Capítulo 7 - Revolta

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Na vida, temos momentos em que nos damos conta de que o passado não é uma página virada. Sem influencia em nosso futuro apenas por já não mais nos encontrarmos em tais situações. E esses momentos eram como um despertar lento e contínuo, onde percebíamos que ainda faltava alguns parágrafos nos capítulos anteriores.

Eu me sentia daquela maneira, percebendo que na realidade meu passado estava mais vivo do que eu queria que estivesse. Ele estava vivo e mais forte do que nunca, na forma de um homem alto e altivo que me encarava com olhos negros profundos. Abismos escuros que me drenava a cada segundo que permanecíamos parados ali, com o passado ha pesar sobre nossos ombros.

Durante todos aqueles anos que passei sozinha em uma cidade distante e hostil, eu havia me convencido de que tudo o que senti por Afonso não poderia ter sido tão intenso quanto minhas memórias insistiam em afirmar. E agora, olhando para dentro daqueles olhos tempestuosos novamente eu sabia que havia mentido para mim mesma, em uma tentativa vã de preservar o pouco de sanidade que ele me deixou.

Abri a boca para dizer algo mas nada saiu, e por trás daquele véu de incredulidade e surpresa que havia se formado em mim, percebi o quanto ele estava diferente do rapaz alto e magro que havia conhecido aos dezesseis anos. Em todos os anos que secretamente imaginei como ele estaria, minha imaginação nunca teria chegado perto do que a realidade me mostrava.

Afonso estava mais velho, a barba por fazer negra que tomava conta de seu rosto apenas deixava isso mais evidente. Seus cabelos escuros como uma noite sem luar, que antes eram curtos e espetados em um corte rebelde, agora se revelavam longos e ondulados, penteados cuidadosamente para trás. Mas esses eram apenas detalhes em comparação a grande e profunda cicatriz que descia de sua testa e seguia abaixo do olho esquerdo. E por fim a bengala em sua mão esquerda, muito embora ele fosse jovem de mais para usá-la, lá estava ela. Seja lá o que tivesse acontecido com ele, com certeza havia feito um belo estrago...

- Sabe, é falta de educação ficar encarando. - Ele falou novamente, a voz cheia de um ar de divertimento. Então ele apontou com a mão livre a cicatriz.

A raiva tomou conta de mim, e antes que eu pudesse pensar no que estava fazendo, minha mão voou forte e pesada até seu rosto.  O estalo do tapa soou alto no restaurante vazio e senti a ardência tomar conta da palma de minha mão.

Percebi dois pares de olhos surpresos virarem em nossa direção atrás do balcão. Para minha surpresa, Afonso riu baixo e ameaçador levando a mão ao rosto.

- Fique longe de mim! - Sibilei lívida falando pela primeira vez.

- Acho que mereci isso, carneirinho. Mas por favor não faça novamente. - Disse ele, dessa vez sério e ameaçador. A indignação que senti foi tamanha que quase o estapeei novamente.

Soltei o ar pela boca lentamente e empinei o queiro, recusando-me a me a mostrar qualquer tipo de fraqueza diante dele.

- Não me chame assim! -  Disse entre dentes ao som do antigo apelido que um dia pensei ser carinhoso, mas que não passava de uma forma diferente zombar da estupida garota apaixonada que um dia fui por ele.

Seus olhos escuros me encararam semicerrados, parecendo ler através de minha fachada. A raiva que senti não era unicamente dirigida a ele. Eu estava com raiva de mim mesma por perceber o quanto ele ainda podia mexer comigo.

Afonso não fez menção de se mexer ou de sair do meu caminho, e não tive outra escolha a não ser dar a volta pela mesa em um marchar irritado em direção a saída. Ouvi seus passos cadenciados atrás de mim e pensei por um segundo que para uma pessoa que precisava do auxílio de uma bengala ele até que se locomovia com rapidez.

A dois passos da porta de meu carro ele me alcançou, sua mão direita agarrando meu braço com força.

- Me solta Afonso! - Grunhi me desvencilhando de seu aperto bruscamente. Tentei manter o pouco de civilidade que ainda me restava,m mas era tão difícil manter qualquer controle quando ele estava por perto.

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⏰ Última atualização: Aug 03, 2016 ⏰

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