Step desce pela rua que margeia o rio Tibre, ultrapassa em ziguezague dois ou três carros, depois engata a terceira e acelera. A polícia continua atrás dele. Se conseguir chegar à praça Trilussa está feito. Pode ver no espelho a viatura que se aproxima perigosamente. Dois carros à sua frente. Step reduz a velocidade e acelera logo em seguida. Terceira. A moto avança com um tranco. Passa por um triz entre os dois veículos. Um dos carros desvia, apavorado. O outro continua, imperturbável, no meio da rua. O idiota do motorista não se deu conta de nada. A polícia passa abrindo totalmente para a direita. As rodas se chocam ruidosamente contra o meio-fio. Step já pode ver a praça Trilussa diante dele. Reduz mais uma vez, fechando o carro de um imbecil. Dessa vez, o cara sonolento pisa no freio. Na altura do chafariz, Step desvia para o beco entre as duas ruas ao longo do Tibre. Depois, passa no meio das baixas pilastras de mármore. A Guarda Municipal freia violentamente para não bater nelas. A polícia não tem como passar. Step acelera. Conseguiu. Os dois policiais descem do carro. Só têm tempo de ver um casal de namorados e alguns rapazes que sobem apressados na estreita calçada abrindo caminho para aquele louco com a moto de faróis apagados. Step mantém a velocidade por mais algum tempo. Ele olha o retrovisor. Atrás dele tudo está em paz. Só alguns carros ao longe. O trânsito noturno. A perseguição acabou. Liga as luzes. Só falta ser parado por causa disso.
*
Cláudio abre a geladeira e toma um copo de água.
Raffaella segue em frente, rumo aos quartos. Antes de dormir sempre dá um beijo de boa noite nas ilhas, em parte por hábito, em parte para se certificar de que estão em casa. Essa noite nem devem ter saído. Mas nunca se sabe. Melhor controlar. Entra n o quarto de Daniela. Caminha sem fazer barulho, com todo o cuidado para não tropeçar no tapete. Apóia a mão na mesinha-de-cabeceira. Encosta a outra na parede. Se inclina para a frente devagar e roça os lábios no rosto dela. Está dormindo. Raffaella se afasta na ponta dos pés. Fecha a porta. Daniela se vira lentamente até ficar apoiada no cotovelo. Agora é que o bicho vai pegar. Raffaella baixa silenciosamente a maçaneta e abre a porta de Babi. Pallina está na cama. Vê o facho de luz vindo do corredor que vai se desenhando devagar na parede, aumentando. Seu coração começa a bater mais rápido. E se agora eles descobrem, o que é que eu vou contar? Pallina continua imóvel, virada para a parede tentando não respirar. Ouve o barulho de colares. Deve ser a mãe de Babi. Raffaella se aproxima da cama, inclina-se lentamente para a frente. Pallina reconhece o perfume. É ela mesma. Segura a respiração e então percebe os lábios beijando seu rosto. É o beijo delicado e afetuoso de uma mãe. É verdade. As mães são todas iguais. Preocupadas e bondosas. Mas será que as filhas também são idênticas? Assim espera. Raffaella ajeita a colcha, cobre-a cuidadosamente com o lençol. Depois, pára de repente. Pallina ica imóvel, esperando. Será que desconfiou de alguma coisa? Percebeu que não era Babi que estava ali deitada? Ouve um leve rangido. Raffaella curvou-se. Pode ouvir a respiração morna dela muito perto, perto demais. Então, ouve os passos ligeiros que se afastam pelo tapete. A fraca luz do corredor desaparece. Silêncio. Pallina se vira lentamente para a frente. A porta está fechada. Já passou. Pode respirar aliviada. Debruça-se da cama. Por que a mãe de Babi se curvou? Por que ela fez aquilo? Os seus olhos acostumados com a escuridão logo encontram a resposta na penumbra do quarto. Aos pés da cama, perfeitamente juntas, estão as pantufas de Babi. Raffaella colocou-as no devido lugar, em perfeita ordem. Prontas para acolher na manhã seguinte os pés da ilha ainda quentes de sono. Pallina fica imaginando se a mãe dela também faria uma coisa dessas. Não, nem pensaria nisso. Houve noites em que ficou à espera de um beijo. Esperou em vão. A mãe e o pai voltaram tarde. Ouviu-os conversar, passar diante do seu quarto e seguir em frente. Depois, o estalido. A porta do quarto deles que se fechava. E, com ela, as esperanças de Pallina que se esvaeciam. Pois é, são duas mães diferentes. Sente estranhos arrepios por todo o corpo. Não, mesmo assim não gostaria de ter Raffaella como mãe.
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Três metros acima do céu
RomanceA paixão do mais improvável dos casais, Babi, uma patricinha de Roma, e Step, um motoqueiro bad boy, é a trama de 'Três Metros Acima do Céu'. Para viver o primeiro amor com toda sua intensidade, os protagonistas tentam se modificar, enquanto enfrent...