A rodoviária estava lotada, num contínuo enta-e-sai desordenado.
Não era possível andar dois passos sem esbarrar em malas e ouvir protestos. Desta vez Skye tinha preferido um táxi. Durante o trajeto não proferira uma única palavra. Parecia que conversar atrapalhava no lugar de esclarecer, retardava a ação.
Na rodoviária subiram uma escada rolante, carregada de pessoas imóveis como manequins. Depois percorreram um corredor de guichês iluminados de empresas transportadoras.
"Acho que me enganei" disse ela "É lá embaixo. Que cabeça!"
"O que é lá embaixo?"
Na outra extremidade do corredor havia a escada rolante que descia. Passaram a circular no térreo, ela apressada, trombando pessoas. Por fim pararam diante de um letreiro:
BAGAGENS
"É aqui" Skye abriu a bolsa e retirou uma chave. Impaciente, pela primeira vez ela pôs todo seu nervosismo à mostra. Mordia os lábios e esfregava as mãos.
"Venha aqui" disse a Thomas.
"Você guardou alguma mala aí?"
"Jack guardou"
"Que mala?"
"Quer calar a boca por favor?" ela explodiu descontrolada.
Entraram numa sala ocupada de alto a baixo por malotes numerados. Era onde passageiros em trânsito guardavam suas bagagens. Skye procurou um tanto aflita um numero e parou diante do malote 121. Olhou-o como se fosse a entrada da caverna de Ali-Babá. Fez uma pausa que parecia um intervalo para uma reza. Depois com as mãos tremulas, girou a chave. Olhou dentro ansiosa, como se o coração fosse explodir, como... mas soltou em seguida a respiração, aliviada, e, dizendo sem som um graças a Deus, retirou uma sacola verde, bastante gorda. Bonitinha, trazia em ambos os lados, em relevo, o simpático comedor de espinafre, marinheiro Popeye.
"O que tem aí?" perguntou Thomas "Roupas de criança?"
"Roupas de criança..." repetiu Skye com desdem "Você vai se assustar, garoto."n
"Oque é? Uma cascavel?"
Ela olhou ao redor e disse só pra ele e Deus:
"São verdinhas"
"O que?"
"Quinhentos mil dólares"
"Quinhentos mil?! De quem é esse dinheiro?" Thomas perguntou já imaginando a resposta.
"De seu querido irmão"
"De Jack?"
"Ou seu, se o matarem. Quinhentos mil dólares"
"Dinheiro de tráfico"
"Dinheiro roubado de traficantes"
"Jack roubou?"
"Roubou"
Thomas ficou atordoado, mas precisava saber de tudo.
"E você vai levar esse dinheiro pra ele?"
"Vou tentar"
"Por que tentar?"
"Porque não sei direito onde ele está"
"Ele não disse ao telefone?"
"Não. Alguém devia estar muito perto ou escutando por uma extensão."
"Então como iremos encontrá-lo?"
"Por adivinhação. Conheço alguns lugares que Jack frequenta ou onde poderá deixar recado"
Thomas queria saber mais.
"O que acontecerá depois que o encontrarmos?"
"Eu entregarei a ele o dinheiro e você a caderneta. Aí ele poderá desparecer"
"E eu?"
"Você volta correndo pra Frederick. Não apareça nos próximos dez anos."
Outra pergunta:
"E você, o que fará já que os bandidos sabem onde mora?'
Skye não respondeu logo.
"Se Jack não for contra desaparecerei com ele" e acrescentou sem olhá-lo, envergonhada, como se fosse uma confissão pecaminosa, um segredo: "Não tenho parente algum. Passei a infância e adolescência num orfanato"
"Num orfanato?"
"Não lamente. Espero ter ainda alguma chance. Acho que conhecerei meu futuro antes que amanheça."
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12 Horas de Terror
Gizem / GerilimThomas abre a porta do apartamento. Tudo revirado. O telefone toca. Quem poderia ser? Não conhecia ninguém na cidade, a não ser Jack, seu irmão mais velho. Uma voz feminina apressada e rouca diz-lhe para sair imediatamente. É Skye, namorada de Jack...