Capítulo 3 - Lara aventureira

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Manuela

"Olá, mamãe... Estou enviando essa mensagem para te dizer que te amo muito!!! Pode trabalhar em paz, estamos muito bem aqui, sozinhas... Lara e eu estamos terminando de organizar a bagunça. Bem... mãe, agora preciso ir, pois sua amadíssima neta está me chamando. Te amamos, obrigada por tudo!"

Como o tempo passa, na verdade ele escorre entre nossos dedos, já faz três meses que tudo aconteceu e fui naquela casa, e por incrível que pareça não sinto mais tanto sua falta. Assim que saí de lá fui na casa de uma vizinha e pedi para que me avisasse caso alguma correspondência, ou até mesmo alguma pessoa chegasse lá. Dei a ela meus contatos e meu novo endereço. Coloco o celular sobre a mesinha no centro da sala e vou até minha pequena, que grita incansavelmente.

— Diga menina e pare de gritar, estava mandando mensagem para a sua avó... — Digo, enquanto me encosto no batente da porta.

— Mamãe!! Não gostei desse quarto, é muito feio e pequeno. Gostava mais da nossa casa, mamãe. Não quero morar aqui. — Lara diz cabisbaixa.

— Mas aqui é a nossa nova casa, agora. Aliás, a casa da sua avô, teremos que ir atrás do nosso novo lar, que tal segunda-feira de manhã?

— Sim, mamãe... Mas...

— Mas, o quê?

Continuo observando a Lara ajeitar suas coisas e penso no quanto ela cresceu, evoluiu e por consequência de tudo o que aconteceu, ela amadureceu.

Durante as semanas em que não fui trabalhar, eu me dedicava inteiramente a ela. Ensinando-a falar corretamente, íamos mais ao parque brincar, dormíamos juntas e quando podíamos viajávamos para o litoral. O que ela adorava!

Lara pediu muito para que fôssemos morar no litoral, de preferência em Ilhabela. Mas, quando dona Fernanda, minha mãe, soube quase surtou. Íamos muito para lá quando queríamos descansar e ter um momento só nosso, e claro, muita das vezes mamãe nos acompanhava. Não gostamos de praias muito agitadas e lá parecia ser o paraíso. O nosso paraíso particular.

Só que nem sempre as coisas são do jeito em que a gente quer ou imaginávamos, sempre gostei de morar com minha mãe, mas depois de ser casada e ter tido a minha casa e minha rotina, parece que tudo parou em vez de seguir em frente, retrocedeu na verdade.

— Mamãe, quero enfeitar o quarto de borboletas e também colocar uma nota musical beeeeeeeeeeeeeeeeeem bonita... Nada de princesas... — Lara era apaixonada por música, e recentemente estava fazendo aula de canto. Minha bebê, já não era mais tão bebê assim.

— Ok, Lara... Como você desejar, mas imaginei que você quisesse o seu quarto cor-de-rosa e com muitas barbies...

— Mãe, já não sou mais bebê!

— Ok, bonequinha... Agora termina de arrumar essa bagunça e vamos tomar banho. Por hoje já deu, né? Mamãe está muito cansada e precisa dormir, afinal, amanhã sairemos com a tia Milka.

— Ebaaaaaaaaaa!!! Titia Milka é muito legal, ela me contou que quer arrumar um namorado pra você... — ela continua retirando alguns livros da estante e colocando na caixa para doação. Sempre li para Lara, e quando ela aprendeu a ler, meu Deus! Estava pior que eu, tinha diversos gibis e livros para crianças, um em especial foi eu quem deu: A festa no céu. Clássico para as crianças.

— Mas, por que ela te disse isso filha? — pergunto, caminho até ela e começo a ajeitar os livros que estão dentro da caixa. Sempre a ensinei que deveríamos compartilhar, doar conhecimento e os livros de uma certa forma, para aquela idade, traziam aprendizado para as crianças e amanhã bem cedo levaríamos as caixas para um orfanato.

— Ué! Ela disse que você tá muito rabugenta.

— Dona Lara, o que você andou falando pra ela? — Já tinha uma noção do porquê a Milka teria falado isso, mas não imaginava que a minha tão amada filha toparia em querer me ver com outro.

Lara tampa a boca com as duas mãos e sai correndo em direção ao banheiro.

— Mocinha!!!!!!!!!! — Digo como se estivesse repreendendo, mas é só fachada. Não teria o por que eu brigar com ela, só porque ela contou um segredinho ou bem dizendo... um fato.

Entro no banheiro e ela já está pronta para o banho, pego seu shampoo e condicionador, sabonete líquido e suas coisas, e entro no box junto com ela, mas não me molhando.

Ligo o chuveiro e deixo a água cair sobre ela, Lara dá alguns gritinhos de alegria e bate palmas, como se estivesse comemorando algo.

Tinha muita sorte mesmo, além de ser mãe solteira, minha filha adorava tomar banho. Enquanto eu lavo seu lindo cabelo, ela se ensaboa cantarolando sem parar.

Após tomarmos nosso banho, porque Lara não se contentou em tomar sozinha, acabou que ela me molhou e eu entrei na brincadeira. Lara foi tomar seu Nescau, e depois fomos direto para cama nos deitar.

Estávamos vestidas em nossos pijamas idênticos e conversando. Já disse alguma vez em como Lara me surpreende? Apesar da pouca idade, ela as vezes me deixa em apuros.

— Mamãe, por que eu não tenho um irmãozinho ou irmãzinha?

— Porque papai e eu decidimos que teríamos somente uma filha, e você foi a sortuda. — Decidi por enquanto não dizer nada a ela, sobre que um tempo atrás eu estive esperando um bebê. Acho que seria informação demais para ela.

— Tive muita sorte assim?

— Ahh, claro que teve. Você venceu uma corrida e tem a melhor mamãe de todas, não é mesmo?

— Venci, foi? E como é essa corrida? Tem muitos bebês participando? Porque nunca vi um bebê correndo? Mamãe...

— Você não acha que já está na hora de ir dormir, mocinha?

— Quero saber e depois eu durmo.

— Já que é assim... Então eu vou dormir, já que não obtive uma certa resposta também... — Digo me virando, ficando face a face com ela.

— Obtive? Que isso, mamãe?

— Sim, bebê. Obtive, é quando tenho algo, no caso teria de você. Mas não ganhei a resposta que queria. Como por exemplo... Eu disse: que era a melhor mãe, e fiz uma pergunta: não é mesmo? E não ganhei uma resposta sua. — Fiz voz de manhosa nas últimas palavras.

— Mamãe, não sei se isso é complicado mesmo, ou você se enrolou pra explicar... Mas sei que quero muito um irmãozinho ou irmãzinha.

— Uhum, sei... E por que a princesa quer irmãos?

— Não disse irmãos, só quero um. E posso escolher qual eu quero?

— Não filha, quando o papai planta a semente na mamãe não sabemos se é menina ou menino.

— Hum... E só o papai pode plantar essa sementinha?

— Eita, Lara aventureira... Resolveu que hoje é dia das perguntas? Já chega... Prometo que amanhã respondo tudo. Agora ninar... — Digo nos cobrindo, dando um beijinho na pontinha do seu nariz e em sua testa, passo o meu braço ao redor do seu pequeno corpo.

— Boa Noite, mamãe....

— Boa Noite, filha... Te amo!

— Te amo muito... — Ela diz passando os bracinhos ao redor do meu pescoço, se aconchegando mais.

Meu despertar [[Degustação]]Onde histórias criam vida. Descubra agora