Anita

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- Você está viajando! Não faz o menor sentido!

Apesar da afirmação de Anita, a Gabi não estava viajando. E, sim, fazia total sentido. Os sinais ficavam cada vez mais evidentes. Qualquer pessoa mais próxima dela era capaz de notar o que Gabi tinha dito. Com um mínimo de esforço e alguma memória, era possível ligar os pontos.

- Anita, por favor, seja razoável. A cada cinco frases, em uma delas você fala o nome dele. Você muda totalmente quando ele está por perto. Até seu comportamento em sala de aula é diferente quando é com matéria dele.

- Para, Gabi! Você está vendo coisas onde não tem. Somos amigos. Amigos, não! É muito forte. Temos uma relação bacana. Gosto de estar com ele. Admiro a inteligência dele. A conversa é sempre interessante. Além de ele ser divertido comigo. Mais nada.

Anita estava convicta que era tudo sempre coisa da cabeça da Gabi. Inclusive durante esta conversa que aconteceu quando estavam no terceiro período da faculdade. No primeiro período, os sinais eram fracos. Contudo, uma pessoa com um olhar mais atencioso perceberia algo de estranho no ar.

- Quem é ele?

Anita perguntou para a Gabi quando um professor interrompeu a aula delas para conversar no corredor algo com a professora. Obviamente a Gabi não tinha a menor ideia de quem se tratava. Afinal, não tinha nem duas semanas que elas estavam na faculdade. Por sorte, uma aluna repetente que estava por perto ouviu e tentando ser simpática respondeu. Era o professor Guilherme, mais conhecido como Gui.

- Ele faz um tipo bonito, não? – Perguntou em seguida a própria veterana.

Meio embaraçada com a pergunta feita, Anita disfarçou. Disse que ficou curiosa pelo fato de ele interromper a aula e a professora ser tão solícita ao seu pedido de conversar em particular. Ela insistiu na teoria que ficou intrigada achando que se tratava de algum cargo maior na instituição, tipo o coordenador ou reitor. A veterana riu da suspeita da Anita. O professor Guilherme nem chegava perto de ser uma autoridade na instituição. Mesmo assim, era mais famoso que o próprio reitor. Ele era talvez o professor mais popular da faculdade e, por isso, existiam várias histórias sobre ele. Ou era ao contrário, ele era famoso por conta das histórias.

- E vamos ter aulas com ele? – Anita continuava perguntando sobre o tal professor.

Antes que a veterana pudesse responder ou que a Gabi conseguisse notar algo de estranho no incansável questionamento de Anita, a professora retornou à sala e deu prosseguimento a aula. Frustrada e ainda curiosa, Anita se virou para trás e olhou para a veterana como quem cobra o que ficou faltando. A resposta veio na forma de um malicioso piscar de olho e um gesto com a mão indicando que teria muitas aulas.

- Mas eu guardei lugar para você aqui.

A Gabi estranhou quando Anita, no primeiro dia de aula do segundo semestre, escolheu se sentar na primeira fileira. Elas nunca foram do grupo do fundo da sala, todavia não eram de ocupar as primeiras fileiras. O estranhamento seria respondido quando o professor da disciplina entrou em sala. Era o Guilherme com suas tradicionais calças jeans surradas e justas. Gabi achou aquela imagem tão interessante que cogitou se sentar também na primeira fileira. Depois refugou. Afinal, ele era bem mais velho que ela. Nunca curtiu homens mais velhos. Com esse mesmo pensamento, Gabi achou que a escolha da Anita de se sentar na primeira fileira era muito mais para ter foco que o professor em si. Por conta disso então, não enxergou o segundo sinal.

- Você teria um minutinho?

Assim que acabou a aula, Anita foi falar com o Guilherme. Ela, supostamente, tinha algumas dúvidas a tirar. Normalmente, ao final da aula, raramente alguém ficava para tirar dúvidas. Tudo que os alunos queriam no segundo período era pular fora da sala e ir para algum bar nas proximidades. Assim, ter alguém ao final para tirar dúvidas era estranho, ainda mais no primeiro dia de aula quando poucas coisas foram ministradas. De qualquer forma, o Guilherme, sempre simpático com os alunos, respondeu tudo de forma atenciosa para a Anita que não continha o rubor do seu rosto.

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