Capítulo 1 - Eles se foram

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Manuela

Posso dizer que tenho tudo o que quero e sou muito feliz com isso, mas não imaginava que isso poderia acontecer, bem nesse momento em que mais precisaríamos estar unidos.

Sempre soube que casamento requer muito de nós, não só apenas de uma pessoa, mas sim das duas. Casamento é amor, confiança, companheirismo, cumplicidade, fidelidade, união, responsabilidade e muita responsabilidade.

Semana passada passei muito mal e não queria atrapalhar ninguém com um enjoo qualquer, bem... eu pensava que fosse um enjoo qualquer, ledo engano!

Fiz três testes para que não houvesse dúvida nenhuma, e sim: Positivo.

Minha alegria foi tanta que resolvi ir ao médico imediatamente, o mesmo médico que me acompanhou em toda a gestação da Lara, e foi confirmada a minha segunda gestação. Guardei esse segredo de todos, e falaria hoje na hora do jantar, pois todas as sextas-feiras jantávamos juntos. Tanto minha família, no caso, apenas minha mãe, como a de Edson.

Minha química com Edson, foi estilo amor à primeira vista.

Nos encontramos pela primeira vez, na "nossa" caminhada matinal no parque central da nossa cidade, não imaginava encontrar o amor da minha vida de "qualquer" jeito, bem dizendo... Não sou de se jogar fora, mas naquele dia eu estava... Como poderia dizer, um desastre!

Lembranças modo ON:

Continuo minha caminhada pelo parque, após ser alvo de um cachorro super-ultra-mega-power grande, um pinscher. Sim, morro de medo de cachorros. Desde pequena que sou assim, não consigo ter uma relação amigável com nenhum tipo de cachorro, nenhum mesmo!

Paro para beber um pouco de água e um moço muito bonito e simpático se aproxima, me perguntando se estou bem, eu apenas aceno com cabeça positivamente.

Não gosto de conversar com estranhos. E como hoje foi O dia, vai que ele é um estuprador ou coisa pior. Deus me livre! Não costumo abusar desses meus dias em que a sorte anda lado a lado comigo.

Moça, tem certeza que está bem? Ele insiste.

Sim... Obrigada por perguntar, mas preciso continuar minha caminhada. Adeus... — Digo, voltando a caminhar.

Lembranças modo OFF.

Foi a partir desse dia que todas as minhas manhãs foram de caminhadas acompanhadas, e a cada dia, Edson me trazia um mimo e isso, sinceramente... Mexia comigo profundamente. Minha vida amorosa não foi lá grande coisa, mas aproveitei muito, beijei muito e, por fim, vivi a vida de solteiro como se deve viver. Me casei com Edson depois de seis meses de namoro, imaginei que com ele o "para sempre" seria o famoso: "e viveram felizes para sempre", mas me enganei.

Observo a cena em minha frente e isso corta o meu coração, ele está conversando com ela alisando sua enorme barriga, enquanto continuo parada, entre a razão e a emoção. Preciso ser forte não só por mim, mas por minha Lara.

Lembranças modo ON:

Edson, capaz da Lara nascer e eu ainda não ver o quarto dela! Poxa, amor, injustiça isso. Abra essa porta! Digo do lado de fora do quarto que será da Lara. Edson pediu para que eu o deixasse me surpreender, e assim o fiz.

Ele está sendo o responsável pelo paraíso da minha pequena, desde de azulejos até fronhas. Não opino e não vejo nada desde o início da gestação e isso está sendo insuportável para mim. Gostaria de ajudar, de deixar o meu toque em algum lugar, mas não, ele não deixou. Continuo parada na porta o ouvindo dizer: Está preparada, Manu?

Mais? Impossível! Posso entrar? Pergunto, mas bem nessa hora sinto uma dor muito forte.

Lembranças modo OFF.

Continuo absorvendo a cena em minha frente e para mim é inacreditável!

Nunca deixei a desejar como amiga, namorada, esposa, mãe, amante... assim eu penso e acho. Edson sempre foi muito calado, nunca gostou de ficar jogando papinho fora, ele gostava mesmo era de dar a indireta bem reta. Imaginar que seria traída nesta circunstância, enquanto o que eu mais fazia era sempre tentar reerguer o nosso casamento que foi por água abaixo, me deixa sem rumo. Poderia agora ser engolida pela terra, nesta hora não iria me importar. Queria voltar no tempo e mudar tudo, mas não sou capaz... não somos capazes...

— Você... vai com a Lara para nossa casa e daqui há vinte minutos estarei lá, pra gente conversar... — Edson diz calmamente, como se o que eu vi fosse a coisa mais natural e normal do mundo.

— Você tem muita sorte, Edson, por ela ser a minha vida. Se não, nem a minha sombra você veria mais. — Respondo indo em direção a Lara, que me espera com o sorriso mais lindo do mundo.

É demais para mim, ter que suportar que ele a leve para casa dela ou deles, seja lá como for, e eu indo para nossa casa com a nossa filha, sozinha. Deus o que foi que eu fiz para merecer isso? Talvez esteja sendo precipitada demais, mas o que vi foi real, não me contaram... eu os vi!

Sei que não será fácil suportar o que eu vou ouvir dele, mas por que ele tinha que machucá-la? Não suportarei ver ela sofrer... Continuo o meu trajeto caminhando para Lara, até que ouço sua voz bem distante dizendo:

— Mamãe... Não...

***

— Lara!!!!!!! — Grito, me identificando em um quarto todo branco, olho ao redor e concluo que estou em um quarto de hospital.

— Calma, filha!!! A Lara está em casa com sua amiga Milka, fique tranquila. — Mamãe diz ao meu lado.

— Porque estou em um quarto de hospital? Cadê o Edson? Mãe... — Falo, enquanto as lágrimas rolam pelo meu rosto. — Não me lembro muito bem o que aconteceu, mas sei que Edson tentou impedir.

— Filha... eu... Eu sinto muito... Vocês tentaram. — No momento em que ela diz isso, levo as minhas mãos a minha barriga, desejando que isso não tenha acontecido. Será possível?

— Mãe, diz para mim que é mentira. Não posso e não quero perdê-lo. — Digo aos prantos, ela vem até mim e me abraça, mas seu abraço não tira a dor que sinto e pelo seu olhar sei que tem mais. — Continua, mãe...

Há situações em nossas vidas que devemos demonstrar uma certa maturidade, sermos fortes, por mais que isso esteja nos afetando, nos ferindo por dentro. Onde mostramos nosso sorriso e choramos no mais íntimo.

— Filha, quando iria nos contar? Fiquei tão surpresa! Você estava grávida, de um lindo bebê... Mas, que infelizmente, cumpriu sua missão e partiu... — Ela diz, toda triste. Minha mãe é maravilhosa e tenho imensa gratidão por tudo o que ela suportou por mim.

Minha família não era a das melhores, vivíamos em pé de guerra por causa do meu pai. Ele bebia muito, mas por sorte nunca ousou encostar um dedo em minha mãe, mas a fazia sofrer muito e isso me machucava. Eu era pequena e não podia fazer nada além de chorar... Aos meus 16 anos perdi o meu pai e tivemos que sobreviver com o que tínhamos e com o que os outros nos davam, não foi fácil, mas conseguimos e somos muito unidas devido a tudo que passamos para chegarmos até aqui.

E, sendo mãe, posso ver o quanto não foi fácil para ela, amar, cuidar e educar.

— Contaria hoje em nosso jantar. Cadê o Edson? Por que ele não está aqui?

— Filha tente ser forte. Melhor! Seja forte. O que vou lhe dizer, poderá lhe fazer muito mal... — ela diz com a testa franzida. — Edson correu para tentar te pegar, antes do caminhão te atropelar, mas ele acabou sendo atropelado e... Não resistiu.

Não aguento mais ouvir uma palavra sequer e começo a chorar, peço para que ela saia e me deixe sozinha. Não posso acreditar que isso esteja acontecendo comigo. Não, não posso acreditar...

Não estava e não estou preparada para dizer adeus, ao meu filho e ao homem que foi minha vida. Neste momento eu percebo que o perdoaria... que seguiria, que falaria do nosso filho. Se pudesse voltaria no tempo, diria antes sobre o bebê, mas não tive tempo. Eles não tiveram tempo...

Meu despertar [[Degustação]]Onde histórias criam vida. Descubra agora