O Personagem Que Saiu dos Livros

Frustração

''- Você me deixa doido - ele sussurrou para Kate, rodeando sua cintura e a puxando para mais perto de seu corpo musculoso e quente.

Ela precisou conter o suspiro. Louis era seu professor! Os dois nem deviam encostar suas mãos na do outro, muito menos estar com os corpos grudados.

- Nós não podemos - ela respondeu no mesmo tom.

Kate podia forçar em sua mente que ela, aluna de vinte e um anos, devia se manter distante do professor de italiano. Mas Louis a desejava e ela o queria também. Não dava para ignorar a química que emanava seus poros.

- Podemos, ragazza. Somos maior de idade, é só não deixarmos ninguém nos ver.

Ele tocou suas bochechas com o polegar e a observou tremer em seus braços largos. Sabia que utilizar seu sotaque era apelação, mas não conseguia evitar. Isso era Louis e ele tinha certeza que falar seu idioma original faria Kate derreter.

- Nós estamos bem no meio da universidade, professor. Precisamos parar.

Ele inclinou o rosto sobre o dela e esfregou seus narizes, angustiado por saber que a aluna tinha razão e ainda assim ele queria beijá-la.

- Me chamar de professor não ajuda, Kate...

Ela piscou seus cílios longos e ele acabou por não resistir, passou seu braço, antes na bochecha dela, agora segurando os cabelos curtos em sua nuca.

Louis queria beijar seus lábios, precisava mordiscá-los para sobreviver e não conseguiria respirar se deixasse o desejo de lado. Por isso encostou suas bocas, fechando os olhos e respirando fundo, sabia que perderia o fôlego e que não seria o mesmo depois disso.

Cuidadosamente, tocou sua língua nos lábios fechados dela e...

E...

E...''

- Que droga! - berrei para mim mesma, afastando o notebook de mim e o deixando do outro lado da mesa.

Aquilo não estava funcionando.

Eu já estou completamente de saco cheio, não dos personagens, eles são incríveis e se comunicam comigo com uma facilidade invejável, mas o fato de que saí da minha área de conforto é um porre.

Sim, sou conhecida mundialmente pelos meus romances clichés e meigos. Personagens que são quietinhos, sofrem por um amor não correspondido e que são puros como a água de uma cachoeira. Nos meus primeiros três livros, ninguém criticou dizendo que eu precisava descrever o algo a mais, mas os leitores estão ficando desejosos e recentemente passaram e implorar por esse mais. Eles querem ver o outro lado da pureza e dos personagens ingênuos, eles querem fogo, brasa, sexo quente e inesquecível...

Isso não é algo que eu saiba escrever e é por esta razão que estou quebrando minha cabeça.

Kate, personagem do meu quarto projeto, é estudante de letras com foco em italiano. Ela tem aula com Louis, o professor de literatura italiana que fala o tal idioma por ter nascido na própria Itália. Os dois começam a se sentir atraídos um pelo outro e a trama passa a desenvolver.

Ela tem vinte e um anos, ele tem trinta e é claro que eles precisam se envolver sexualmente quando algo mais rolar entre os dois e é esse o ponto, o G da questão.

Eu não sei escrever uma cena de sexo incrível!

Eu nunca tive uma noite de sexo incrível! Como é que vou narrar algo que nunca tive? Assistindo vídeos pornôs? Sem chance. Lendo Cinquenta Tons de Cinza? De jeito maneira.