Fiction

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Estava no meu quarto organizando minhas roupas jogadas no chão, quando meu irmão chama:
- Dani, desce aqui, temos que ir para casa do nosso pai.
- Ah, não! Eu sai de lá para não voltar, Mike! - Falo descendo as escadas. - Porque temos que ir?
- Eles querem fazer um almoço entre amigos e fingir que a família é unida, então temos que ir. Sobe lá, troca de roupa. Te dou cinco minutos.
- Você vai e eu fico! - Falo dando um sorriso fingido, já sabendo que não daria certo. Ele balança a cabeça negativamente e eu suspiro.
Subo as escadas me arrastando, apenas para irritar.
- Três minutos, Danielle!
E pelo jeito funcionou.
Coloquei a primeira roupa que achei e prendi o cabelo. Desci as escadas correndo. Meu irmão olhava TV, com o controle em mãos, passando os canais sem realmente prestar atenção.
- Voltei... - Falo sem vontade, me jogando ao seu lado, no sofá velho que ele ganhou dos nossos pais quando resolveu enfrentar a "aventura" de morar sozinho. Reviro os olhos e balanço a cabeça.
- Ei, por favor... se comporta, maninha. - Mike me olha preocupado.
- Não prometo nada. Tive motivos para sair daquela casa e vir morar com você e nossa mãe é o principal deles. - Faço uma careta e vou batendo o pé até a porta de entrada.
- Pelo menos tenta. - Mike diz vindo atrás de mim.
- Não prometo nada. - Repito e sento no banco do carona.
Fiquei em silêncio o caminho todo, olhando as ruas de Huntington Beach.
E foi por essas ruas que eu corri a 11 meses atrás.

*FLASHBACK ON*

Cheguei em casa e percebi que estava amanhecendo. Abri a porta, minha mãe estava chorando, com os braços cruzados junto ao peito... EBAH, ME FODI.
- Ah...m-mãe. - Eu estava me sentindo meio tonta ainda, por culpa do álcool e, com toda a certeza, cheirando a cigarro.
- Aonde você estava, Danielle? - Ela começa a berrar.
Se controla Danielle, se controla, não piti.
Respirei fundo algumas vezes, como se fosse resolver, nunca resolve.
- Não grita, que merda! - Aumento meu tom de voz. - Eu estava com alguns amigos, isso. - Falo um pouco mais baixo, tentando me controlar.
Ela fica de na minha frente, bufando de raiva e com lágrimas nos olhos.
- Olha mãe, eu bem, perdi a noção do tempo... - Começo a falar até que ela me interrompe.
- Perdeu a noção do tempo? Tenho cara de palhaça, Danielle? - Que vontade de falar que sim. Ela começa a falar cada vez mais alto. - Da pra sentir o cheiro do álcool e do tabaco de longe!
Reviro os olhos.
- Mãe, você não manda mais em mim, você não tem que ficar exigindo explicações do que eu faço ou deixo de fazer! - Coloco as mãos pra cima, ficando cada vez mais irritada.
- Embaixo do meu teto eu mando em você! - Ela vira de costas para esconder as lágrimas.
- Então, se embaixo do seu teto... - Faço aspas com os dedos. - eu não tenho liberdade, nem privacidade, eu vou embora! - Grito perdendo a paciência. Subo as escadas pulando alguns degraus e bato a porta do quarto quando entro. Pego minha mala e começo a jogar as coisas dentro.
- Danielle, abre essa porta agora! - Ela começa a bater sem parar.
- Para de bater nessa merda, eu vou embora! - Dou um soco na porta. - Eu falei! - Grito.
  Faz muito tempo que eu já pensava em ir embora, eu e minha mãe não conseguíamos ficar um único dia sem discutir. Tudo tem seu limite e o meu já tinha chegado ao fim faz muito tempo, eu só precisava de uma boa desculpa para realmente fazer minhas malas e vazar daqui, e isso era o mais perto que cheguei de uma boa desculpa para fazer isso então não iria desperdiçar.
- O que está acontecendo aqui? - Escuto a última voz que queria ouvir nesse momento.
Merda pai, agora sim, ferrou tudo. Não posso e nem quero magoar ele.
Abro a porta e passo correndo por eles, com a mala na mão.
- Estou indo embora, ok? - Falo descendo as escadas.
- O que? Como assim? Ficou louca? - Meu pai começa a perguntar sem entender. Escuto os passos dele na escada. Respiro fundo, isso vai doer.
- Acho que fiquei louca sim, acho que sou louca, pai! - Falo num tom irônico. - Olha , não dando certo aqui, ok? respeita isso.
- Mas.. mas você vai pra onde? - Ele pergunta ainda confuso.
- Não sei ainda, qualquer coisa eu te ligo. Eu te amo, pai. - Falo de costas pra ele, segurando as lágrimas. Abro a porta e saio.
A última coisa que eu queria era magoar ele.

*FLASHBACK OFF*

E desde esse dia, eu não vejo e nem falo com meus pais.
- Dani, chegamos. - Mike coloca a mão no meu ombro, apertando de leve. - Só não briga com eles hoje, faz onze meses, eles estão sentindo a sua falta, tá bom?
Ele está com medo que eu acabe com o almoço, é claro, ele tem razão em estar preocupado, é típico de mim estragar tudo.
Só faço um leve aceno com a cabeça e saio do carro.

The SongOnde histórias criam vida. Descubra agora