Capítulo 8:

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O homem que andava de

rastros

O sr. Sherlock Holmes foi sempre de opinião que eu devia publicar os

estranhos fatos relacionados com o professor Presbury, com o objetivo de

destruir de uma vez por todas os boatos que, há uns vinte anos atrás, agitaram

a universidade e repercutiram nos círculos científicos de Londres. Havia,

contudo, alguns obstáculos no caminho, e a autêntica história desse curioso

caso permaneceu encerrada na caixa de estanho que contém tantos relatos de

aventuras do meu amigo. Agora, finalmente, obtivemos permissão para ventilar

os fatos que constituíram um dos últimos casos de que Holmes se incumbiu

antes de deixar suas atividades. Mas, mesmo agora, têm de se manter certas

reticências e certa discrição ao se expor o caso diante do público.

Numa tarde de domingo, no princípio de novembro do ano de 1903, recebi

mais uma das lacônicas mensagens de Holmes:

"Venha imediatamente, se não for incômodo; se for, venha da mesma forma.

S. H."

As relações entre nós, naqueles últimos tempos, eram muito especiais. Ele

era um homem de hábitos restritos e concentrados, e eu me tornara um desses

hábitos. Na qualidade de instituição, eu era como o violino, o tabaco forte, o

velho cachimbo preto, os livros de índice, e outras tantas coisas talvez menos

desculpáveis. Quando se tratava de um caso de trabalho ativo e se precisava

de um companheiro com cujos nervos ele podia contar, eu entrava

inevitavelmente em cena. Mas afora isso, eu tinha os meus préstimos. Era o

atiçador do seu intelecto. Estimulava o detetive. Ele se comprazia em pensar

alto na minha presença. A rigor, não se podia dizer que as suas observações

fossem feitas para mim (dir-se-ia que muitas delas eram antes endereçadas à

cabeceira da sua cama), mas, sem dúvida, uma vez adquirido o hábito, tornarase

de certo modo proveitoso eu intervir com os meus comentários. Se eu o

irritava com uma certa morosidade sistemática do meu modo de pensar, essa

irritação até servia para fazer com que as suas próprias intuições e impressões,

de si já tão brilhantes, cintilassem ainda com mais vivacidade e rapidez. Era

esse o meu modesto papel na nossa aliança.

Ao chegar à Baker Street, encontrei-o encolhido na sua cadeira de braços,

com os joelhos erguidos, o cachimbo na boca e um largo sulco na fronte

cismadora. Era evidente que algum angustioso problema lhe atazanava o

espírito. Com um aceno de mão, indicou a minha velha cadeira de braços, mas,

exceto isso, durante meia hora não deu qualquer indício de ter notado a minha

presença ali. Então, com um estremecimento do corpo, pareceu despertar do

Os Últimos Casos De Sherlock HolmesOnde histórias criam vida. Descubra agora