Capítulo 3 - Advogado

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- Você precisa admitir que não foi tão ruim assim! - Disse Álvaro exasperado pela centésima vez ao tentar me convencer de que me diverti na noite passada.

- Tá bom, admito que foi bom, pelo menos é isso que posso afirmar do pouco que me lembro. - Concordei a contra gosto levando o copo de suco da mesa a frente aos lábios.

Tínhamos acabado nosso almoço e estávamos aproveitando os últimos minutos para jogar conversa fora antes de retornar ao escritório. Álvaro trabalhava na mesma empresa que eu, ele era o advogado trabalhista encarregado do RH e tinha um escritório no mesmo andar que o meu.

- Você é tão baixo astral Liz! - Disse ele mau humorado com minha falta de entusiasmo.

- Baixo astral eu fiquei essa manhã, tenho muito trabalho a fazer para me dar ao luxo de sair aos domingos. A reunião do conselho é daqui a um mês e meio e eu preciso mais do que nunca me dedicar para poder ser eleita presidente regional! - Respondi com seriedade, lembrando-o de meu maior objetivo no momento.

- Eu só estava tentando te ajudar a espairecer. - Respondeu ele em voz baixa tentando se redimir pela bagunça que criara ao me levar para aquele bar.

- Você precisa parar de tentar ajudar, porque só o que faz é me atrapalhar! -  Exclamei ríspida. Vi seus olhos se escurecerem de dor por minhas palavras rudes e me arrependi quase que de imediato. Eu não queria magoá-lo, mas pude ver que foi exatamente o que fiz.

Fiz menção de abrir a boca para me desculpar, mas não tive tempo antes dele me interromper ao dizer:

- Ah! Para com isso Liz! - Exclamou inclinando-se em minha direção e alcançando minhas mãos sobre a mesa em um gesto de carinho que me surpreendeu e abismou ao mesmo tempo. - Você não precisa usar essa máscara de megera do escritório comigo. Somos irmãos, então abaixa a guarda e se divirta um pouco, se dê a oportunidade de conhecer novas pessoas e não de afastar as que você já conhece. A cada ano que passa eu a vejo se matar para subir ao topo por mérito próprio, e não há nada de errado com isso. Mas me preocupa a possibilidade de que talvez você esteja se perdendo aos poucos para a megera que faz tanta questão de mostrar aos outros. Você é forte! Já provou isso para todos que duvidaram de você, não precisa mais ser assim Lizzy.

Fiquei espantada por um momento diante da intensidade de seu olhar e de suas palavras, e por um momento me senti envergonhada por agir com rigidez e indiferença diante de suas tentativas frustradas de me fazer ver a vida com um pouco mais de ânimo. Eu sabia que ao redor dele não precisava erguer os muros de meu coração, porque ele já havia destruído esses muros há muito tempo atrás. Éramos inseparáveis desde que desembarquei nessa cidade de pedra, gigante e hostil demais para uma menina criada na fazenda. Ele me ensinou a andar de metrô, fazer baldeações e a reconhecer os atalhos intermináveis que essa cidade oferecia. Ele sabia do meu passado e do quanto eu era determinada a não mostrar fraqueza. No fim das contas havíamos nos tornado uma família e eu sabia que de certa forma ele estava certo. Eu precisava dar um tempo do trabalho, não porque eu precisava ou queria, mas por que no fundo eu sentia que ele estava certo. Eu faria isso por mim e por ele.

Com essa decisão tomada sorri com afeto dando um aperto reconfortante em suas mãos. Era bom saber que não era necessário me proteger o tempo todo, que eu tinha alguém do meu lado capaz de tudo por mim. Ele era mais importante para mim do que eu poderia expressar em palavras, e tinha certeza de que ele também se sentia da mesma maneira em relação a mim.

- Me perdoa Alvy, eu sei que você quer me ver feliz e que se preocupa que eu um dia nunca ache essa felicidade! E por amor a você eu prometo que vou tirar um tempo para relaxar com você assim que for possível. - Disse enquanto levava a mão ao seu rosto em um gesto carinhoso.

Quando o destino chamaOnde histórias criam vida. Descubra agora