Mais ou menos sete e meia

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Skye entrou num prédio amarelo, de três andares, sem porteiro nem elevador. Construção baixa, mas sólida, antiga, tipica dos anos 60, porém bem asseada e agradável. Ela à frente, subiram um lance de escada. Skye abriu a porta de um apartamento e entraram. A luz revelou um living espaçoso, cheio de plantas, decorado confusamente com uma serie de posters. Thomas viu também um sofá baixo, poltronas, puffs e uma estante com alguns livros velhos.

"O que você quer beber? Jack gosta de martíni seco"

"Não entendo muito de bebidas, aceito qualquer coisa"

Skye foi para a cozinha e Thomas aproximou-se da janela, extensa, quase com a altura e largura do living. Empurrou a cortina e viu a rua, iluminada por lampadas de mercúrio, tranquila e arborizada. Sentiu-se bem naquele lugar, apesar de tudo. Imaginou ter uma namorada que morasse ali, mas certamente sem aquele tipo de problemas.

"Está bem gelado" disse amoça aparecendo na sala com bandeja e dois cálices grandes.

Ela finge estar calma, mas continua nervosa. Considerou Thomas pegando o cálice. Tomou um gole.

"Jack vem sempre aqui?"

"O martíni vai te fazer bem. Descontrai. Senta."

Thomas preferiu o puff.

"Bem, fale da caderneta"

"Pertence a Jack"

"Isso eu já sei" disse Thomas voltando a perder a calma.

"O que quer saber mais?"

"Quem são as pessoas que procuram por ela?"

"As piores do mundo. Contrabandeiam, sequestram... matam" ela revelou afinal.

"Por que querem a caderneta?"

"Porque contem informações perigosas para elas"

"Ah! Como Jack conseguiu essas informações?"

Skye terminou seu martíni.

"Quer mais um?"

"Não"

"Eu vou querer, não sou de ferro" disse ela levantando-se, de volta á cozinha.

Thomas não teve paciência em esperar pela resposta.

Acompanhou-a até a cozinha, minúscula demais. Mal cabiam os dois.

"Eu tinha feito uma pergunta" lembrou ele.

"Ouvi. Não sou surda. Você quer saber como Jack conseguiu as informações da caderneta. Pois ele que lhe diga" concluiu Skye, irritada.

"Ele vem para cá?"

"Já devia ter chegado"

Skye pegou o martíni e retornou ao living. Sua primeira preocupação foi fechar às pressas a cortina que Thomas deixara um palmo aberta. Depois acendeu a luz de um abajur e apagou a geral. Queria mostrar-se segura, mas estava apavorada. O rapaz notava isso.

"Você está preocupada?"

"Se Jack demorar mais um pouco teremos de sair" avisou ela.

"Pra onde?"

"Rodoviária"

"Fazer o que lá?"

Tocou o telefone. Skye atendeu precipitada, depois de chutar um puff. Falava baixo, em tom cavernoso.

"Sim, ele está. Você não vem?"

"É Jack?" quis saber Thomas, aproximando-se.

"Então o que devemos fazer?" ela perguntou ao telefone, ignorando o rapaz. A resposta que ouviu deve ter sido monossilábica. "Certo" concordou, e já num clima de afobação desligou o aparelho.

"Queria falar com ele"

"Jack estava sem tempo para bate-papo. Cortou a ligação. Vamos depressa"

"Pra onde?"

"À rodoviária, já disse" mas a garota não saiu logo, antes foi espiar, cautelosa, à janela, empurrando ligeiramente a cortina. Tornou a fechá-la. "Agora podemos ir"

"De onde Jack telefonou?"

"Não deu para dizer. Havia gente nos calcanhares dele. E talvez os caras apareçam por aqui"

"Aqui?"

"Podem estar a caminho"

"Por que não entregamos a caderneta à policia para acabar com isso?"

"Ora, por quê..."

"Quero saber" insistiu Thomas, firme, crescendo para tomar o comando. "Não pretendo morrer por causa dessa caderneta. E já estou cheio dessa história. Acho que você é meio biruta, de tanto assistir filmecos na TV."

"Ah, quer saber?" perguntou Skye em tom de desafio, cara a cara.

"Claro"

"Porque seu irmão está metido nisso até o pescoço" ela disse numa só emissão de voz. "Se a caderneta cair nas mãos da polícia ele também se complicará. Entendeu agora?"

Thomas respirou fundo.

"Quer dizer que Jack é da quadrilha, é isso?"

Ela virou o resto do martíni que estava no cálice. Não era fácil revelar.

"Era. Vamos agora"

Thomas seguiu Skye ainda não entendendo nada. Enquanto desciam as escadas, perguntou:

"Você disse era, então ele rompeu com a quadrilha?"

"Jack se apoderou dum montão de dinheiro deles. Têm medo de que fuja com o dinheiro e principalmente com a caderneta, onde estão anotadas todas as informações do grupo, entendeu? Jack era uma espécie de cobrador da turma"

Chegaram à rua e seguiram para a esquina próxima quase em ritmo de fuga. Antes de dobrá-la, Skye olhou para trás e Thomas fez o mesmo. Vira, um carro de luxo parar diante do prédio amarelo e dele descer um homem.

"É esse!" exclamou Thomas "É ele!"

"Ele quem?"

"O home alto, de óculos escuros, que vi entrar onde moro"

Skye olhou de relance.

"Moço de sorte, você. Escapou do Geovani duas vezes no mesmo dia"

"Quem é Geovani?"

"Um dos maiores criminosos deste país. Com essa sorte você devia arriscar na loto"

12 Horas de TerrorOnde histórias criam vida. Descubra agora