Capítulo 2

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   Sou acordada pelo despertador ao lado da cama. O quarto está um pouco escuro ainda, quando olho no relógio ele marca 6:00 da manhã.
    Cubro minha cabeça e bufo sentindo meus olhos pesados de sono.
    Ouço uma batida na porta e olho em direção a ela, me sento na cama e fixo meus olhos em minha mãe que posiciona sua cabeça dentro do quarto.

     - Bom dia. - diz sorridente.
     - Quanta animação. - digo sarcasticamente.
     - Pra que o mau humor?
     - São 6:00 da manhã mãe - digo me levantando e indo até o guarda roupa - Não me sinto a pessoa mais feliz do mundo nesse horário.
    - Vou preparar o café. - diz se retirando da porta.

    Assim que minha mãe sai deixo minha roupa na cama e vou até a penteadeira, pego meu celular e ando até o banheiro.

    De Bfvaca:

   Não ouse entrar sem mim vaca.

    Para Bfvaca:

    Esta com tanta saudade assim?!

     De Bfvaca:

    Não quero encarar o terceiro ano sozinha e você sempre tem comida.

     Para Bfvaca:

    Não se atrase se não nada de torta pra você.

    Conheço Cristina desde à infância, ela mora a duas quadras da minha casa e quase sempre dorme aqui. Minha mãe é amiga da mãe dela então crescemos juntas. Devo dizer que a odiava quando era mais nova, ela era tão perfeita que me irritava, todo mundo gostava dela mesmo ela querendo mandar em tudo. Sua beleza sempre chamou atenção, seus cabelos são negros assim como seus olhos. Tem a pele lisa e um corpo invejável resultado da sua frequente presença na academia. Nos aproximamos depois que comecei a sair com Matt, seu vizinho, eu vivia indo na casa dele e quando ele estava ocupado demais com seus amigos fugia para casa da Cris, lá conversávamos sobre como alguns garotos eram extremamente idiotas. Um tempo depois percebi que Matt era um desses garotos. Desde então, apesar de nossas diferenças, não nos afastamos mais.

    Tomei um banho e coloquei minha calça jeans apressadamente, voltei ao banheiro para escovar os dentes e pentear o cabelo, desço as escadas passando meus braços pela blusa cinza entorno do meu pescoço.
     Chego na cozinha e me sento ao lado da minha mãe com uma xícara de chá em mãos, olho o relógio acima da geladeira e ele marca 7:10.
     Eu e Cris comentamos com minha mãe que o último ano da escola é o mais importante porque define tudo a nossa volta.
    Eu sempre quis fazer medicina, no entanto, ano passado me apaixonei por astronomia e atualmente não sei ao certo o que escolher, não quero ir pra muito longe e nem arriscar não ter amigos. 

    - Vai dá tudo certo. -diz minha mãe sorrindo.
    - É só o último ano. - digo sorrindo. - Tenho que ter as melhores lembranças dele.
     - Cristina já te ligou?
     - Sim, ela quer torta.
     - Vou pegar enquanto você termina de se arrumar. - disse levantando e pegando minha xícara. - Não quer se atrasar né?
    
     Levanto e subo as escadas correndo em direção ao meu quarto, pego minha bolsa pendendo no meu ombro e vou escovar os dentes. Passo batom e perfume enquanto verifico meu cabelo.
     Saio do quarto indo até a sala e calçando meu tênis, pego as duas bandejas de torta das mãos da minha mãe e saio em direção ao carro.
     Deixo minha bolsa no banco de trás e ligo o som, segurando firmemente as bandejas. Sempre levo algo pra comer com Cris, virou como um ritual e eu até gosto de termos algo só nosso.
     Minha escola fica a alguns minutos da minha casa e não demora para minha mãe parar no estacionamento. Assim que ela desliga o carro solto um suspiro e me viro pra ela buscando algum apoio.
  
     - Boa sorte. - solta um sorriso em minha direção. - Você vai mandar bem.
     - É hora de ter o melhor ano da minha vida. - digo rindo. 

     Desço do carro pegando minha bolsa no banco de trás enquanto equilibro as bandejas na mão e procuro por rostos conhecidos ao meu redor.
     Olho para frente, observando a correria de alunos a minha volta, as rodas sociais ainda são as mesmas, as pessoas continuam ali, os novatos andam perdidos em meio multidão e me lembram de quando cheguei aqui totalmente extasiada com a magia do ensino médio.  Antes de descobrir os rótulos, distúrbios e preconceitos que envolvem essa etapa.
     Sigo em direção a escadaria cumprimentando algumas pessoas e acenando para outras.  Vejo Cris conversando com os meninos do time e reviro os olhos sabendo que Matt está lá.
     Me aproximo lentamente enquanto observo eles rirem e brincarem entre eles, não consigo imaginar como será daqui a alguns meses. Paro ao lado de Cris e sorrio.
    Assim que nota minha presença ela voa em cima de mim me abraçando.
  
    - Você sabe que esteve comigo no fim de semana, não é? - digo empurrando um pouco seu corpo.
   - Para de ser chata. É o último ano. Você vai querer lembra disso. - diz sorrindo e pegando uma das bandejas da minha mão.
    - Torta de limão. 
    - Já te disse que te amo hoje?
 
   Rio do comentário e me aproximo da roda de garotos a nossa frente tentando me inteirar do assunto que como sempre era sobre as calouras.
    Matt me olha enquanto ouve os comentários e eu retribuo o olhar sabendo exatamente o que significa.
     Me afasto do grupo e Matt vem logo atrás de mim, ficando ao meu lado. Paro em um dos degraus e olho para ele esperando que ele inicie a conversa.
     Ele me olha parecendo a procura de algo e então solta um longo sorriso. Seu cabelo loiro está uma total bagunça deixando  evidente seu atraso, seus olhos estão ainda mais azuis que o céu da manhã e o uniforme do time lhe cai muito bem.
    Ele respira suavemente enquanto olha as pessoas passarem por nós.
 
   - Não acredito que isso vai acabar. - diz finalmente.
    - Achei que não gostasse da escola.
    - E não gosto. - respondeu me olhando - eu só não estou pronto  pra tudo que vem depois desse ano.
     - Faculdade?
     - Responsabilidade. - começa a andar em direção a arquibancada. - Você vem?
    
     Vou até ele pensando em sua resposta e tentando compreender cada palavra. Andamos por mais um tempo até sentar no alto da arquibancada.
     Olhamos ao longe os atletas da escola se exercitando. O primeiro sinal toca, eu não me mexo e ele também não.

     - Como foram suas férias? - questiona sem me olhar.
     - Tediosas e as suas?
     - Tive alguns jogos e fui para casa do Carlos.
     - O tio mais legal. - digo rindo.
     - Ele perguntou de você. - desvia o olhar do meu. - Sentimos sua falta.
      - Matt.., eu.. sinto sua falta mais não posso simplesmente esquecer o que ouve.
     - Eu era um idiota Kate, eu só quero te mostrar que mudei. - pega na minha mão. - Eu preciso de você.
     - Acho melhor eu ir pra sala. - me levanto. - Até mais tarde Matt.

      Saio andando em direção a entrada do corredor, respirando profundamente enquanto sinto meu corpo todo pesar.
     
      Matt e eu nos conhecemos em uma dessas festas de colegial, eu estava no nono ano prestes a me formar, uma amiga do primeiro ano, que estudava com Matt me convidou. Ele era o capitão do time, as garotas se derretiam por ele, assim que o vi percebi que possuía uma grande beleza era o típico garoto popular. Me esbarrei nele e após um pedido de desculpas da minha parte ele apenas sorriu. Conversamos a noite toda, ele me parecia um bom rapaz, então aceitei o seu convite pra me levar pra casa. Quando fui me despedir dentro do carro, nos beijamos e naquele momento senti que o ensino médio seria incrível. Nos encontramos mais algumas vezes até ele me pedir em namoro. Estava tudo sendo perfeito. Eu era a garota do primeiro ano que namorava o capitão do time e o garoto mais bonito da escola. Até eu descobrir nas férias de verão do ano passado que Matt me traia com uma das meninas da sala dele, terminamos em julho após uma longa discussão onde ele confirmou tudo me dizendo apenas desculpe.
     Perdoei ele no final do ano passado, voltamos a nos falar mas hoje foi a primeira vez que ele retomou o assunto e eu não sei como reagir ou o que fazer. Ele era o amor da minha vida, o cara certo, a pessoa perfeita pra mim.
    Parte de mim precisa dele, quer voltar e acreditar nele mas a outra tem medo de não aguentar mais uma traição, não quero estragar essa amizade que temos agora.
     É o último ano não sei o que vai acontecer quando chegar dezembro e eu ter que dizer adeus.

    
   

    
    
   

    

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