Garota Conhece um Huckleberry

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É óbvio.
Aqueles olhos verdes não me eram estranhos. De repente, senti que estava num lugar aconchegante, como se o tempo não tivesse passado e eu não tivesse crescido.
Mesmo com a sensação de ter 16 anos novamente, o Lucas que eu via a minha frente não era mais o mesmo. Agora, ele tinha uma barba rala ainda por fazer e aguentava oito segundos em cima de Tombstone.
O que ele teria feito nesses últimos anos? Será que conheceu alguém?
A sensação dentro de mim era a mais estranha possível. Eu o conhecia mas não sabia nada sobre ele... Isso é possível?
Eu queria disparar mil e uma perguntas, passar a noite em claro apenas decorando cada novo detalhe seu.
Eu me senti como aquela garota ingênua no metrô, já que nossos objetivos parecem ser os mesmos: conhecê-lo.
Me pergunto se ele ainda se lembra da carta, de Nova Iorque, de mim. É quase impossível acreditar que uma coincidência dessas acabara de nos acontecer.

—Eu posso te levar até seu hotel se quiser —ele interrompeu meus pensamentos —Acho que seus amigos estão esperando.

Senti um nó no estômago ao lembrar do que aconteceu há poucos minutos e deixei todas as lembranças melancólicas de lado. Cruzei os braços e falei, sem graça: —Não sei se quero voltar agora.

Ele deslizou a mão pelo meu braço, me acariciando. Era um gesto tão inocente que chegou a me fazer sorrir.

—Você está gelada.

—Meu casaco ficou no carro do Josh, não achei que fosse necessário. Íamos apenas jantar e anunciar... Que...

Seu olhar parecia me atravessar, como se ele fosse capaz de ler minha mente.
Já faz algum tempo desde que ninguém me olha nos olhos de maneira tão séria.

—Não precisa me contar se não quiser.

—Ah, sim! Desculpe. É complicado, entende? Admito que sinto até um pouco de vergonha —dei um sorriso murcho —Eu estou noiva, Lucas.

Ele recuou um pouco, como se alguma força magnética o puxasse para trás. Me assustei com o gesto mas não fiquei surpresa.

—Parabéns para os dois. Eu fico muito feliz por você, Maya —ele estendeu a mão, querendo me cumprimentar como se fosse um grande feito.

Isso está errado. Tive que digerir um gosto amargo que as palavras deixaram em minha boca. Aqui, neste lugar, com esta pessoa... As coisas parecem tão assustadoras.
Afastei a mão dele, ignorando seu cumprimento. O puxei para um abraço e ficamos por longos minutos assim, sem sabermos o que dizer ou como agir.

—Hahurr —sussurrei.

—É injusto, Hart —ele riu baixo, separando o abraço aos poucos —Eu não faço mais parte daquele nosso pequeno jogo.

Comecei a me sentir incomodada com o fato de que aquelas palavras doíam em algum lugar dentro de mim. Eu devia fazer o certo e voltar logo para o hotel.
Voltar logo para aquela vida programada e cheia de rotinas.
Voltar logo para a Maya monótona em que me transformei.

~
Continua?

Upside Down  »lucaya«Onde histórias criam vida. Descubra agora