Samantha achava aquela cara, como ela costumava dizer, totalmente estranho, literalmente se for contar o fato que ela mal conhece ele. Mas por alguma razão ela não parava de pensar nele, o quanto ele era atrapalhado quando tinha que explicar algo e como inventava desculpas péssimas, mas era interessante de um certo ponto de vista, tinha um corpo definido, e era muito bonito, porém não era isso que o tornava interessante para ela, havia algo...mas ela não sabia o que. Fazia anos que ela não pensava assim de alguém, que não pensava com tantos detalhes como estava pensando agora...como os olhos extremamente cativantes e chamativos, o sorriso que ela não retribui por ficar atordoada por aquilo ou a barba por fazer que ficava de certo modo, sexy para ele.
* * *
Acordo já são 10 horas, levanto, escovo os dentes, arrumo meu cabelo, troco de roupa e vou para a cozinha. Olho na geladeira e o presunto e queijo acabaram, o pão também, aproveito pra ver se o chá tinha acabado também, e sim tinha acabado...eu realmente não vivo sem chá, quem em plena consciência prefere café do que chá?
Tranco a porta e vou em direção ao mercado, vou andando distraidamente olhando pro chão quando vejo os pés de uma pessoa e olho pra frente...era o cara..quer dizer, agora que já sei o nome dele..era o Samuel."Olá..", me cumprimenta com um sorriso, caramba se ele soubesse o quão bonito é o sorriso dele...
"Oi.", falo com um leve sorriso, não sou muito de sorrir ou dar risada..tenho 26 anos mas pareço uma velha rabugenta de 93.
"Você..vai aonde?", me pergunta com receio, parece que ele tem medo ou sei lá, acha que vou xingar ele.
"Vou no mercado...", aponto pra direção.
"Ah..eu tenho que ir pra lá também, sabe como é né...morar sozinho, ter que se virar pra não morrer de fome.", fala com um ar de riso e com as mãos no bolso.
"Sim...sei como é...", respondo, e por alguns instante fico apenas o observando.
"Bom, posso te acompanhar então? Claro se...pra você estiver tudo bem...", pergunta apostando com a mão pra mim.
"Okay, pode...", falo o encarando e percebo que ele estava me encarando também, logo desvio o olhar e começo a andar, ele vem logo ao meu lado.
* * *
Sabe nos filmes quando você vê aquela cena do casal se encarando e você sente uma leve vergonha alheia...era exatamente assim que eu me senti quando vi que ele também estava me encarando, só que no caso, não era vergonha alheia. Maldita troca de olhares, a não ser que ele de alguma forma estivesse a fim de mim e...não, sem possibilidades, não posso estar a fim dele.
* * *
Ele não sabia, porém, o que estava acontecendo com ele, era simplesmente que estava começando a nutrir sentimentos por Samantha...quando estava conversando com ela era todo atrapalhado e media as palavras com receio que ela saísse simplesmente andando e deixasse ele falando sozinho. Ambos estavam começando a nutrir sentimentos um pelo outro. No momento que ele viu que ela também o encarava, pode perceber os detalhes de seu rosto que nas duas vezes em que se encontraram não tinha percebido. Tinha olhos exatamente castanhos, bochechas rosadas não sabia se era o natural ou por vergonha, leves sardas por cima do nariz e lábios avermelhados e carnudos...do ponto de vista dele, eram bem convidativos.
* * *
O caminho de volta foi sem muita conversa, por mais que estivesse silêncio entre nós, não era constrangedor, era bom.
"De onde você é?", a encaro, e ela continua olhando pra frente.
"Naturalmente do Brasil, mas meus pais se mudaram pra cá quando eu tinha 7 anos...", me responde e vira o rosto.
"E seus pais? Moram aqui ainda?", arrumo o saco de compras nos braços.
"Não, eles morreram...3 anos depois que estávamos aqui...depois, passei a morar com uma tia, que já não mora mais aqui. Quando tinha tinha 22 resolvi morar sozinha, ter meu próprio canto sabe...enfim.", da um sorriso forçado.
"Ah...sinto muito...nossa, que droga...", olho pra frente e depois pra ela que está me olhando também.
"É...me fala de você...qual sua história?", pergunta e continua me encarando.
"Bom, sai da casa dos meus pais quando tinha 25, tenho 34 agora, sou professor de literatura e inglês...não é nada que eu ame, foi o que tinha e eu precisava de dinheiro...", desvio o olhar.
"Olha só, um professor, de todas a profissões a de professor é sem duvidas, a que eu não iria pensar, quem diria.", fala com ironia.
"Nunca julgue um livro pela capa!"falo a fingindo indignado e ela ri.
"Okay, okay...você está certo, continue...", olha para frente dessa vez.
"A uns meses atrás descobri que tenho osteossarcoma, não sei se já ouviu falar, é um tipo de câncer que afeta os ossos, me deram um ano...sabe, nunca fui de pensar no futuro...quando se descobre que tem um maldito câncer, você pensa que quer viver uma vida inteira, conhecer quem realmente ama, casar, ter filhos e várias outras coisas...ter um objetivo, mas é privado disso. Quero viver o máximo enquanto ainda me é permitido...fazer tudo que eu sempre quis...", falo a olhando, ela presta total atenção em cada palavra dita e no final sorri.
"Você vai estar livre amanhã?", pergunta e para de andar.
"Vou sim...", paro também.
"Conheço um lugar que é incrível...quer ir comigo?", fala com ar de riso.
"Uhum...quer dizer, claro...é, sim." falo atrapalhado, e ela ri.
"Não é um encontro, digamos que uma saída de amigos"
"Já comecei a pensar que você queria se aproveitar de mim..." falo a encarando e ela dá uma leve risada.
"Okay então, até amanhã Sam...", começa a andar pra trás.
"Até amanhã Sam..." respondo, dou um breve sorriso e ando em direção a minha casa.
- g a b y -
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'Sam&Sam' [hiatus]
RomanceEle tem mais 365 dias de vida. Ela tem a vida toda pela frente, mas não sabia o que fazer. Ele queria fazer o máximo de coisas possíveis, viver intensamente e acima de tudo, ser feliz. Ela teve toda a sua felicidade arrancada de si, quando seus pais...