Quatro:

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Louis procurava por dinheiro nos bolsos de suas calças sujas. Sua situação não estava boa.

Ele precisava de grana pra comprar leite para o Bacon, porém a desorganização do local não o ajudava.

A casa estava completamente bagunçada, e sua sala de paredes amarelas mostarda e sua cozinha com bancadas azuis pareciam destoar do resto do lugar.

Suspirou, não sabendo qual reação devia ter diante disso.

Andou até o sofá xadrez, onde bacon descansava. Pegou o gatinho e acariciou suas orelhas, rindo quando seu olho azul se fechava e o verde ficava aberto.

O animal, subitamente, se virou pedindo carinho na barriga, e foi quando Louis notou que seu pelo naquela região era azul. Seu antigo dono havia colorido os pelos do gato? Mais uma vez, Louis só conseguiu pensar em quem seria o dono dele. Com certeza alguém bem estranho.

O que estava pensando? Louis é a pessoa mais estranha que conhece, e ele está falando de si mesmo.

Se virou, e seu olhar caiu nas cuecas que estavam no chão.

Começou a pensar em aonde, como, e por que Bacon rouba esse tipo de coisa, então foi como se uma lâmpada se ascendesse em cima de sua cabeça.

Ele teve uma ideia genial: deixaria a janela aberta para Bacon à noite, e quando o gato saísse, ele o seguiria.

  Sim! Ele tem certeza que vai dar certo. Absoluta.

  Enquanto esperava a noite cair, tentou limpar sua casa. Tentou de verdade, mas no final acabou sentado no chão, encarando a bagunça que havia criado.

   Viu em cima da lareira queimada devido a um incêndio de meses atrás, um porta retrato quebrado. Louis não faz ideia de como tenha partido, ou por que continua ali, mas não moveu um músculo para mudá-lo.

   Deve ser por isso que a vida de Louis vem sendo tão insatisfatória, ele não move um músculo para melhorar ela. Não move um músculo para procurar um emprego melhor e sair dessa crise interna, ou para se desculpar com a sua Tia Peggy pela briga do Natal, ou até mesmo para tirar o pão mofado do armário.

  Enquanto refletia sobre isso, nem percebeu que o sol já ia embora, e as estrelas já começavam a dar as caras.  

  Subiu até o seu quarto, tomou banho gelado pois a água quente havia acabado e estava com preguiça de ir mexer na bomba da casa. Esperou até ficar mais tarde, e decidiu que era hora.

  Abriu uma janela, foi até o sofá e fingiu que ia dormir, assim Bacon pensaria que a barra estava limpa.

  Viu entre os olhos meio fechados o gatinho se aproximado devagar da sacada, e pulando em seguida.

   Louis não tardou em pegar um casaco e pular junto, seguindo o gato pela vizinhança. O felino andava na calçada como se fosse gente, despreocupado com o mundo ao redor.

  Enquanto olhava o gatinho, percebeu que ele direcionava seus passos à casa de Dona Anne. Louis se sentiu arrepiar, pensando em como uma mulher maluca como aquela poderia gostar de animais.

   O felino subiu no batente de uma da janelas. enquanto Louis ia atrás, olhou para a janela da sala: lá estava Anne, assistindo o que parecia ser uma novela, enquanto secava seu cabelo com uma toalha verde. Assim ela até parece normal.

   Viu Bacon bater arranhar com a
pata em uma das janelas que estava com a luz acessa, e depois de algumas investidas, alguém a abriu, pegando o gatinho e a fechando.

   Louis, confuso, andou até lá. Viu um garoto. Tinha cabelos bagunçados e grandes, usava um pijama xadrez, e tinha uma escova de dente presa nos lábios. Ele acariciava, brincava e ria com o gatinho. Louis só faltava ter um ponto de interrogação na testa.

   Não sabia o que fazer. Bater na janela e questionar não era uma opção, e ir em embora sem o gato definitivamente não era outra. Foi assim que se sentou no chão, logo embaixo da janela, e esperou o gato ir.

Esperou.

Esperou.

Um pouco mais;

E adormeceu.

  Acordou com o susto de algo caindo em si, e acabou soltando um chiado. Era o gato pulando da janela.

   Após gritar, tampou a boca arrependido.

— Quem está aí? — Perguntou alguém da janela, muito provavelmente o homem do pijama xadrez. — Ei, eu consigo te ver.

  Louis congelou, e aos poucos olhou para cima: olhos verdes o encaravam, completamente perdidos e talvez assustados, mas definitivamente eram bem bonitos.

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⏰ Última atualização: Nov 04, 2016 ⏰

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Lost Cat. (L.S)Onde histórias criam vida. Descubra agora