Capítulo 1

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Eu deveria estar em minha cama neste momento se não fosse pela minha mãe que me acordou as 9:00 da manhã insistindo para que eu me arrumasse imediatamente para irmos ao mercado. Após eu dizer pela milésima vez que estava muito cedo para levantar em um domingo fui vencida pela teimosia dela que era ainda maior que a minha.

Levei uns 20 minutos para me arrumar com esperança de que ela desistisse de me levar o que obviamente não ocorreu, então aqui estou, no corredor de frios procurando o maldito Yorgute que insisti em se esconder.

Vejo a geladeira de bebidas e vou em sua direção, avisto meu yorgute preferido na última fileira de baixo para cima, nem foi necessário levantar minhas mãos para perceber que não havia a mínima possibilidade de eu conseguir alcança-lo.

Fico frustrada quando vejo que meu último dia antes das aulas voltarem começou horrível, tem sido péssimo desde que acordei.

Olho para os lados buscando alguém que possa me ajudar, vejo uma senhora que aparenta estar procurando algo. Sou apaixonada por tudo que possa colecionar idade isso inclui idosos, museus e galerias, então sem êxito vou até onde ela se encontra.

- Bom dia, está tudo bem?
Ela me olha e sorri gentilmente.
- Oh! Bom dia, esta sim.
-Okay. - digo me virando e voltando a encarar a geladeira.
- Espere anjo. - me viro para lhe olhar - Estou procurando meu neto que disse que vinha pegar uma bebida e sumiu, me deixando sozinha.
- Garotos!. - digo - quer ajuda?
- Claro. E então como é seu nome?
- Katherine e o da senhora?
- Clara.

Ela se prende em meu braço e começamos a caminhar pelos corredores enquanto conduzo seu carrinho e olho o preço dos produtos.
Após alguns minutos vejo minha mãe no corredor de doces.

- Vou ali um segundo já volto.
- Tá bom querida.

Caminho em direção a minha mãe. Assim que ela me vê começa a rir e isso me deixa irritada.

- Qual a graça?
- Eu realmente não deveria ter trazido você. Me deixou aqui a uns 15 minutos dizendo que ia pegar seu Yorgute e voltou sem ele.
- Olha ele está no alto okay? E eu estou ajudando uma senhora a fazer suas compras, o neto dela a deixou sozinha.
- Você e sua paixão por coisas velhas Kate.
- Não diz isso. - começo a rir; - parece que tenho um tipo de fetiche estranho.
- Já disse a ela que pretende prende-la em um potinho?
- Para mãe! - digo tentando prender o riso.
- Tá, vai la antes que ela descubra!
- Te vejo no caixa com meu Yorgute.

Volto para Clara que está analisando um pacote de bolacha.

Sorrio quando a vejo fazendo isso, a minha paixão por idosos talvez seja porque eles parecem tão indefesos e ao mesmo tempo tão seguros de si, pois eles já passaram por tantas coisas que é como se eles fossem blindados a qualquer coisa que vá machuca-los.
Estou perdida em pensamentos quando ouço a voz doce de Clara:

- É sua mãe?
- Sim.
- Parecem se dar muito bem, coisa muito rara nos dias de hoje.
- Somos como melhores amigas, brigamos as vezes mais sempre nos entendemos afinal é mãe, né?
- Claro!

Então ela direciona seu olhar para além de mim, me fazendo girar e ver o que ela olhava.
Vejo um garoto vindo em nossa direção, ele aparenta ter uns 18 anos, cabelo castanho e olhos verdes.

- Aquele é meu neto! - ela me diz sorrindo.
- Desculpa me perdi na fila da confeitaria. - diz ele se aproximando.
- Essa é Katherine - Clara diz apontando para mim; - Katherine esse é Miguel.
Sorrio em resposta.
O rapaz me encara.
- Vamos? - Pergunta Miguel direcionando seu olhar à Clara.
- Bom, foi um prazer te conhecer Kate.

Suspiro e me viro voltando para a geladeira de frios. Assim que me aproximo da mesma sinto a presença de alguém atrás de mim, me viro lentamente e vejo Miguel apoiado em uma das prateleiras me encarando ao longe. Sorrio e não tenho nenhuma retribuição, vou até ele.

- Está tudo bem? - questiono.
- Minha avó me mandou aqui, disse que eu não fui educado!
- Oh, tudo bem.
- Eu não vim te pedir desculpas!
O encaro incrédula.
- Então veio fazer o que aqui? - digo friamente.
- Parece precisar de ajuda. - diz me lançando um olhar superior.
- Na verdade não. - fecho a cara. - Tchau.

Me dirijo bruscamente em direção a geladeira e o sinto segurar no meu braço imediatamente, olho para trás e sinto calafrios pelo corpo assim que meus olhos encontram os dele. Meu estômago se remexe e sinto que a qualquer momento posso cair, como se minhas pernas não aguentassem o peso do meu corpo.
Ele abre a boca para dizer algo mais a fecha e então a abre novamente:

- Você está ali em frente aquela geladeira a um bom tempo e deixa eu te contar uma coisa. O seu destilado não vai cair nas suas mãos apenas porque o encara. - ele desvia seu olhar para a geladeira. - deixa eu te ajudar!
Penso um pouco e digo:
- Okay, mas só porque eu quero muito o yorgute.
Começo a rir e ele me acompanha até a geladeira.
- Tudo bem, todos temos nossos momentos ruins por isso não vou levar tão a sério essa sua cara amarrada - digo.
Ele revira os olhos, me entrega o Yorgute e começa a andar.
Vou em direção ao caixa e vejo Dona Clara a poucos metros dali esperando o neto ao lado da porta de saída. Vejo minha mãe em um dos caixas, vou até ela que sorri quando me vê.
- Conseguiu alcançar, tá evoluindo amor. - diz rindo.
- Não começa. - digo virando meus olhos e rindo.
- Tenha um bom dia Dona Júlia. - cumprimenta o moço do caixa em direção a minha mãe que o retribui com um sorriso educado.
Assim que saímos do mercado e vamos em direção ao estacionamento começo a gargalhar alto e minha mãe me olha confusa.
- Sério? - questiono ainda rindo. - Você não percebeu?
- Percebi o quê?
- Todo domingo você vem aqui e ele sempre te cumprimenta sorrindo.
- Ele só é simpático Kate.
- Mãe, estávamos nós duas lá, ele só falou com você. - levanto as sobrancelhas com um sorriso de canto. - Quanta inocência dona Júlia.
- Você que vê segundas intenções em tudo.

Chegamos em casa e descarrego as compras do carro, após guardarmos tudo vou em direção a sala, me deito no sofá, ligo a televisão em um filme qualquer e adormeço.
Acordei com minha minha mãe me chamando para almoçar.

Há alguns anos meu pai deixou eu e minha mãe, se mudou para uma cidade qualquer e se casou novamente, ele manda cartas de vez em quando, as quais eu nem me dou ao trabalho de ler. Desde que ele se foi com a desculpa de que não aguentava mais a comodidade de ter uma família, eu chamo de Responsabilidade, somos apenas eu e minha mãe então somos muito próximas. Ela trabalha em uma imobiliária e eu com meus 17 anos estou no último ano da escola. Tenho uma vida confortável e posso dizer que sou muito feliz assim.

Após o almoço ajudo a arrumar a louça e vou para meu quarto onde dou uma pequena organizada.

A noite mamãe faz strogonoff, e assim que jantamos sentamos na sala assistir seriados como fazemos toda segunda e quarta.

Amanhã é meu primeiro dia no último ano então como estudo de manhã subo para o meu quarto e arrumo meus materiais escolares, me direciono até o banheiro onde tomo um banho quente e visto um moletom, caindo na cama de sono. Não demora muita para minha mente viajar em sonhos.

Dias com EleOnde histórias criam vida. Descubra agora