12 Horas de Terror

Quase sete horas

Leve alguém tocou-lhe o ombro.

"Me chamo Skye" disse uma jovem.

Thomas virou a cabeça e a garota veio para o seu lado.

"Como me reconheceu?" ele perguntou.

"Tem certeza que não foi seguido?" ela quis sabe num sussurro. Sua voz era mesmo rouca, rouquinha. Parecia ter cantado a tarde inteira num show de rock.

"Por que me seguiriam?"

"Vamos entrar no metrô"

Thomas nunca entrara numa estação de metrô. Ia e voltava do trabalho de ônibus. Foi descendo as escadas ao lado de Skye. Ela, provavelmente namorada de Jack, não vestia jeans como a maioria das moças de sua cidade. Usava um vestido verde, inteiriço, duma elegância discreta, e levava uma destonteante bolsa tiracolo. Era bonita, loira, de corpo bem modelado, e chamava atenção, como ele pôde observar.

O movimento do metrô o deixou desnorteado. Os pasageiros passavam apressadamente pelas catracas, empurrando-se nas filas. Um homem idoso perdeu o equilíbrio e caiu. Thomas fez menção de levantá-lo. Skye o deteve pelo braço.

"Precisamos pensar em nós agora. Nada de perder tempo"

Thomas irritou-se.

"Afinal o que está acontecendo? Pra mim só teve tentativa de roubo, mais nada"

"Vamos pegar o metrô"

"Para ir onde?"

"Não quer ver seu irmão?"

"Sabe onde ele está?"

"Sei. Acho que sei."

Skye dirigiu-se ao guichê e comprou dois tickets. Apesar da situação inusitada, Thomas examinava a estação com olhos de interiorano, admirado. A moça continuava alerta, olhando disfarçadamente a todos que deles se aproximavam. Passaram pela catraca rumo à plataforma.

"Alguém telefonou pro apartamento?" perguntou Skye enquanto esperavam o trem.

"Telefonou, mas como eu não disse um número, a pessoa também não disse nada. Só ouvi uma respiração forte."

"E você saiu em seguida?"

"Quase correndo"

"Fez bem"

"Fiz? Por quê?"

"Lá vem o trem. Vamos"

Entraram num vagão e sentaram-se. Thomas achou que já era hora de a moça lhe dar explicações.

"Como me reconheceu?" tornou a perguntar.

"Jack me mostrou um retrato seu. Mas nem seria preciso. Adivinhei que era você"

"Tem ideia de quem revirou o apartamento?"

"Não precisamente" ela respondeu de forma vaga. Parecia não querer revelar de uma só vez tudo que sabia.

"Ladrões comuns teriam levado o televisor e o aparelho de som"

"Isso é verdade. Não eram ladrões comuns"

"Então procuravam alguma coisa" concluiu Thomas.

"Procuraram, mas não encontraram"

"Como sabe que não encontraram?"

Ela não respondeu logo, mas disse enfim:

"Porque essa coisa está com você"

"O quê?"

"Porque essa coisa estava com você" ela repetiu. Não dava pra entender.

"Está"

"Do que está falando?"

Depois Thomas lembrou: Jack dera-lhe um caderninho de endereços para guardar protegido com um elástico. Dissera para sempre levá-lo, quando saísse, sempre. Deixá-lo no apartamento seria imprudente: não confiava na mulher que fazia a limpeza. Por que não guardava ele mesmo?, perguntara Thomas. "Porque já perdera mais de uma vez agendas e documentos. Era um cuca-fresca. Guarde só por uns dias" Jack pedira a Thomas.

Apalpou o paletó.

"Se fala da caderneta..."

"Não tire do bolso" advertiu a moça.

"Quer ficar com ela?"

"Está mais segura com você"

"Mas o que há nessa porcaria de agenda?"

"O que há em todas: nomes e endereços"

Mistério irritante. Thomas perguntou, alto: "Era então esse caderninho que procuravam? Porquê?"

"Fale baixo, por favor"

"Não estou autorizada a contar tudo. Por enquanto basta saber que estou salvando sua vida"

"Salvando minha vida!" exclamou Thomas "É gozação?"

"Não se assuste. Tudo pode acabar bem" disse a moça mudando de tom. Parecia meio tonta.

Houve uma pausa maior em que o rapaz encaixou uma pergunta de ouro naipe.

"Você é namora de Jack?"

Ela riu. " O que você acha?"

"Acho que você é namorada dele. E apaixonada"

"Você é irmão dele, deve saber melhor do que eu"

"Faz 5 anos que Jack mora em Nova York" disse Thomas "Durante esse tempo o vi poucas vezes. Não sei quase nada da vida dele"

"Isso é normal, também sei pouco da minha irmã. Ela é freira"

A caderneta pareceu crescer e começou a pesar no bolso interno do paletó de Thomas.

"Fale da agenda"

"Vamos descer na próxima estação. Levante-se"

O metrô parou. Thomas e Skye desembarcaram, ela andando à frente e lançando olhares cautelosos para os lados. Subiram a escadaria já vendo a noite lá fora. O rapaz esperava encontrar o irmão à entrada do metrô, quando saberia de tudo que acontecia. Mas não o viu.

"Para onde estamos indo?" perguntou seguindo a moça.

"Vamos pegar um ônibus"

"Eu tenho dinheiro para o táxi"

"Eu também. Entre naquele ônibus. Mas não vá!os sentar juntos dessa vez"

"Puxa! Pra que tanta correria?" protestou Thomas.

"É em nosso benefício, garoto"

"Não me cha!e de garoto. Você não de ser mas velho do que eu"

Sem saber qual era o trajeto do ônibus, Thomas entrou e sentou ao lado de uma mulher grávida, vestida pobremente. Skye conseguiu um liga logo à frente dele, perto de um bom idoso que lia atentamente um livro de bolso. De quando em quando Thomas apertava com o braco o volume que a caderneta fazia. Estaria transportando uma bomba no paletó?

Decidiu retirá-la do bolso para solucionar o enigma.
Skye devia ter um poder extra sensorial. Voltou o rosto para trás no mesmo instante. Parecia uma mae repreendendo o filho.

"Guarde isso"

Foi tao severa que Thomas obedeceu. Não se zangou, porém. Fora a primeira vez que pudera observar var Skye de frente, rosto a rosto. Até então conhecera apenas seu perfil. Ela rara realmente muito bonita mesmo. Cara de sorte, seu irmão. Estranho nunca lhe dizer que tinha uma namorada. Se o assunto era garota, desconversava. Aliás, pouco se falavam. Quando Thomas ia para o trabalho, Jack estava dormindo. À noite raramente se encontravam. Ele, se tivesse um namorada como Skye, contaria para o mundo inteiro.

A moça levantou-se e Thomas fez o mesmo. Desceram no ponto como se não se conhecessem. Na rua ela atrasou o passo para que ele a acompanhasse e perguntou:

"Que horas são?"

Ele olhou o pulso.

"Meu relógio parou"