Aula Particular

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Nem preciso citar que quase não dormi depois disso, certo? Ainda mais que, na manhã seguinte – enquanto eu escrevia – alguém tocou a campainha.

Eu estava uma bagunça só e nem mesmo tinha trocado minha camisola.

Caminhei até a porta e sondei meus cabelos revoltos num coque durante o caminho. Destranquei-a e meu coração saltou.

— Puta merda! — assustei-me e tapei a boca, notando, tarde demais, que precisava mesmo era cobrir meu corpo.

Joshua riu e sorriu para mim, como se fosse super comum tê-lo na minha porta logo cedo. Caramba, ele nem mesmo morava aqui! Como é que me achou tão fácil?

— Bom dia, Jennifer — saudou-me com os cabelos bagunçados e os olhos azuis brilhando, tentando não medir-me de cima a baixo.

Não tinha como garantir que ele não o faria em qualquer outro momento.

— O que faz aqui? — perguntei.

Ele riu e levantou as sacolas em suas mãos. Eu podia ver as alças de uma mochila em seus ombros também.

— Vim dar uma aula particular à minha aluna preferida — admitiu. —, mas antes temos que tomar café, certo?

Certo?

— Eu...

— Posso entrar?

Nem mesmo se eu quisesse eu seria capaz de negar sua entrada. Ele já estava em minha porta mesmo, com comida em sacolas e todo um material que eu não sabia pelo quê era composto em suas costas.

De onde foi que essa intimidade surgiu? Nós nunca nem mesmo trocamos olhares a mais nas poucas vezes em que nos vimos. Eu teria notado se isso tivesse acontecido, não?

— Pode — sussurrei, meio incerta do que dizia, mas sabendo que não tinha outro caminho para seguir.

Cheguei um pouco para o lado e abri mais a porta, deixando que ele entrasse e apontando onde ficava a cozinha com o dedo.

— Vou arrumar as coisas na geladeira, se não se importa.

Eu me importo? Nem sei. Vê-lo de costas me deixou distraída. As coxas grossas eram adornadas perfeitamente pelo jeans escuro que ele vestia e, apesar de homem, tinha uma bunda avantajada que qualquer mulher magricela invejaria ter.

— Não, tudo bem, eu vou só... Eu já volto — encurtei a frase e corri para o meu quarto.

Precisava trocar de roupa e colocar algo que cobrisse melhor o meu corpo, eu não me sentia confortável com a presença de Joshua. Cara, nós só nos vimos três vezes! Claro que conversamos por anos e, nas últimas noites, evoluímos nosso relacionamento em cem por cento, mas... Continua sendo esquisito.

Descalça, voltei para o primeiro andar, respirando fundo antes de entrar na cozinha. Ele já parecia se sentir em casa e tinha armado uma bela mesa de café da manhã para nós dois.

— Preciso dizer que prefiro a camisola a essa roupa — afirmou, sem vergonha e desinibido como nos e-mails trocados pela madrugada.

Eu corava ainda mais quando sua voz era presente como agora. Não envergonhada por ter quase colocada uma camisa de manga comprida no verão apenas para me proteger dele, mas pelo fato de que, sim, ele tinha me avaliado enquanto eu vestia a camisola.

Homens são rápidos.

Não que eu tivesse ficado para trás.

— Joshua, preciso dizer que eu estou surpresa.

O Personagem Que Saiu dos LivrosOnde histórias criam vida. Descubra agora