Capítulo 5 - Colisão

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Respirei fundo e dei um passo a frente...

A casa estava escura, mas pude ver pela luz do entardecer que entrava pela porta aberta atrás de mim que pouca coisa havia mudado. Os móveis de anos atrás continuavam quase que inalterados pelo tempo. Meus pés nas sapatilhas silenciosas reconheceram o chão de madeira da sala enquanto caminhava entorpecida até o segundo andar, em direção ao meu antigo quarto. Eu não tinha ideia do que fazer ali a não ser repetir o caminho que tantas vezes fiz ao longo do tempo em que fui obrigada a morar com meu avô. Dentro das quatro paredes mofadas do quarto diminuto eu me sentia de certa forma segura; pois foi ali que passei sozinha boa parte do tempo que vivi sob as restrições antiquadas de Moacyr.

Empinei a cabeça levemente decidia a me livrar da sombra que o meu eu do passado lançava sobre mim desde a última segunda feira. Eu não precisava mais que Álvaro me lembrasse de quem eu realmente era pois o meu eu de agora estava no controle novamente. Uma casa vazia não seria suficiente para abater meu espírito e minha força de vontade, afinal de contas eu já havia passado por poucas e boa e sempre permaneci em pé. Inabalável.

No quarto os únicos móveis eram minha antiga cama e uma comoda de madeira maciça na parede em frente a cama, um pequeno abajur rosa era a única peça de decoração. Abri as janelas para deixar o ar fresco do campo entrar e purificar meus pulmões, já tão acostumados com o ar seco e poluído da cidade. Apesar de ter tido uma convivência difícil e turbulenta na casa com meu avô não pude negar o quanto gostava da sensação que o campo me trazia. Uma sensação doce de liberdade, mesmo nunca tendo vivido tal coisa na presença de Moacy Medeiros de Andrade, o poderoso e imponente fazendeiro que tratava dos negócios e da casa com mãos de ferro.

Deixei as chaves do carro sobre a comoda e abri minha mala sobre a cama de solteiro a procura de toalha e roupas limpas, coloquei minha jaqueta, os sapatos e o restante das roupas que vestia em cima da cama e me dirigi em direção ao banheiro no fim do corredor. Precisa urgentemente tomar um banho para revigorar a energia que gastei na estrada dirigindo horas a fio sem descanso.

Abri as portas de vidro do box e liguei a água, coloquei minha toalha sobre a pia do banheiro e selecionei uma das minhas músicas favoritas ao deixar o celular em um lugar seco dentro do box. Não demorou muito para que a voz forte e única da cantora P!nk permear o ar do banheiro ao som de U + Ur Hand. Senti a água quente aos poucos relaxar os músculos tensos de meu corpo enquanto minha mente ia a todo vapor com as novas informações que recebi sobre a herança, depois de ter ido ao escritório de Josias no centro da cidade para assinar os papéis.

Permanecer na casa durante um mês não foi a única discrepância descrita por meu avô para receber o dinheiro, eu também não poderia vender a fazenda dentro de um período de dois anos a partir dali. Não tinha ideia de como daria conta de cuidar e administrar uma propriedade tão grande com minha vida toda estabelecida a quase seiscentos quilômetros de distância. Ainda mais quando todo meu foco e energia se concentravam apenas e unicamente em subir profissionalmente no ramo executivo da selvagem grande São Paulo. Isso por si só já era mais que suficiente para uma vida inteira. Vir para essa cidade poderia se tornar um erro sem tamanho, mas agora que finalmente cheguei aqui teria um mês inteiro para descobrir como contornar a situação; ao menos agora eu teria direito sem restrições a outra parte da herança referente as aplicações, não seria o bastante para ter uma cadeira no grupo seleto de acionários majoritários, mas com certeza seria o suficiente para estar a um passo disso. Algo que nunca poderia ter imaginado alcançar com apenas 25 anos, eu só teria que ser paciente e esperar dois anos até poder colocar a fazenda a venda oficialmente.

Terminei de lavar os cabelos e desliguei o chuveiro quando senti o estômago protestar pelas horas sem uma refeição decente que passei de São Paulo até aqui. Precisava de algo para comer mas duvidada que dentro daquela casa pudesse haver qualquer coisa que me interessasse ou que não estivesse estragada desde a morte do antigo morador, além do mais eu não era o que se pode considerar boa ou menos razoável na cozinha. Sempre passei grande parte de meu tempo fora de casa, no passado a faculdade o estágio e as constantes responsabilidades que meu trabalho me duro gerou até hoje não me possibilitaram empenhar tempo para dotes culinários. Ou seja, não havia escolha a não ser sair e desbravar a cidade atrás de um bom lugar para comer.

Quando o destino chamaOnde histórias criam vida. Descubra agora