto atrás com mais força do que o necessário.

Fiquei paralisada por algum tempo, tentando similar as palavras aos seus significados reais. Eu não tinha ouvido errado o que ela me dissera, mas era doloroso de mais para ser real.

Hoje de manhã quando fui à escola, me recusei a aceitar que os rumores de que Afonso Machado havia ido para outro estado por vontade própria para terminar os estudos e ingressar na faculdade fosse mais do que eram: apenas rumores. Mas a medida que o tempo passara e eu não recebia resposta o buraco em meu peito crescia a cada segundo, e quando todas as evidências de que eu havia sido abandonada não foram o suficiente, decidi dar minha cara à tapa e vim até aqui rezando para que aquilo não passasse de um pesadelo, apenas para ter a confirmação do que eu já sabia lá no fundo.

Eu estava sozinha, mas o problema nunca foi ficar sozinha, eu estava acostumada a isso desde a morte de meus pais e a indiferença de meu avô conservador e orgulhoso. A pior parte era saber que eu havia entregado por livre e espontânea vontade a oportunidade de alguém mais me machucar, me machucar de uma maneira a qual eu nunca havia sentido.

Quando o destino chamaOnde histórias criam vida. Descubra agora