Bônus - Nascimento de Morgana

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Empurro uma última vez, com toda a raiva que reuni dentro de mim e sem olhar para trás eu finalmente me vejo independente. Não foi nada fácil contornar o Martin e a Megan ao mesmo tempo, mas o resultado final tinha valido a pena.

Da primeira vez que eu tinha tentado sair, o Martin tinha se tornado uma corrente presa ao meu pé, e ele me fincou de um jeito no chão, que não consegui sair. Quando ele se distraiu, eu joguei aquela corrente o mais longe que consegui.

Martin estava enfraquecendo dentro da cabeça da Megan a medida que eu ganhava o meu valor. Ele mal aparecia e suas forças eram drenadas a uma velocidade impressionante.

A terra é macia e diferente de tudo aquilo que eu já tinha experimentado. Foi diferente sentir a umidade da terra abaixo de mim, sem ser na dependência da Megan. Ela deslizava quente entre os meus dedos.

Um vento veio soprando e beija a minha bochecha esquerda. É incrível como esse momento, quando finalmente apreciado completa e unicamente por mim é diferente. É especial.

Tento me por de pé, mas não consigo. Olho para o lado e vejo o meu complemento e sorrio. Ela não tinha suportado a nossa separação. Acho que ela se desligou, somente assim para que ela suportasse. Minha visão ainda estava se habitando ao meu novo corpo.

Não somente a minha visão, mas todos os meus sentidos estavam despertando lentamente, se adaptando ao novo hospedeiro. Meus sentimentos também despertam. Tudo o que é primitivo em mim, acorda para a vida.

Tenho que fazer alguma coisa, não posso ficar aqui parada, dando bobeira. Logo iam perceber o que tinha de errado, isso é se não já descobriram.

Meus olhos finalmente se adaptam e consigo ter uma visão boa de todo o ambiente que me cerca. E uma coisa me chama a atenção. Todo o sangue derramado naquela batalha estava transbordando em ódio. Todo aquele sangue me faria ficar melhor.

É fácil se alimentar de ódio. É fácil deixá-lo crescer dentro da sua alma e esperar que ele te consuma e te faça ir em frente. Sei que a Megan acredita que o ódio não nos faz seguir em frente, mas ela está redondamente enganada.

Ele é a ferramenta que nos faz nos mover mais rapidamente.

Por isso não pude deixar de abrir um enorme sorriso ao sentir a terra em meus dedos molhada com esse sangue cheio de ódio. Sangue de ódio derramado sem um motivo nobre.

A incompreensão, as vidas perdidas, os momentos que nunca seriam vividos por aquelas pessoas. Tudo praticamente jorrou para dentro de mim. E eu senti o que se passava no coração de cada um.

Senti a força que cada um tinha. A força que cada um deles desejava não morrer. Fechei os olhos para aproveitar melhor as sensações. Era incrível.

Já tenho força suficiente para me colocar de pé. E quando me dou por satisfeita de todos aqueles sentimentos, abro os olhos. Tudo parece acontecer em câmera lenta diante de mim. É impossível não rir por conta desse cenário.

Me movimento um pouco, para me adaptar melhor aos meus novos músculos e movimentos. É então que meus olhos caem mais uma vez em cima da minha outra metade.

Ela parece patética e indefesa ali deitada no chão. Ela nunca vai ter a mesma força que eu se não perceber de onde a nossa verdadeira força vem. Até penso em me aproximar dela, mas sinto um olhar em mim.

Era Adam. O que será que eu posso fazer com ele agora? Quem sabe se eu fizer alguma coisa agora, o nosso poder desperte de vez. Meus olhos se prendem nos dele e mesmo a ideia de machuca-lo seja bem atraente, algo ainda dentro de mim não me deixa.

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