Todo mundo já teve um ano ruim. Ou como diz o grande Damon Salvatore: "século ruim".
O meu quarto ano do ensino fundamental foi o pior de todos. Foi a primeira vez que eu fui pra diretoria por começar uma guerra de macarrão. Bom, o objetivo não era começar uma guerra, era ver se eu conseguia grudar macarrão no teto. Aquilo tava tão ruim que nem o lixo iria querer. Enfim, quando eu joguei o macarrão, aquela bosta caiu em cima da cabeça de um menino, ele retribuiu jogando em mim, aí eu joguei de volta pra ele, errei o alvo e aí foi até a maioria do refeitório estar metido naquilo. A guerra só acabou quando alguém, sem querer, jogou macarrão cheio de molho na cabeça da menina mais chata da sala. Em troca, ela saiu gritando pra Deus e o mundo ouvir: "Ô TIA, A DOENTE TA JOGANDO MACARRÃO EM TODO MUNDO". (Na escola me chamam pelo meu sobrenome que, como eu ja tinha dito, não vou dizer qual é, e quando for necessário o uso dele vou trocar por doente). Na mesma hora eu fui parar na diretoria junto com todo mundo que estava no meio da guerra e levei um aviso, tudo por causa daquele projeto de piranha que não sabe brincar. Mimada pau no cu.
Nesse mesmo ano eu sofri um pouco de bullying de um menino chato e nojento. Eu aguentei até não dar mais, aí um dia, cheguei em casa chorando e meu pai disse que ia arrancar o pinto dele. No dia seguinte eu falei isso pro menino e acrescentei mais algumas coisas. Ele nunca mais mexeu comigo. Hoje ele me crusha. Parece que o jogo virou, não é mesmo?
Depois disso eu comecei a aprontar muito, eu escorregava no morro, empurrava nego da ponte, jogava frutinha na cabeça dos meninos, dava tapa na cara deles, colava bilhetinho nas costas dos outros escrito "sou otario", enfim, eu fazia mil e uma coisas. Mas teve um dia que foi o pior. Aquele dia fodeu com tudo. Uma orquestra de instrumentos de sopro tinha ido na escola e a minha sala, junto com uma sala mais velha, fomos ver a apresentação. Aquilo estava tão chato que eu comecei a conversar e fazer piadinha com as colegas do lado e a professora ficou muito puta. Mas ela tinha ficado mais puta ainda com o pessoal da outra sala que estava debochando da apresentação. Quando voltamos para a sala a professora descontou tudo em mim, me deu a maior bronca, eu fiquei com tanta raiva que comecei a gritar com a professora, e aí ela ameaçou chamar minha mãe na escola, automaticamente eu fiquei quieta e do nada ela começa a chorar dizendo que tinha falhado como professora e que eu ia ser uma Ariadny da vida (ela era uma menina mais velha encapetada). Aí eu, junto com as meninas da outra sala, que por acaso era da sala dessa Ariadny, fui de novo parar na diretoria. Eu já estava cansada de olhar pra cara daquela velha enrugada da coordenadora.
Mal eu sabia que alguns anos depois eu aprontaria muito mais com essas meninas mais velhas. Essa história fica pra depois também.Eu lembro que foi nesse ano que começou meus problemas na família. Minha irmã tinha se casado e meus pais davam muita atenção pro meu irmão por ele ser mais novo (sim, eu sou a filha fodida e esquecida. Sou a do meio indesejada que só nasceu porque a camisinha estourou). Eu me sentia excluída, abandonada pelos meus pais. Eu chorava quase todos os dias porque achava que eles não me amavam e eu nem tinha mais minha irmã mais velha pra me consolar. E pra completar, ela -minha irmã - também não estava mais nem aí pra mim. Eu estava sozinha e ainda não tinha uma melhor amiga na escola, mas dessa vez porque eu achava as meninas chatas e tapadas. Só queriam saber de brincar de casinha, af. Triste a vida.
Pelo menos uma coisa boa aconteceu nesse ano. Eu ganhei meu primeiro bichinho de estimação só meu. Uma hamster chamada Flor. Eu cuidava dela com todo amor e carinho, ela era muito fofa, dava vontade de apertar até ela quase morrer. Falar nisso,uma vez eu quase matei a coitada, mas não foi de apertar, foi de fome mesmo. Ela era muito engraçadinha, eu colocava comida na gaiola e ela levava para dentro da casinha pra estocar e eu nunca sabia quando tinha comida. Eu colocava todos os dias, mas, uma vez, minha mãe disse que não precisava, aí fiquei uma semana sem colocar. A comida que ela estocava tinha acabado e pra completar eu esqueci de colocar água e aí ela ficou com fome. Nessa, quando eu cheguei da escola um dia, eu vi que ela estava deitadinha num bolinho de palha (parecia um túmulo mesmo) sem se mexer e magrinha. Eu comecei a chorar de culpa porque eu achei que eu tinha matado ela, mas graças a Deus eu tenho uma mãe e um pai que não aguentavam me ver chorando e aí eles conseguiram salva-la da morte com uma seringa de remédio, leite e dipirona. Aquele dia eu quase morri junto com a Flor. Sou eternamente grata pelos meus pais. Ela viveu bastante depois disso, mas quando ela morreu, no ano passado, eu fiquei triste, claro, mas não chorei. Eu não choro pela morte porque eu sei que é uma coisa natural. Um dia (se Deus quiser, logo logo, porque ta foda) eu vou morrer também, mas quero que todo mundo chore, porque sou dessas.
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The Truth about Trevosa
Non-FictionOk. Isso não é nem uma história comovente, biografia, fanfic, ou os caramba que tem por aí. É como se fosse um "diário" onde eu vou contar histórias vividas por mim que eu não conto pra quase ninguém porque ninguém que me conhece pessoalmente precis...