Posso dizer que estou orgulhoso de mim mesmo. Nunca ia pensar que só naquela noite eu ia ter a coragem de pegar o número dela e pedir se ela queria sair comigo. Quando eu perguntei, ela riu um pouco mas disse sim, com a condição de que ela escolhesse o lugar no qual nos íamos nos encontrar.
Enquanto estou seguindo a rota do GPS para o local marcado, uma sensação esquisita toma conta de mim. Uma certa nostalgia me invade, junto com o medo de não conhecer mais ela como conhecia antes.
Não sei se ainda conheço ela. Não sei se ela é a mesma garota que gosta de ir pro Starbucks às onze horas da noite de pijamas ou a menina que gosta de cantar junto quando uma música do Pavarotti começa a tocar.
Eu não sei se ela continua a mesma, mas porra, isso não me faz amar ela nem um pouco menos.
O GPS me leva até um prédio. É bem alto e saio do carro e ando até a portaria. O porteiro pergunta o meu nome e diz que eu posso entrar. Mando uma mensagem pra Stephanie perguntando onde ela está e ela diz que está no último andar do prédio. Entro no elevador e aperto o botão.
O elevador para no último andar. É basicamente o teto do prédio e está repleto de antenas de TV e coisas do tipo. Dá pra ver toda a cidade daqui.
Vejo ela sentada no canto e escutando música. Ela parece não me escutar quando me aproximo e sento perto dela. Quando ela me vê, ela parece assustada. Ela respira um pouco e começa a rir.
"Você me assustou," ela diz e eu começo a rir.
"Desculpas," Falo.
"Tudo bem," ela foca a atenção para a vista novamente. O vento bate no meu rosto e eu me sinto bem por estar aqui.
"Você vem pra cá regularmente?" Pergunto e ela balança a cabeça.
"Quando venho para cá, venho aqui quase todos os dias. Acho que sempre fui o tipo de pessoa a precisar de um tempo longe de todos." Ela me diz.
"Então porque você me trouxe aqui?" Pergunto.
"Porque me lembro que você sempre me falava os seus lugares secretos," Ela sorri. "Acho que o melhor lugar que você já achou foi o tipo daquela mangueira. Dava pra ver o por do sol de lá. Mas eu fui até lá algumas semanas atrás e um homem me disse que ela foi cortada." Ela suspira.
Eu mordo o lábio e nós dois ficamos em silêncio até eu não consegui mais me conter.
"E você, como você tá?" Pergunto de uma vez.
"Eu tô bem," Ela responde.
"Não, tipo, como você está de verdade. Não quero a mesma resposta que você dá pra todo mundo." Falo e ela sorri.
"De verdade, eu estou bem. A vida tem sido boa comigo. Não tenho nada com que reclamar. As coisas não podiam estar melhores em Los Angeles." Ela responde.
Balanço a cabeça. "É que esses últimos quatro anos..." Começo a falar, mas paro no meio da frase. Não, não vou falar pra ela sobre os rascunhos que escrevi pra ela. Ela não merece esse tipo de problema na vida dela.
"Se lembra da menina que te enviou aquelas mensagens?" Ela pergunta.
"Como que poderia esquecer dela?" Respondo.
"Ela não existe mais," ela diz o que eu já estava desconfiando.
"S," eu chamo ela assim pela primeira vez desde que cheguei. "Durante esses quatro anos, não teve um dia sequer que eu não pensei em você." Digo.
Ela solta um pequeno sorriso. "Eu também pensei em você," ela fala.
"Sempre me pergunto como as coisas poderiam ter sido se eu não tivesse estragado tudo," Suspiro e olho para o chão.
"Não," Ela diz, com os olhos ainda focados na vista. "Não diz isso. Não se culpe por nada. Foi culpa de nós dois, mas não perde tempo relembrando de coisas do passado. O que aconteceu aconteceu e nós precisamos pegar o melhor de tudo isso."
Eu solto um suspiro e olho para a vista.
"Tudo isso tem que ter um motivo," Falo e era olha pra mim.
"O que?" Ela pergunta.
"Isso. Nossa existência. Tem bilhões de pessoas no mundo e é muita coincidência termos acabado na mesma cidade e na mesma época. É algo mais do que uma mera coincidência." Digo.
Ela solta uma risada. "Não acredito muito em destino. Acredito que qualquer coisa pode acontecer com qualquer pessoa e que temos que estar preparados pra tudo." Ela fala, com um brilho diferente nos olhos.
Fecho os olhos e tento captar o máximo desse momento. Só quero poder me lembrar desses segundos quando voltar para a realidade.
"Talvez," eu digo. "Mas tem algo forte aqui. Sempre teve."
"Talvez," ela murmura. "Mas tudo o que tinha que acontecer, aconteceu."
Ela olha para o céu e eu me pergunto se ela sabe que está tão linda quanto ele essa noite.
"Me desculpa," Digo, do nada.
Ela me olha. "Por que?" Ela pergunta.
"Por ter te feito chorar por alguém que não valia a pena," Respondo.
"Passou, Tyler. O passado está no passado. Mas eu também te devo desculpas. Pra você e pra Laurel. Eu não sabia como controlar minhas emoções e acabei deixando elas transbordarem dentro de mim." Ela morde o lábio inferior.
Ela ri um pouco e eu pergunto o porque.
"É incrível, não é?" Ela responde.
"O que?" Pergunto.
"O quanto que nós conseguimos prolongar o nosso sofrimento," ela continua. "Quatro anos atrás, eu passei 301 dias escrevendo para e sobre você. Escrevi o quanto você me destruiu. Escrevi o quando eu odiava você e você com ela. Escrevi por quanta dor eu passei. Te descrevi tão viciante quando cocaína, mas depois de tudo, você era apenas um garoto. Um garoto com qual os meus planos não saíram que nem eu esperava." Ela diz.
Eu solto um suspiro.
"Você sabe como eu me sinto sobre você," Falo pra ela. "Você sabe como eu sempre senti sobre você."
Ela não diz nada, mas eu sei que ela para pra pensar no que disse. Um silêncio nos cerca e eu penso no quanto palavras são desnecessárias para um momento tão tragicamente estonteantes que nem esse.
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Coisas Que Você Nunca Soube
Teen FictionSe Tyler Scott sabe alguma coisa nessa vida é que você só dá o valor adequado a algo quando perde. Ou como o cantor Passenger canta, ele só precisou da luz quando estava escurecendo. Ele só sentiu falta o sol, quando começou a nevar. Ele só odiava...