Capítulo II

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Eu e Nina botávamos a mesa enquanto preparávamos sopa e torradas para o jantar. Assim que terminamos, coloquei as poções nos pratos e guardei a minha parte.

   — Está na mesa. —chamei.
James logo surgiu. Parecia faminto. Peguei um copo com água e sentei no meu lugar a mesa. Não demorou muito para todos chegarem.

   — O que queriam os oficiais do governo? Sobre o que perguntaram?
A voz de Thomas tinha pitadas de animação e curiosidade. Tinha também, toneladas de admiração. Ele sempre sonhara em ser um Supremo ou do primeiro estado. Meu irmão os vangloriava. Não sei como conseguia achar que um dia olhariam para ele.
   — Coletar conteúdo para o News Supremo de sábado. — o respondi com um pouco de ironia.

   — Estavam fazendo balanceamento da quantidade de mortos e feridos. — explicou James.
   — Gostaria de ter falado com eles. Vi apenas os guardas fazendo a escolta. Queria parabeniza-los pelo trabalho bem feito. Vencemos a guerra, não vencemos? Ainda somos a maior nação.

O modo orgulhoso como ele falava me assustava um pouco. Será que ele era incapaz de perceber o quanto éramos insignificantes para a capital?

   — Não entendo porque tanta veneração. Eles pouco se importam se estamos vivos ou não. Só vieram aqui por dados que devem ser recolhidos. Apenas. Se acha que estão comovidos com a nossa miséria, engana-se. —minha voz tinha um forte tom de revolta.

   — Não entendo você, ser contrária ao Supremo. Eles sabem o que é melhor. Dão-nos tudo que precisamos: emprego, proteção, educação, hospitalidade... — Thomas fez uma pausa breve para enfiar uma colherada na boca. — Deveria reconhecer isso Kathy. Até hoje não compreendo o porquê de você guardar a sua janta para aqueles miseráveis que nunca te darão nada em troca. Deveria se alimentar, e agradecer á capital pela comida.

Aquelas palavras me encheram de raiva. Como meu irmão poderia pensar daquele jeito? Como era capaz de agir como um Supremo — com a mesma frieza e desigualdade; sendo que era do oitavo estado? Como podia achar que o governo nos dava tudo que precisávamos? Como não tinha compaixão por seus iguais?

Todas as noites eu guardava parte da minha comida para levar para as pessoas do décimo. Eles precisavam mais do que eu. Era tudo que eu podia fazer. Eu tentava, pelo menos. Jamais seria capaz de me enfartar sabendo que do outro lado de uma cerca pessoas morriam de fome. Jamais. Atitudes como as do Supremo não eram do meu caráter, em ângulo algum. Fazia isso de coração. Por tentar salvar vidas. Como Thomas era capaz de vê-los daquela forma? Miseráveis. Como?

   — Cale a boca já! — o repreendi. — Saiba você, que somos tão miseráveis quanto eles. E o Supremo nunca se importou e nunca se importará conosco. — o encarei, séria. — Está de castigo. Doará parte da sua janta todas as noites durante uma semana. E agora, já para o quarto. — ordenei, aborrecida.

   — Pai... — ele apelou.
   — Sua irmã está certa. Obedeça a ela. — meu pai se pronunciou pela primeira vez na conversa.

Thomas arrastou a cadeira para trás, fazendo-a ranger pelo atrito com o chão. Levantou num impulso rápido e seguiu para seu quarto. Bateu a porta com força. Poderia tê-la quebrado.

   — Não tente muda-lo, querida. É um esforço em vão.
A voz do meu pai soava calma, como sempre. Ele era um grande exemplo de pessoa. Sabia como lidar com cada gênio. Sabia respeitar cada um. Por mais que tivesse uma ideia formada, era flexível.

   — Não consigo aceitar. Ele acha que um dia será visto? Não passa de um moleque de Warner.
Meu pai fez que sim com a cabeça, como se dissesse "eu sei".

   — Estarei lá fora. Quando terminarem, me encontrem para irmos a dez. — disse á minhas irmãs e saí em seguida.

Sentei-me no batente da frente da casa, sob a luz da lua e o brilho da estrela.
Observei o céu por instantes e lembrei-me de Austin. Fazíamos aquilo juntos.

A brisa noturna era menos gelada quando eu estava em seus braços. Pude sentir lágrimas brotando em meus olhos, era inevitável.
Perder. Perder dói, e a vida é perda lenta de tudo que amamos.

Primeiro, minha mãe. Ela se fora durante o parto de Amy, há cinco anos. Eu nunca superara aquilo. Com o tempo, cheguei a me acostumar com a dor e a saudade, mas, jamais, esquecer. Ás vezes, quando as coisas parecem desmoronar sobre a sua cabeça, você só precisa de um colo de mãe, e a minha não estava lá quando mais precisei.

Depois, Austin, quem eu me apegara durante longos três anos. O recrutamento me fez esse favor.
Quando você só tem uma pessoa em quem se apoiar, uma única fortaleza para te ajudar a manter-se de pé, e isso vai embora, não é uma experiencia fácil, acredite.

Saudade tem rosto, nome e sobrenome. Saudade tem gosto, e é amargo, pode crer. Saudade é a vontade que não passa, o grito que não se cala. É a vontade de voltar no tempo, a ausencia que incomoda, a prova de que tudo valeu a pena.

É o que ficou de bom, de quem já se fora. É um sentimento que não cabe no coração, e escorre pelos olhos. Algo que nem bate na porta, e já atravessa a alma.

Eu sou forte, sempre fui. Mas todos têm seus momentos de fraqueza.
E cada momento lembrado, vem acompanhado de uma nova lágrima que se forma em meus olhos. Mas isso deve ser um bom sinal, sinal de que por algum tempo conheci o mais puro e valioso sentimento... O amor.

Minha mãe me ensinou aamar, e foi aprendendo com ela, que meu coração transbordou, fazendo de cadadecepção uma vontade de amar, de espalhar algo além da maldade.
Não poderia trazê-los de volta, então, me limitava ás memórias. 

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