The Truth about Trevosa

Minha infância

Ela foi um lixo. Bem chatinha. Eu só saia de casa pra ir pra escola e pra igreja. Eu nunca comi areia, mas fazia os outros engolirem.

No pré, eu era amiga de duas meninas, uma delas tinha quase o mesmo nome que eu, só que o dela era com i e o meu é com y. A gente fazia aniversário uma atrás da outra, a Juliana dia 3, a Gabi dia 4 e eu dia 5 de maio. Nossas mães sempre combinavam pra gente fazer uma festinha junto na escola (sdds). Só nos desgrudávamos pra ir embora. Na pirua, eu ficava brincando com o Leo, um menino gatinho da minha sala, e com a Estephany, uma menina mais velha que por obra do destino estuda hoje na mesma escola que eu, só que a gente nem olha uma na cara da outra. O Leo e eu éramos os últimos a serem entregues e confesso que rolava umas bitoca de criança. Não falo mais com ele desde que eu sai daquele lugar, mas ele deve estar um deus grego, se eu o ver qualquer dia na rua, prometo que paro ele, dou outra bitoca e venho contar para vocês o fim da história.

Quando eu fui para o fundamental, eu ficava o dia inteiro naquela birosca e só sabia chorar com saudades da minha mãe, mas sempre escondida porque uma rainha nunca demonstra fraqueza.
Aquele lugar era uma sala com um monte de criança feia e com cheiro de giz. Eu ficava na minha, lendo Cinderela e chupando dedo. (Sim, eu chupava o dedo médio e o indicador juntos até eu começar a usar aparelho, com oito anos, podem tirar sarro).
Vale avisar que eu aprendi a ler no pré, então pra mim não tinha nada de novo no primeiro ano.

Na verdade, foi no primeiro ano que eu conheci um certo professor insuportável que ferrou com a minha vida, mas isso é história pra depois.

Mentira, vou contar agora.

Ele era bem legal na verdade, mas ele ficava no meu pé porque me achava "bonitinha e fofa". Eu era o tipo de criança que não calava a boca e cativava as pessoas. E aí eu cativei esse professor, que por sinal, eu não gostava nada dele. MENTIRA EU AMAVA AQUELE CARA, SINTO SAUDADES DELE ATÉ HOJE. Ele me tratava diferente dos outros porque eu era inteligente, ele deixava eu não fazer aula de educação física (ele era professor de educação física) porque eu odeio até hoje fazer isso, ele me dava bombom e boneca polly. Mas, nem tudo era tão bom assim quanto parece. Por ele fazer isso comigo, as outras meninas não gostavam de mim. Resultado: eu não tinha uma melhor amiga. Conversava às vezes com algumas meninas mas não tinha uma amizade que nem a Mariana e a Giovana que foram bfffffffff até eu me meter no meio, elas brigarem e a amizade acabar cinco anos depois. E eu ficava triste por isso (por não ter uma melhor amiga, não por acabar com a amizade delas, elas eram chatas mesmo). Foi assim até o terceiro ano, quando eu fiz amizade com uma menina que ria de qualquer coisa que eu falasse e um menino que mais parecia menina. A gente zoava muito, até que um dia ela saiu da escola e logo depois o menino saiu também. Resultado: eu sozinha de novo. O resto disso eu conto depois.

Aquele professor me deu aula até o segundo ano, e, uma vez, entre esse período, eu comecei a usar aparelho móvel e eu era relaxada pra caralho, sempre esquecia a caixinha dele em casa.
Como eu almoçava na escola, eu enrolava meu aparelho num papel e deixava na minha bandeja, do lado do prato (desnecessário, porque eu não comia a comida da escola), e um belo dia, eu fui jogar a comida fora e acabei jogando o aparelho no lixo. Eu nem tinha percebido, só fui reparar que eu estava sem ele quando esse professor perguntou onde ele estava. Eu não chorei nem nada, porque eu odiava aquela bosta, mas falei pra ele que achava que tinha jogado no lixo. Eu sei que vai ser difícil de acreditar, mas ele mergulhou no lixo pra pegar meu aparelho. Graças a Deus ele achou, porque se não minha mãe me esganava e puxava meu cabelo. Ela fez isso uma vez quando eu perdi meu apontador de 12 reais.
Um tempo depois disso, o ano estava quase no fim, as aulas iriam acabar e aí ele avisou que ia embora, porque o contrato dele tinha acabado e o escambau todo. Como eu já disse (e como já deu pra perceber), ele gostava muito de mim e antes de ir embora ele me deixou uma carta (que eu tenho até hoje) e uma polly com um acampamento caro pra caralho que eu nem sei que fim teve.
Por mais incrível que pareça, todo mundo chorou porque ele ia embora, menos eu porque (a) eu sou rainha e rainha não chora e (b) ele me prometeu que ia voltar pra me visitar sempre.
Nesses 8 anos que eu ainda estudo naquela bosta de escola depois que ele foi embora ele veio me ver só duas vezes, prometeu que eu iria ser a daminha no casamento dele, mas ele está enrolando tanto a namorada pra casar que eu já posso ser madrinha, disse que iria colocar meu nome na filha dele (coitada) mas eu duvido que ele vá lembrar disso quando tiver uma, ele esquece meu aniversário e a ultima vez que nos falamos foi dois anos atras, quando minha sobrinha nasceu. Eu o odeio por isso.