Capítulo I

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      Tentávamos juntar algumas coisas que restaram no meio da infinita bagunça

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      Tentávamos juntar algumas coisas que restaram no meio da infinita bagunça. Era uma tarde de quinta-feira. A tarde mais triste de toda a minha vida. Ver a minha província destruída me deixava mais que angustiada.


O ar daquele lugar — mesmo que fosse poluído e cheirasse a madeira sendo queimada— me fazia sentir-se em casa. Até aquele aroma se perdera durante a guerra. Talvez, não restasse madeira para ser queimada.

Era deplorável. Observar a miséria do lugar onde nasci não era algo fácil. Estávamos a poucos passos da lama. Doía-me saber isso. Todo o pouco que muito lutamos para conseguir agora estava arruinado.

O Supremo não me parecia muito abalado. Pelo contrário, eles se reergueram facilmente. Mas para nós, não seria tão simples assim. Éramos pobres, éramos nada. Absolutamente invisíveis aos olhos da capital. Abaixo do estado cinco — do seis até o dez — todos eram insignificantes para o Supremo.

Encontrei no meio dos escombros uma regata de Amy, minha irmã caçula. Estava rasgada e suja, não muito diferente das nossas roupas. Éramos maltrapilhos agora.

— Tentarei consertar. — prometi a ela. — Alguns pontinhos resolverão.
Se antes já não tínhamos nada, agora tínhamos menos que nada. Era difícil aceitar. A ideia de recomeçar me amedrontava. Talvez não fossemos capaz de sobreviver nem mais duas horas.

E neste instante, lembrei-me do décimo estado. Se Warner estava devastada, deles não devia ter restado absolutamente nada inteiro, isto é, se ainda existissem. Era doloroso encarar aquilo. Não estava pronta para ouvir que aquele lugar sumira para sempre do mapa.

   — Pai, o que foi feito do dez? — perguntei.
   — Na verdade, não sei. Mas acredito que não há mais nada além de destroços.
Sua voz era calma, mas não escondia a amargura.

Continuei tentando colocar ordem na casa. Parecia uma tarefa inacabável, mas aos poucos íamos conseguindo levar cada objeto de volta ao seu lugar.
   — Kathy! — James entrou gritando meu nome.
   — Fale. — disse, enquanto arrumava em cima da mesa um único vaso que ficara inteiro.
Não dei muita importância, James vivia me gritando para lá e para cá, e na grande maioria das vezes eram coisas tão sérias do tipo "meu cadarço está desamarrado".

   — Tem um oficial do governo aí fora. Ele quer falar com a dona da casa. Parece que estão coletando os números de mortos e feridos. Vai ser anunciado no sábado, no News Supremo. — explicou.

Parei imediatamente oque fazia. Oficial do governo? Como se importasse para eles quantas pessoas havia morrido ou estavam feridas. Eram apenas taxas. Apenas conteúdo para que o News Supremo fosse ao ar. Na realidade, pouco ligavam para a nossa situação. Por acaso iriam ali oferecer ajuda? Comida, agasalho, reforma na moradia? Nunca! Éramos nada mais que oitos. Nada mais que á toas. O Supremo esquecia-se somente de uma coisa, éramos nada menos que gente.

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