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Era um pouco raro, na verdade, mas ainda ocorria como se fosse a coisa mais real do mundo. Louis tinha esses pesadelos, que mais pareciam lembranças, e o faziam acordar de madrugada totalmente em pânico, e o pânico maior era quando ele percebia que estava acordado. Que ainda estava respirando, o que ele desejava parar de fazer às vezes, e infelizmente se encontrava sozinho, no escuro e descoberto às quatro horas da manhã de um dia de semana qualquer.

Ter pesadelos com toques inapropriados de alfas era comum, obviamente era ruim, mas não se comparava aos seus pesadelos de órfão.

As imagens alternavam, porém o foco era sempre no bebezinho de olhos azuis tendo a garganta cortada. Gritos, discussões, choro, tudo se misturava. Sangue jorrava e então tudo fica claro. Como se tivesse encontrado a tal luz.

O ômega nunca soube dizer se aquilo era apenas uma invenção de sua mente perturbada ou algum tipo de lembrança. A cicatriz em seu pescoço lhe deixava dúvidas, mas ele era novo demais para se lembrar de algo assim.

De qualquer forma aquilo sempre vinha acompanhando do sentimento de rejeição.

Ele ignorava o fato de não ter pais, pois o lugar onde viveu era repleto de crianças na mesma situação. Ser órfão não era diferente. E ele teve problemas piores para lidar do que pessoas que ele nem conhece tentando o matar e o descartando.

Costumava desejar que tivessem tido sucesso na única tentativa.

A sociedade diz que família é a coisa mais importante que existe. Toda aquela história mágica de alfas e ômegas pertencerem uns aos outros, toda a ideologia de amor, união e bebês. Bebês desejados e amados incondicionalmente. Louis não acreditava em nada daquilo, ele não queria ser do tipo que diz que algo não existe apenas porque não aconteceu com ele, entretanto crer que família é a coisa mais importante era dificílimo quando se vinha de um orfanato.

Nem todo mundo é amado. Nem todo mundo é desejado. Nem todo mundo vai encontrar a alma gêmea. Nem todo mundo vai ser feliz.

E tudo bem.

Era o que ele dizia à si mesmo.

Mesmo que ele não tenha o que Niall e Zayn tem, uma família com amor incondicional, mesmo que ele talvez não tenha uma alma gêmea, mesmo que nada dê certo no futuro, como não tem dado certo desde que ele nasceu, mesmo assim tudo bem. A ideia moldada de que essas coisas são felicidade é só uma invenção.

Ele já viu seus amigos, mesmo sem terem os problemas que ele tem, se sentirem realmente tristes. Tudo é momentâneo. E todos nós temos nossas fases boas e ruins. Às vezes mais fases ruins do que boas, mas as boas sempre terão um peso maior.

E é por isso que ele levanta da cama, ainda no escuro e todo suado por conta do sonho horrível, e repete mentalmente que "já passou", foi só um sonho ruim. Não é o primeiro e provavelmente também não será o último, mas ele não vai sofrer por isso.

Se dirige ao banheiro, toma um bom banho e aproveita a água quente caindo de forma relaxante para refletir.

Ele estava se sentindo melhor, mesmo sozinho após um pesadelo de madrugada, estava educando a própria mente de forma que aquilo não o afundasse e sorriu orgulhoso de si mesmo. No passado, um sonho assim o faria chorar por horas. Não pela angústia de ter o pescoço cortado ou pelos sons perturbadores que acompanhavam a cena, mas por se sentir solitário, rejeitado e um total desperdício de espaço. Choraria e questionaria o que fez de tão errado para não merecer no mínimo uma família que o quisesse.

Alfas e ômegas amam seus filhos com todo o coração, então porque havia tantas crianças abandonadas?

Louis sempre se perguntou isso, com certa mágoa, descrendo do tal amor incondicional. Só que havia mil possibilidades, a gravidez poderia ter sido forçada, o romance poderia ter sido proibido, os pais poderiam ter morrido, etc. Eram inúmeras possibilidades e a única certeza era que a criança não tinha culpa nenhuma.

Originals ⚜ abo ⚜ l.s. {incompleta}Onde histórias criam vida. Descubra agora