Corro.
Corro o mais rápido possível.
Corro desesperadamente.-Audrey! Audrey!- ouço alguém me chamar, mas não olho para trás. Não quero olhar para trás. Não posso olhar para trás.
Continuo correndo até me ver perdida em uma floresta fria e escura naquela noite de outubro. Galhos balançam com o vento úmido, pássaros cantam desesperados e a lua escurece. Ouço passos dentre as árvores. Estão mais próximos e rápidos a cada segundo. Me vejo desesperada. Tento correr.Sinto um toque frio e avassalador. Alguém me puxa e só vejo a escuridão.
Acordo em um lugar claro e aconchegante, como se fosse meu lar, mas sei que essa não é a minha casa.
...Acordo assustada, minhas mãos estão cobertas de suor e meu pulso vibra. Já é o segundo sonho só nessa semana, estão cada vez mais frequentes. Olho para o relógio no meu criado mudo, são três horas da manhã. Resolvo ir ao banheiro. Lavo meu rosto, me olho no espelho e vejo que minha pele está assustadoramente mais branca que o normal, prendo meus cabelos negros em um rabo de cavalo e volto para a minha cama, logo adormeço ainda pensando naquele toque frio e sombrio.
-Audrey, vamos acorde!- ouço minha mãe chamar, abro os olhos e espero ela falar algo. Espero uma explicação plausível para me acordar tão cedo nas férias.- Vamos, você vai chegar atrasada no primeiro dia de aula!
- O quê? Não acredito!- Digo, levantando da cama em um pulo.- Porque não me falou que hoje começavam as aulas?
-Drey, eu avisei. Avisei ontem, antes de ontem, semana passada...
-Tá, entendi!- interrompo minha mãe. - Você poderia ter me acordado pelo menos mais cedo né, Dona Giulia?
- Você precisa aprender a ter responsabilidade -minha mãe fala com o cenho franzido, me entregando a minha mochila-, você já tem 17 anos!
-o.k, mãe, vou ser a pessoa mais responsável do mundo!- digo passando por ela, indo de encontro ao guarda-roupas.Minha mãe sai do quarto murmurando algo que não entendi.
Depois de escolher uma calça qualquer e uma blusa branca com meu tênis, prendo meus cabelos, pego uma maçã e vou andando para a escola. Não era muito longe, umas duas quadras e chegava à minha "amada" escola. Sempre estudei na mesma escola desde os 10 anos, então como resultado fiz dois melhores amigos em todos esses anos frequentando a escola mais conhecida da cidade, "por possuir as garotas mais gostosas e os caras mais populares", palavras de Rebecca e Matheus,meus dois melhores amigos.
Ao chegar na sala de aula, avisto uma garota de cabelos incrivelmente cacheados e que possui uma pele negra muito bonita e um garoto magro e esguio de cabelos ruivos sentados no canto da sala. Me dirijo até eles com o mais aberto dos sorrisos que é retribuido em questão de segundos.
-Informações sobre novatos gostosos?- Falo com Rebecca já me acomodando na cadeira ao lado da sua, e olho para Matheus, que revira os olhos. Solto uma pequena risada por seu comportamento .- Oi pra você também, Theus.
- Nenhuma ainda, mas vejo que acabou de chegar um, e é bem gatinho.- Ela fala voltando seu olhar para a porta com um sorriso malicioso.
Me viro em direção à entrada e acabo me deparando com a visão de um garoto loiro com olhos assustadoramente azuis. Seu olhar encontra o meu e meu coração para, logo desvio meu olhar para o chão.-Drey.- A voz de Matheus chama minha atenção-, você viu a nova biblioteca que abriu na sua rua?
Matheus era louco por livros, assim como eu. Nossa amizade começou assim, falando sobre livros. Já Rebecca só queria saber de filmes e seus diretores.
-Ah, vi sim. Podemos passar lá mais tarde.
-Sim, estou precisando de livros novos.
-Posso ir também? -Rebecca pergunta com voz de tédio.- Não tô muito afim de ficar em casa sem fazer nada.
-Claro que pode -Matheus responde, e logo percebo que estou encarando o novato de olhos azuis misteriosos-, não sei por que você ainda pergunta.
Ele olha para mim também.
Só que dessa vez, percebi algo diferente, seus olhos estavam com um tom de amarelo e um brilho estranho.O que é isso?Não. Só podia ser coisa da minha cabeça.
Ele fecha os olhos e quando os abre, estão novamente azuis.
Sim, só podia ser coisa da minha cabeça. Estou ficando louca.O professor logo chega e dá inicio às aulas. Depois das apresentações que sempre acontecem no primeiro dia de aula, descubro que o nome do garoto misterioso é Calisto, tem 17 anos e veio de outra cidade, que ele não citou o nome por algum motivo.
A hora do intervalo bate, saio da sala de aula com Rebecca e Matheus e vamos direto à cantina
-Drey, pode guardar meu lugar na fila?- Matheus pergunta para mim, e eu assinto.
Enquanto espero Matheus voltar de algum lugar, vejo o novato misterioso rodeado de meninas, mas ele parece não gostar muito, mexe em sua jaqueta de segundo em segundo e solta risos forçados. Percebo que ele fazia de tudo para não ser grosso com as garotas, mas isso é quase impossível.-Audrey!- O garoto de cabelos ruivos me tira de meus pensamentos e observações.
-Sim?
-É a sua vez na fila- Fala com um tom irônico como se soubesse quem eu estava observando.
-Ah, sim.
Compramos nosso lanche e seguimos em direção à mesa que ocupamos desde o primeiro ano do ensino médio.- O novato tá fazendo sucesso.- Matheus fala com um tom de deboche.
-Ele é muito gato! -Rebecca fala em meio a suspiros-Será que ele me dá bola?
-Não sei, não, Rebecca. Ele parece não estar gostando muito daquelas garotas, viu?! SERÁ QUE ELE É GAY? - Grito a última frase me assustando com o que eu mesma falei, e percebo que foi alto demais. Algumas pessoas estão olhando para mim e entre elas está Calisto, que está com um sorriso de lado na boca. Será que ele escutou? sinto minhas bochechas queimarem imediatamente.
-Audrey! Fala baixo! - Rebecca me repreende.
O intervalo acaba e subimos de volta à sala de aula. Calisto me lança alguns olhares durante a aula,como se estivesse me analisando e eu finjo não notar. As aulas acabam e volto para casa.
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CALIBER- Cidade Sombria
Teen FictionAudrey se vê confusa quando um garoto misterioso entra em sua vida. Ela sabe que há algo estranho nesse garoto, mas não sabe exatamente o quê. Algo nele a atraí de um jeito intenso, nunca na vida ela sentiu algo assim por alguém, era como se eles fo...