NOR EGA

Prefácio

Em alguma floresta da Noruega...
Faz três meses e nove dias que Helga está nessa floresta. Três meses e nove dias que Helga resgatou sua amada filha daquele inferno. Três meses e nove dias representam a idade de sua filha.

O que aqueles monstros fizeram à sua filha? Helga sabe que eles são os culpados, mas Helga também sente culpa por ter confiado nesse governo. Traição.

Agora ela vive nesse buraco, uma caverna oculta. Ela queria fazer mais por sua filha, mas ela não sabe como. Ela só sabe que ela não pode cair nas mãos do governo, custe o que custar.

Por uma fresta na parede ela observa. Ela não vê nada, mas ela sabe que eles estão ali, almejando sua filha. Ela precisa agir.

Ela pega sua filha no colo. Helga não sabe e nem teve tempo de pensar em que nome dar pra ela, então simplesmente a chama de Filha. Ela coloca sua filha em suas costas. A pele dela é vermelho-vivo, o cabelo é o mais escuro que Helga já viu. Seus pequenos braços abraçam o pescoço de Helga que se sente um pouco sufocada. Ela sente a sensação de formigamento que - por algum motivo - as mãos de sua filha lhe causam.

Helga odeia esses monstros mais do que já odiou qualquer outra coisa na vida. Ela pega em uma fenda um rifle que ela nem sabe o nome, seu finado marido lhe deu. As balas estão em uma sacola reciclável do mercado. O rifle está carregado. Helga, agricultora, está armada.

Os ombros e o pescoço de Helga estão anestesiados e relaxados graças à sua filha. Sua filha não chora. Nunca chorou, apenas sorriu. Ela sabe que sua filha não é normal, mas ainda assim a ama.

O coração de Helga falha uma batida duas vezes. A primeira porque percebeu que dessa vez suas chances de escapar são quase nulas. E a segunda é porque imaginou sua filha no laboratório para fazer sabe-se-lá que tipo de testes.

Helga tira sua filha cor-de-groselha dos ombros e olha em seus olhos verdes - que lindamente são iguais aos seus -, sorri e diz:

- Não há um dia em que eu não agradeça à Freya por ter me presenteado com você.

Filha segura seu cabelo, puxa, e depois sorri. No momento em que a entrada secreta do esconderijo é derrubada, Helga recebe três tiros no peito.

Ela ainda teve tempo de observar a ação deles: Eles ignoram a confinada Helga. Uma bomba é implantada no fundo da caverna. Filha não chora. E por fim, os agentes do governo levam Filha embora.

"Nascer, crescer, reproduzir, morrer."