A porta da sala da delegacia se abre e Pedro me encara com um sorriso aliviado.
- Você teve sorte, garoto. Só não se esqueça que ainda há muito pra investigar - diz o delegado pondo a cabeça para o lado de fora da sala.
Pedro assente e ele fecha com força a porta.
- E ai? Como foi lá dentro? - Pergunto enquanto Pedro vem em minha direção com o rosto pálido.
- Foi a pior sensação da minha vida!
Como havíamos combinado, fomos a delegacia para contar a versão de Pedro da história, pois caso contrário poderia ser ainda mais difícil provar sua inocência.
- O que o delegado disse? Você é inocente? - Estou angustiada com o seu silêncio.
- Cala a boca, Ammy. Você faz muitas perguntas - ele bufa assanhando meus cabelos.
Inacreditável. Dou um tapa em seu ombro. Por isso, ele bufa, mas, ao me encarar, acaba caindo na risada.
No caminho à casa de Pedro, ele faz suspense para me contar o que acontecera naquela maldita sala de delegacia e eu juro que eu insisto bastante.
- Ok. É sério que você vai ficar me enrolando? - Pergunto ao entrarmos em sua casa.
Vejo Pedro se jogar no sofá e tirar seus sapatos. Deito, colocando minha cabeça em seu colo.
- Miguel me acusou de ter ajudado ele, sido seu cúmplice. Esse idiota disse que eu sabia do que ele iria fazer e até que eu queria que ela morresse tanto quanto ele queria - explica, indignado com tudo aquilo.
- Isso é a cara dele - reviro os olhos. - Mas por quê não te prederam?
- Porque não haviam provas que levassem até mim e é estranho, mas a mãe da Júlia me defendeu em seu depoimento. Ao que parece, ela sabia que Miguel estava perseguindo a Júlia. Talvez ela soubesse quem eram as pessoas que andavam com Miguel. Não sei.
Eu o encaro ainda sem entender toda essa história.
- Isso já é suficiente, não é? - Eu queria que ele dissesse que sim.
- Não é - suspira, - mas eles tiveram acesso as minhas conversas com Miguel, testemunhos de pessoas conhecidas, de vizinhos e isso ajudou bastante. Porém, eu ainda estou sob investigação. Não posso nem pensar em fazer uma viagem ou algo assim.
- Eu espero que isso termine logo - digo em um suspiro.
- Eu também.
Ele solta um suspiro longo e vira o rosto ao perceber que eu o encaro.
- Ei cara, vai ficar tudo bem. Olha para mim - ele me olha com os olhos marejados. -Vamos sair dessa juntos, ok?
Ele me abraça e dessa vez eu não resmungo, não me afasto, apenas o abraço também, pois sei o quanto ele precisa disso.
Volto para casa quando já é noite. Estou bastante pensativa e preocupada com Pedro. Miguel é uma pessoa cruel e capaz de fazer de tudo para se vingar. Digo a Pedro que está tudo bem e que nós vamos ficar seguros, mas eu sei que isso não é verdade.
Eu não sei o porquê da mãe de Júlia defender Pedro em seu depoimento, mas definitivamente eu não ligo para isso. O importante é que ele está bem e o perigo agora não é a polícia, mas sim o causador de tudo isso: Miguel.
Giro a marceneta da porta e encontro Vic sentada no sofá lendo uma revista. Entro sem dizer nada e caminho para a cozinha.
- Olá - ela diz, mas não a respondo.
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A garota da casa ao lado
DuchoweEra um dia cinza. Cortinas de chuva fechadas ao redor da menina e seu pai. Quando a tosse parou, não restou nada senão o nada da vida. Aqueles olhos azuis fitavam o chão. Um último suspiro deixou seus lábios. Ela o perdeu. Seria mesmo uma assass...