VII. Subentendido

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Fora apenas um beijo trocado.

Nada além disso. Nem foi grande coisa, porque as línguas mal se tocaram antes de Louis se afastar de Harry, com o rosto extremamente vermelho e um desconforto meio palpável. Harry não tentou insistir, apesar de uma vontade gritante ter quase se apossado dele, afinal, o que podia esperar de um menino que tinha menos de um ano de idade, se fosse pensar criticamente?

Havia uma grande diferença entre o Puppet Louis e o menino Louis. Um deles fora criado para conseguir satisfazer seu dono em todas as possíveis vontades que ele pudesse ter e o outro era apenas um garoto, absurdamente inocente em mil coisas, que estava passando por um momento extremamente difícil e que sem uma intervenção de dados e fios, tinha bem pouca noção de vida. E Harry não se importava, nem um pouco para falar a verdade. Ele gostava desse outro lado do pequeno ser humano, o que não impedia de realmente ter vontade de intensificar aquele toque que nem bem começara e já fora separado.

No entanto, quando a manhã nasceu e a vida foi obrigada a continuar, haviam outras preocupações, mais urgentes, na cabeça de Harry. Zayn havia aparentemente desaparecido do mapa, não atendia suas ligações e havia faltado das aulas na faculdade, o que por si só era um comportamento muito estranho de sua parte, que apesar dos pesares sempre fora uma pessoa muito pontual e comprometida com tudo que fizesse, sem contar que nos quase vinte anos de amizade com o Malik, ele nunca havia deixado de atende-lo, nem uma vez que fosse.

Passou os dedos pelos cabelos cor de areia do pequeno que dormia enrolado nos cobertores da cama. Se preocupava com o fato de ele passar tanto tempo dormindo desde o assalto, mas não havia o que fazer, o corpo dele estava sempre exausto e achava melhor que continuasse dormindo e se recuperasse logo. Ele abriu os olhos de gato, parecendo extremamente manhoso e sonolento, enquanto uma de suas mãos automaticamente segurava o pulso de Harry, levando-a até lábios, beijando os nós de cada um dos dedos, como se o convencesse a deixa-lo na cama "mais cinco minutinhos". Ele morria de vergonha de dar um beijo, mas fazia com uma naturalidade quase perturbadora coisas como aquela... Íntimas, como se estivessem juntos há uma eternidade. O Styles ainda se lembrava de quanto tempo demorou até que ele fizesse coisas assim.

Seu ex-namorado sempre fora do conceito terrivelmente escroto de "dá o cú, mas não dá intimidade", ou seja, teve noites tórridas de sexo com ele antes que pudesse ter qualquer contato que fosse com seu coração. Antes de saber qual era sua cor preferida, já conhecia todos os seus pontos erógenos. Antes de saber que gostava mais de cachorros do que de gatos, soube reconhecer as vontades implícitas em cada gemido dele e antes de receber um "eu te amo", já morava com ele há mais de dois meses.

Com Louis era o contrário. Ele beijava seus dedos antes de beijar sua boca, entendia seus tons de voz antes de descobrir seu corpo e abria seu coração antes de abrir suas pernas. Não era ruim, era diferente, mas do fundo do coração de Harry, agora, com aquele tempo de convivência e uma maturidade que não possuía quando o comprou, o que mais queria era que ele fosse diferente de seu ex. Queria enterrar o passado, não porque não o amasse mais (afinal, era impossível deixar de amar uma pessoa que morreu, sem nunca ter feito nada para destruir aquele sentimento), mas porque o amava demais e precisava dar uma chance a si mesmo, de viver de novo, de recomeçar de onde parou, de viver além dele, porque acreditava que era isso que ele iria querer.

E era o que Louis merecia, porque se aquele menino gostava de si como dizia gostar, tinha de abrir o próprio coração para se dar uma chance de gostar dele da mesma forma e não se apegar a qualquer passado.

—Eu vou até a casa do Zayn. Quer ir comigo ou ficar aqui? — O pequeno o olhou com os olhos meio fechadinhos, com as pálpebras pesadas, pensativo.

O Inverso do Perfeito {l.s}Onde histórias criam vida. Descubra agora