Assim que entro na sala deixo meus chinelos ao lado da porta e sinto o tapete macio sob meus pés. Está tudo escuro então Evan me pega pela mão e me arrasta até outro cômodo - seu quarto eu acho -, a arquitetura dos apartamentos é igual porém é como um espelho, engulo em seco e solto sua mão devagar e então ele acende a luz.
Me deparo com uma cama bagunçada, uma janela escancarada com cortinas cinzas mostrando as estrelas do céu e uma escrivaninha de madeira envernizada onde em cima dela está repleto de gizes de carvão e folhas de desenhos rabiscados que não deram certo, mas o que mais me surpreendeu foi a parede de seu quarto; coberta do teto ao chão, de um lado ao outro por folhas e mais folhas de desenhos, cada um mais lindo que o outro, desde paisagens de miséria e sofrimento até rostos com sorrisos e lagrimas ao mesmo tempo, todos cheio de emoção, em alguns havia manchas de gotas como se lagrimas tivessem caido sobre o desenho, ali está a fragilidade de Evan, é ali seu ponto fraco, quem ele é de verdade, parece ser pura dor."Nossa Evan..." levei a mão a boca assim que encontrei bem na frente da escrivaninha uma folha com o desenho de uma menina olhando para o céu sentada em um balanço.
"Antes de te conhecer tinha 3 desenhos nessa parede." Ele deu um sorriso tímido e se posicionou ao meu lado de frente para seu mural.
"Mas porque?" Perguntei sem conseguir desviar o olhar daquelas obras, fiquei maravilhada e ao mesmo tempo arrasada com a situação.
"Eu não sei, simplesmente acontece, você me trás uma inspiração inacreditável." Ele não tira os olhos de mim.
"Eu não imaginava..." meus olhos estavam cheios de lagrimas.
Todo o ocorrido desses últimos dias, principalmente o de hoje a tarde, inundaram minha mente, enquanto eu pensava em formas de me vingar dele, Evan passou o tempo todo pensando em mim, fazendo desenhos de mim e para mim, imagens dele desenhando invadiram minha mente, talvez ele estivesse chorando ou sorrindo.
Andei sendo tão egoísta desde o divórcio de meus pais que me isolei em um mundo onde todos são maus quando na verdade eu fui a única má na história, sinto as lágrimas quentes escorrerem pelo meu rosto e então a feição de Evan muda para preocupação."O que foi Alexia?" Ele me puxa pelos ombros e procura qualquer sinal que indique uma resposta em meu rosto.
"Eu sou uma pessoa horrível..." Respondi em meio à fungadas.
"Não Alexia você não é, sou eu que sempre trago problemas." Evan parecia desesperado em me fazer parar de chorar. "Você é ótima!"
"Evan, você não sabe o que eu fiz!" Rebati furiosa.
"Então me fala, Alexia me fala o que você fez!" Ele está me segurando pelos ombros com força agora e seus olhos estão cheios de lagrimas.
"Evan, eu..." Comecei baixinho.
"Que barulheira é essa?" perguntou uma voz feminina.
Assim que me viro para a porta uma mulher de cabelo castanho até os ombros usando um pijama de cetim azul e óculos está na soleira de braços cruzados e nos olhando curiosa.
"Aconteceu alguma coisa?" Ela entra no quarto e se aproxima de nós.
"Não mãe, está tudo bem." Evan responde enxugando as lágrimas.
"Evan Peters, são 23:10, você está chorando e tem uma garota que também está chorando no meio do seu quarto, que por sinal é na minha casa, você não pode achar que sou burra o bastante para acreditar que está tudo bem!" Sua posição é assustadora e seu olhar é dissecativo em contraponto sua aparência é meiga e seu rosto cansado.
"Ele só veio me mostrar os desenhos que fez e eu me emocionei, moro no 94 Sra. Peters, desculpa por te acordar." Digo, enxugo as lágrimas e me viro para Evan "Amanhã a gente conversa sobre isso."
"Eu te levo até a porta." Então ele segurou meu pulso, passou pela mãe sem hesitar e me arrastou pelo corredor até a sala. "Amanhã você vai me contar o que fez." sussurrou quando abriu a porta.
"Pode deixar..." respondi de cabeça baixa.
Evan se aproximou e me deu um beijo longo na testa e logo que me virei fechou a porta.
-•-
Assim que me deitei não consegui mais segurar as lágrimas, Evan ficou o tempo todo comigo na cabeça, tudo aquilo foi por minha causa e eu usei Ian pra esquecer ele, como pude ser tão baixa? Como vou contar isso pra ele e esperar que ele seja o mesmo de antes... Ou talvez ele entenda, saiba pelo o que estou passando e deixe passar, afinal não significou nada pra mim.
Adormeço imaginando as possíveis reações de Evan.Acordo com o som da campainha tocando, ainda desnorteada levanto da cama e vou até a sala, meu pai já saiu, assim que vejo Evan do outro lado do olho mágico desperto.
"Só um instante!" corro para o banheiro e me arrumo até estar apresentável.
Volto para sala, abro a porta e meneeio a cabeça para que ele sente no sofá.
"Você estava dormindo?" pergunta ele já sentado no sofá.
"Na verdade estava deitada." Respondi com o melhor sorriso que consegui.
Sentei no outro sofá, meu estômago está embrulhado e todas as palavras me fogem a mente.
"Desculpa, não queria obrigar você a se levantar." Evan parecia sem jeito, meio receoso.
"Tu-tudo bem." respondi.
"E então o que você ia me contar ontem?" perguntou direto com um sorriso simples no rosto, seu cabelo está bagunçado e quase na altura dos olhos, parecia cansado.
"Antes me fala o que aconteceu depois que fui embora." exigi.
"Nada demais; conversamos e ela foi durmir." respondeu,"Agora fala." pediu ansioso.
Evan parece bem, seus olhos estão brilhando, seu cabelo bagunçado e seus sorriso é tímido, fora as olheiras que dão um ar de cansado a sua linda face.
"Evan, na verdade é melhor deixar pra lá, foi bobeira minha." forcei um sorriso.
"Eu sabia! Viu, você é uma garota legal Alexia, não devia pensar daquele jeito." Evan parece ter acreditado na resposta. "Seu pai não está em casa?"
"Não, ele só volta a tarde." Respondi feliz por mudar de assunto.
"Por que?" Ele está mais relaxado agora, puxou uma das pernas para sentar sob ela.
"Ele da aula, ta substituindo um dos professores dele que ta afastado." sai do sofá e fui para a cozinha.
"Seu pai tem uma escola?" Ele saiu do sofá e veio sentar em uma das banquetas em frente à bancada.
"Mais ou menos, ele tem uma rede de academias, ele da aula de MMA." Assim que terminei de falar vi Evan engolir em seco.
"Uau, entendi, é claro que um cara daquele tamanho não iria dar aula de português." brincou.
"Por incrível que pareça ele só faz isso por que ama ensinar." me estiquei para pegar a chaleira "Quer chá?" perguntei.
"Quais são as opções?"
" Tem de framboesa, camomila, matte, maracujá e erva cidreira." respondi.
"Nossa, acho que framboesa." Evan me olha curioso enquanto preparo o chá.
Coloco a agua pra ferver e as xícaras em cima da bancada.
"O que pretende fazer nesta tarde minha cara dama?" Ele pergunta forçando uma voz de galanteador.
"Dormir muito é óbvio!" respondi rindo.
"Você não quer sair?"
"Pra onde?"
"Uma praça." afirmou Evan cruzando os braços no peito.
"Pode ser legal, talvez eu até tire a poeira dos meus patins." respondi, peguei as xicaras e me virei para colocar água.
"E eu pego meu skate."
-•-
Pouco tempo depois de Evan sair meu pai apareceu.
"Você ta bem filha?" Meu pai perguntou apoiado na bancada.
"To sim." Respondi encarando a TV.
"Parece distante."
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Meu Vizinho - HIATUS
FanfictionJá imaginou morar na frente do apartamento do Evan Peters sem a fama, holofotes ou qualquer paparazzi pra incomodar? Pois essa é a realidade de Alexia, uma garota de 17 anos que todos os dias ao sair de casa para ir ao colégio se depara com aquela...