Eduardo Flamel

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Boa leitura xX.

.oOo.

Eu me lembro como se fosse ontem. Até porque realmente foi ontem.

Eram oito da manhã do meu aniversário de 14 anos. Meu alarme toca e meus pais invadem o meu quarto.

Minha mãe abre as cortinas da varanda e meu pai se senta no local desocupado da cama de casal.

— Meu bebê já está tão grande. - Minha mãe fala enquanto tira uma lágrima imaginária de sua bochecha.

— Daqui a pouco vai ser o homem da casa. -Meu pai continua falando ao meu lado.

— Como se sente fazendo 14 anos?

— Velho... -Respondo um pouco grogue, tirando as cobertas do meu corpo e caminhando em direção ao banheiro. — Vocês... hm... vocês podem me dar licença?

— Claro meu amor, estamos esperando você lá embaixo, com seu café da manhã favorito.

Minha mãe cantarola da varanda, saindo dela e andando em direção a porta.

— Panquecas? -Pergunto ansioso.

— Panquecas ! -confirma sorrindo pra mim antes de fechar a porta e me deixar tomar banho em paz.

Vou em direção aos meus armários pois closet soa muito menininha procurando algo confortável para vestir de manhã e algo apresentável para vestir na festa que eu ia dar à tarde.

Entro no banheiro, me despindo completamente e entrando no box.

A água quente batia em meu corpo e meus pensamentos voavam longe. Escola, amigos, igreja, meus pais.

Meu pai.

A imagem do meu pai em chamas me invade a cabeça, gritando no meio de várias pessoas aterrorizadas.

Tombo pra frente, pondo uma mão na parede e outra no meu peito, tentando obter controle sob minha respiração acelerada. Afasto a imagem da minha cabeça, saindo do banheiro rapidamente com a toalha enrolada na cintura.

oOoOo

Depois de parar de pensar naquilo, os convidados já haviam chegado, havia musica alta, pessoas desafinadas cantando e principalmente comida, minha família adora uma boa festa, dizem ser o único momento em que todos os Flamels se juntam. Minha irmã de sete anos estava dançando junto com suas amigas de sala enquanto meu irmão aproveitava o livre acesso a cozinha para repetir milhões de vezes o prato de salgados.

O som para, e minha mãe chama todos para cantar os parabéns. Isso não era tão necessário, mas meus pais tinham insistido, por mim cortava o bolo logo e liberavam eles, para finalmente abrir os presentes, já como nossa família só abre presentes no fim da festa.

Fomos pra uma outra área do salão, onde tinha um bolo enorme. Do tipo, gigante, tinha pelo cinco andares circulares enormes, todos estavam recheados de cobertura de chocolate com uma calda avermelhada provavelmente cereja ou morango, estava enfeitado com guitarras, caveiras, meu nome, minha idade e no topo por tradição um lobo, é o animal de nossa família.

— Querido, o isqueiro. - Minha mãe chama meu pai, que começa a verificar os bolsos.

—Eu esqueci, já volto. - diz saindo em direção a cozinha e volta alguns segundos depois, com uma mini pistola nas mãos. Mamãe encara ele por alguns segundos e ele para de andar.

— O que ? Foi o único que eu achei! - a mesma revira os olhos mas aceita.

Começo a ficar um pouco tonto, e a cena do meu pai em chamas volta no meu consciente.

— Pai, me dá esse isqueiro.

— Deixa filho, eu posso fazer.

— Pai -repito - Larga isso.

Tento pegar o objeto de suas mãos, mas ele percebe, segurando o isqueiro com mais força, eu estava assustado, e em um momento de distração ele puxa a pistola com força, sem querer pondo fogo na sua camisa.

Ele estava pegando fogo, na minha frente.

Ele entrou em choque, assim como o resto da sala. O fogo continuava enquanto ele tentava apaga-lo desesperadamente com suas mãos, até o momento que meu irmão mais novo corre com um copo de coca apagando o fogo.

Olhei para minha mãe, mas a mesma não podia me consolar agora. Ela estava pedindo desculpas as pessoas da festa, provavelmente porque a festa se encerrara naquele exato momento.

Subi as escadas aos tropeços e tirei meu tênis e minha camisa social preta e comecei a chorar de conchinha com o travesseiro.

Meus pais começaram a bater na porta. Sabia que era eles pois nós tínhamos uma batida secreta feita por meu irmão, que adorava esse tipo de coisa.

— Eduardo, posso entrar? -Pergunta minha mãe, falando do outro lado da porta.

— Si... sim. - Respondo tirando as lágrimas das minhas bochechas e sentando em cima da cama. Minha mãe abriu a porta a sentou ao meu lado.

— Quer conversar sobre o que aconteceu? - Perguntou a morena sem parecer nervosa .

— Eu sabia! Eu vi meu pai queim...queimando ho...hoje mais cedo. - Respondi, entre soluços, mas isso em voz alta ficou mais estranho do que parecia em minha cabeça.

— Hm... Bem... Então você é vidente? - Falou minha mãe, querendo rir. Sinceramente, não sei como ela consegue manter o humor numa hora dessas.

— Me desculpe - disse ela, se repreendendo.

— Mas e quanto ao meu pai, como ele está?- Perguntei temendo saber que as coisas tivessem fugido do controle.

— Ah, aquele homem ali não iria cair por causa de um isqueiro. Lembre-se de quando nós estávamos jogando vôlei na praia e a bola bateu em um cachorro, e o cachorro saiu perseguindo seu pai por todo o litoral.
- Disse ela, me tirando uma gargalhada abafada.

— Ou quando ele pensou que era eletricista e levou um choque que deixou seu cabelo espetado e fiz um corte igual o dele, por solidariedade. - continuei a brincadeira.

— Você ficou tão fofinho - Disse minha mãe, me agarrando e nos fazendo cair na cama.

A brincadeira acabou quando a porta abre novamente, dessa vez era um homem velho com um livro em suas mãos, com um emblema de lobo na capa. O mesmo que estava em várias gavetas e portas trancadas que eu nunca consegui abrir dentro de casa.

— Feliz Aniversário, Lobinho - Disse meu avô, sorrindo, mas minha mãe não parecia estar muito confortável com a presença dele ali, e ele também percebeu isso.

— Bem, não quero atrapalhar o momento mãe e filho, então trouxe um presente para você. Esperava te dar mais tarde, porém com os acontecimentos, isso teve que ser adiado.- Disse o coroa, me entregando o livro.

Pela primeira vez, eu iria abrir alguma coisa que tinha aquele símbolo. Era quase um sonho, mas quando eu abri era um livro de horror. Na verdade, mais um deles. Desde criança meu avô me dá livros estranhos sobre bruxaria. Estranhamente já li todos eles várias vezes e nunca me canso.

— Filho, tenho uma coisa para te contar. -Minha mãe falou, séria, dando uma pausa para encontrar as palavras. — Você é um bruxo. - Continuou minha mãe, com seus olhos tristes cravados em mim.

Estava confuso. Ela provavelmente devia estar brincando.

— Como assim? - Falei saltando da cama. - Por acaso fui atacado por um maníaco sem nariz quando nasci e vou para uma escola de bruxaria também ? - Falei quase cuspindo as palavras relacionadas à aquilo ser sério.

— Não entendi a do maníaco sem nariz mas vamos amanhã comprar os materiais da sua nova escola. - Disse meu avô, sério.

Como podem levar isso à sério?

Meu último pensamento antes de cair de cabeça no travesseiro e tentar me afogar no edredom, foi: MINHA FAMÍLIA INTEIRA ESTÁ LOUCA.

Blood Witch - A caça as bruxas (Primeiro Livro)Onde histórias criam vida. Descubra agora