Changkyun limpou a garganta e passou as sacolas para a mão esquerda, antes de dar duas batidas pesadas na porta de madeira e encolher-se em seu casaco. O inverno havia chegado, e junto com ele, a falta de vontade de sair de casa (além dos flocos de neve). Ele realmente gostava de inverno, e todas as chuvas que vinham acompanhadas da estação, mas não quando tinha de sair de casa. Gostava só de ver as fotos do tapete branco feito de neve cobrindo os telhados das casas, mas não era de seu feitio sair de casa para ver de perto – estava satisfeito com as fotos.
Adorava ficar enterrado em meio ao mar de lençóis e cobertas aconchegantes, enquanto tinha os fones nos ouvidos e escutava alguma canção calma e suave, ou apenas dormia.
Infelizmente, não podia se dar ao luxo de passar o sábado descansando; tinha de estudar para o suneung*, mas não era possível quando a mãe ficava passando o aspirador de pó a cada dois minutos pelos corredores da casa e sua irmã mais nova ficava correndo e gritando pela casa com suas colegas.
Estava sob pressão o suficiente, não conseguiria estudar com os berros e ruídos que haviam em sua casa barulhenta – por isso, mandara uma mensagem ao vizinho, perguntando se podia estudar lá. Torcia para que a casa vizinha não fosse tão barulhenta quanto a sua. E o outro, como um bom hyung, aceitou – não sem pedir uma garrafa de vinho em troca.
Então, estava ali, em frente a porta do vizinho, xingando o ruivo mentalmente por demorar para atender a porta. Mesmo que estivesse com duas blusas compridas e um casaco cobrindo seu torso, ainda sentia seu corpo tremer com a temperatura baixa.
Quando o mais velho abriu a porta, com a bochecha marcada pelo travesseiro e os olhos estreitos menores ainda, Changkyun teve certeza de que ele havia esquecido de sua proposta e passado o resto da tarde dormindo. A lareira estava acesa e crepitava atrás de si, causando um barulho gostoso.
— Boa noite, hyung. — O mais novo entrou sem pedir licença, despejando as sacolas plásticas no balcão de granito e tirando os sapatos.
Correu até o sofá, os pés afundando no tapete fofo conforme andava. A TV logo acima da lareira, fixa a parede, estava ligada, exibindo o jornal. Changkyun jogou-se no sofá e logo sentiu o espaço vazio e aconchegante ao seu lado afundar com o peso de outro corpo. Abriu um dos olhos para observar Jooheon sentado ao seu lado, bocejando.
Ele parecia estar acordando ainda, pois às vezes seus olhos fechavam-se e voltavam a abrir depois de um tempo. Changkyun esperou que ele acordasse por completo, antes de tirar as apostilas de sua mochila e sentar-se no tapete, colocando os livros na mesa de centro. Havia uma xícara de café pela metade e um pedaço de bolo de morango pela metade sobre a mesinha, Changkyun fez uma careta, sua vontade de arrumar vindo átona.
— Vocês não limpam a casa?
— Você não fica quieto? — Jooheon resmungou, juntando o prato e a xícara e sumindo pelos corredores estreitos da casa. Changkyun aproveitou sua ausência para observar bem em volta; por mais que não fosse sua primeira vez ali dentro, os únicos lugares que havia passado mais tempo eram a cozinha e o quarto de Jooheon. A sala era aconchegante e o moreno jurou que o sofá parecia mais aconchegante que sua cama. Por um momento, sentiu-se triste pela casa ser tão vazia. Jooheon deveria se sentir sozinho com a irmã trabalhando tanto e uma casa grande só para si. Por mais que odiasse o barulho que sua irmã fazia, a presença da pequena ainda lhe agradava muito.
— Você é coreano e não sabe a diferença de vinho e soju? — O ruivo resmungou, encarando a garrafa esverdeada em suas mãos. Havia voltado da cozinha, enquanto o mais novo reparava nos detalhes do cômodo, absorto em seus pensamentos. Changkyun coçou a nuca, fazendo uma careta.
— Eu não costumo comprar muitas bebidas... — Sentou-se no sofá mais uma vez, observando Haru pular a janela e entrar, esfregando as unhas no carpete. Levantou-se e fechou a janela por onde uma brisa fria entrava, antes de voltar a se afundar no sofá.
Jooheon meneou a cabeça enquanto choramingava, sentando-se ao lado de Changkyun e o olhando esfregar a ponta dos dedos do pé cobertos por uma meia na coluna do gato, que levantou a cabeça e esticou-se, ronronando. Seus olhos subiram para o rosto de Changkyun quando ele parou de esfregar o pé no gato, encarando o chão com os olhos distraídos.
— O quê foi? — Jooheon tocou seu braço e pegou a garrafa de soju em cima da mesa de centro, a abrindo. Deu alguns goles antes de estender para o moreno, que pegou a bebida sem hesitar e deu três longos goles. Continuou encarando o carpete enquanto brincava com a garrafa entre os dedos compridos e magros. Devolveu-a a Jooheon, antes de ajeitar o gorro que cobria os fios castanhos, quase negros, e olhá-lo. O ruivo sentiu o estômago revirar ao sentir os olhos pequenos e intensos do outro olhando-o.
— Eu... — Changkyun suspirou e colocou a mão sobre o peito, sentindo que teria um ataque cardíaco a qualquer momento. Respirou fundo três vezes e voltou a olhar para o rosto de Jooheon, antes de continuar. — Eu queria que você saísse comigo.
— Tudo bem. — O mais velho deu de ombros, dando mais um gole na garrafa e jogando seu corpo para trás, afundando-se mais no estofado. — Onde quer ir?
— Você não entendeu. — Changkyun balançou a cabeça de um lado para o outro, exasperado. — Não estou falando de sair como amigos.
Jooheon deixou a garrafa de soju escorregar entre os dedos, com os olhos arregalados. Changkyun preferiu ficar em silêncio e levantou-se, saindo do cômodo. O ruivo continuou parado, com os olhos fixos em um lugar que não sabia onde e com a garrafa no chão, manchando o carpete claro com o líquido.
O vizinho reapareceu alguns minutos depois, com um pano em mãos. Limpou o carpete em silêncio e lavou o pano, antes de pegar a mochila esparramada ao lado do sofá e começar a guardar os materiais. Estava envergonhado, tanto pela reação confusa – ou chocada? — de Jooheon, quanto por ter sido atirado demais em sua visão.
Guardou as coisas e colocou a alça da mochila sobre o ombro, sem levantar os olhos amendoados do chão em momento algum. Jooheon fechou os lábios que estavam entreabertos e tocou a mão de Changkyun, que sentiu borboletas rodearem seu estômago e subirem até sua garganta, fazendo a mesma formigar.
— Até que enfim, achei que eu teria que te convidar. — Jooheon sussurrou baixo, antes de tocar a bochecha macia de Changkyun com seus lábios.
❁
*suneung é tipo um enem, só que coreano.
então, eu tô melhor, e graças ao apoio de vocês e de algumas pessoas que não são daqui, admito que eu estava quase desistindo de tudo. queria aproveitar e dizer a vocês que, se precisarem de qualquer coisa, eu sempre vou estar aqui <3 independente do que for, vocês podem vir falar comigo, de verdade, não tenham vergonha.
eu amo vocês e até logo.
p.s: *apreciem esse gif*
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Black Cat ✺ MonstaX
Fanfiction- Para quê servem cupidos quando se tem gatos? [monstax] ©koxjix [beatriz, set, 2016]