O Inverso do Perfeito {l.s}

V. Gostar

-Como você está? - Zayn perguntou, assim que o amigo sentou-se num café que havia no meio termo entre as residências de ambos. Liam estava inseparavelmente ao lado do mestre, quieto, com uma garrafa de água nas mãos e um croissant meio comido, logo à frente, apoiado na mesa de madeira. Puppets não podiam ingerir diversos tipos de alimentos e o Kim seguia isso muito a sério, sempre tomando cuidado para que o sistema do menino não sofresse alterações; cuidava muito bem de seus pertences.

-Eu não sei... - Respondeu Harry, com o chocolate quente em mãos, acompanhado de um semblante cansado, de quem não tinha uma boa noite de sono há um bom tempo... O que era verdade, em vários níveis. Primeiro porque parou de dormir com Louis, depois pelo acidente que ele havia sofrido e agora... -Ele tem crises de idas e vindas de queda de sistema. Às vezes ele é exatamente o que eu paguei para ter: prestativo, sorridente, obediente e carinhoso, mas outras...

-Outras o quê? - O moreno segurou a mão do mais alto, como se lhe transmitisse alguma força, já que sabia não existir nenhuma chance de ele mandar o boneco para a manutenção, depois de ter descoberto o que fariam.

-Ele se torna uma espécie de criança... Não tanto nas atitudes, mas na forma como parece confuso sobre ele mesmo. Tem crises de raiva ou de choro, diz que sente muita dor sempre que ouve um pedido meu e não quer cumprir. Vive falando que se sente perdido sempre que olha pra mim e não consegue saber o que eu estou sentindo. Chegou a falar que parece que arrancam uma parte dele quando o sistema não funciona e ele deixa de me sentir. - Relatou o que havia acontecido na última semana, desde que o Puppet acordara em sua casa, depois de ter levado uma pancada na nuca, em cima da placa que controlava seu Sistema Nervoso Central...

Aquela pequena peça que o fazia não ser um ser humano.

- Quer ajuda com isso, Hazza? - O Styles apertou discretamente a mão do melhor amigo, sabendo que apesar de seu jeito superior, ele estaria ali para ele, por quanto tempo precisasse. Sempre pôde contar com Zayn Malik, mesmo quando o mesmo deixava claro que a decisão de Harry estava errada. Era aquele tipo de pessoa que lhe apoiaria, independentemente da situação; como era o caso naquele momento.

-Acho que eu tenho que tentar lidar com isso sozinho, Zy. Você me disse mais de uma vez para manda-lo de volta, e que eu tenho direito a garantia... Eu quis ficar com ele, então, acho que o mínimo que posso fazer é tentar lidar com isso agora. - Informou, num tom cansado. -Eu não me importo que ele esteja com essas crises de idas e vindas, mas eu me importo que ele pareça estar sofrendo com isso. Odeio pensar que ele está sentindo dor por minha causa, porque eu não consegui protege-lo como ele tentou me proteger...

Zayn inclinou-se para frente, passando uma das mãos nos fios castanhos do mais alto, com um sorriso compreensivo nos lábios. Do jeito que o Styles era, dificilmente conseguiria convencê-lo de que não fora culpado do que havia acontecido, então, tentava deixar claro que estava ali para ele, no que precisasse.

-Bem, eu preciso ir... Não quero deixa-lo muito tempo sozinho. Tchau, Zy. - Um sorriso acompanhou as palavras do mais alto, que pegou o próprio chocolate quente, antes de dirigir-se à saída. Já havia atravessado as portas de vidro quando sentiu uma mão lhe pegar pelo pulso, como se quisesse chamar sua atenção.

Virou-se, dando de cara com Liam, que o encarava com aqueles olhos enormes, parecendo ligeiramente envergonhado.

-Ele vai estabilizar. - Disse, ainda segurando o pulso de Harry. -Só dê um tempo para ele. Ele vai estabilizar, ou para o lado sistemático ou para o lado 'humano'. A placa dele está tentando fazer o reparo por si só, e é por isso que ele está sentindo dor e tendo essas crises, mas vai passar. - O garoto tomou fôlego novamente, como se estivesse contanto um segredo para o maior. -Só... Tenha paciência com ele. As coisas vão melhorar. Não o jogue fora, por favor. Ele pode ser um bom Puppet mesmo se o sistema não se regenerar, você só precisa ensiná-lo. Dê uma chance, por favor. - Percebendo que havia falado demais, Liam soltou o braço do Park em seguida, virando-se para distanciar-se do maior, enfiando-se dentro da cafeteria na qual seu dono o esperava, sentado tranquilamente em uma das cadeiras, flertando descaradamente com uma das garçonetes.