Hoje era um dia típico de HB, bastante sol e calor, o céu estava claro e sem nuvens, o mar estava calmo, sem muitas ondas. Não era um dia bom para os surfistas. Eu estava usando uma regata, bermuda e meu All Star preferido.
E lá vamos nós, entrar no inferno.
Mike bate na porta e, para a minha fodida felicidade, minha mãe atende. Quando olho para ela sinto vontade de dar meia volta e entrar no carro novamente. Respiro fundo e continuo olhando com a pior expressão possível, de quem não queria estar ali.
- Mike, Danielle! - Ela abre os braços, Mike vai até ela e retribui, quando ela percebe que não vou abraçá-la ela sorri de leve tentando não demonstrar sua decepção e nos convida para entrar.
A casa estava diferente, as paredes eram verdes, agora são vermelhas, tinha um tapete no meio da sala que, com certeza, meu pai escolheu e no canto da sala aonde antigamente ficava minha estante de livros, agora se encontrava uma mesa pequena de dois lugares. Antigamente minhas fotos enchiam a estante da sala, agora só tinha no máximo três, sorri imaginando minha mãe tirando minhas fotos das estantes e trocando pelas fotos dela e do meu pai, enquanto guardava as minhas no fundo da gaveta.
- Aonde está o pai? - Ela me olha Impressionada por eu ter falado com ela, continuo olhando enquanto ela me olha de queixo caído, seguro o riso tentando mostrar impaciência. - Então, onde ele está?
- E-ele está lá nos fundos, com os amigos. - Ela gagueja.
- Obrigada. Vou lá falar com ele. - Olho pro Mike e balanço a cabeça de leve.
Saio correndo pela casa até a porta que dava para os fundos, aonde fica a enorme piscina que eu fiz meu pai comprar quando tinha 10 anos, só porque queria ter a piscina igual da Barbie, bem coisa de mimada, mas não era bem assim que funcionava, tive que insistir muito e voltar a tirar boas notas.
Sorrio com a lembrança, aquele tempo era ótimo.
- Pai. - Grito ao mesmo tempo que abro a porta.
- Gatinha! - Meu pai vem correndo até mim e me abraça com força. - Que saudades, filha! Faz tanto tempo, não aguentava mais ficar sem te ver.
- Verdade, eu também estava morrendo de saudades, pai. - Falo olhando para ele, tentando deixar o clima melhor e abro o meu melhor sorriso. - Anda malhando, garanhão? - Rio alto e dou um beijo na bochecha dele.
- Ha-ha-ha. - Ele ri do jeito mais falso possível. - Sempre engraçadinha. E sim, eu estou malhando. - Ele ri e mostra os braços.
Nem tinha percebido o quanto eu sentia falta das gracinhas do meu pai. Não só das gracinhas mas do jeito brincalhão e bem humorado, eu sinto falta de ser acordada por ele se jogando em cima de mim e fazendo meu café da manhã, da risada exagerada quando a gente começava a tirar com a cara da minha mãe, dele me chamando de bebê quando algum garoto passava me olhando e depois ria da minha cara. Sinto falta de quase tudo, mas não me arrependo das decisões que tomei e das consequências delas, eu estou melhor assim.
- Ei, quer mais cerveja, cara? - Um homem se aproxima da gente. Era novo, devia ter uns 25 anos mais ou menos, cabelo preto, pode ser considerado alto, os braços completamente tatuados com muitos monstros e outras coisas, lindos olhos castanhos e misteriosos que me encaravam de um jeito, podemos dizer, sexy. É bonito, bem bonito.- Quero. - Meu pai sai do nosso abraço e pega uma lata da mão do homem. - Filha, esse é Brian Haner Jr.
- Ah, Prazer... meu nome é Danielle. - Estendo a mão.
- O prazer é todo meu. - Ele sorri de canto, aperta minha mão de leve e demora mais que o necessário para soltá-la, sem desviar os olhos dos meus. - Quer uma cerveja? - Ele olha de canto para o meu pai. - Você pode beber, né?
- Posso. - Sorrio. Ele me dá a cerveja e abre um sorriso. Deus que sorriso lindo.
- Vem, você tem que conhecer o resto do pessoal. - Meu pai coloca a mão em volta da minha cintura.
Ele me levou para perto da piscina onde colocaram uma mesa grande e várias cadeiras. Meu pai me apresentou para muitas pessoas que nem lembro o nome, alguns falavam como eu era parecida com ele ou que lembravam de mim quando era criança e como eu mudei. Eu não fazia ideia de quem eram a maioria dessas pessoas.
Quando ele foi buscar mais cerveja dentro de casa resolvi me sentar em uma das cadeiras, olhei em volta e sentei na primeira vazia que achei, olhei para o outro lado da mesa quando sentei e esse tal de Brian me olhava sorrindo, achei estranho mas era impossível não retribuir o sorriso.
- Eai - Brian se inclina sobre a mesa para conseguir me ouvir. - Tudo bem com você?
- Tudo sim. - Sorrio e me inclino sobre a mesa também. - E com você?
- Estou bem... só um pouco curioso. O Paul nunca me falou que tinha uma filha...
- Psé - Fico um pouco sem graça. - Eu sai de casa um pouco cedo, então ele não gosta de tocar no assunto, ele sabe que se falar de mim vai falar da briga. - Ele me olha ainda mais curioso.
- Sem querer ser intrometido mas já sendo - Ele ri de leve - eu posso saber da briga? - Ele sorri de um jeito maravilhoso, então depois de alguns segundos pensando acabo cedendo.
- É, acho que pode, mas que tal irmos para outro lugar? Pode ter muitos fofoqueiros por aqui. - Olho para os lados e rio. - Vem. - Levanto e vou caminhando para o outro lado da piscina, sento na grama. - Se importa? - Olho para cima ao mesmo tempo que ele se senta do meu lado.
-Nem um pouco. - Ele toma a cerveja. - Faço isso quase todo o dia. - Ele sorri bebendo.
- Você vem aqui quase todo dia? - Acho estranho, minha mãe sempre odiou visitas, foi um milagre ela ter deixado meu pai fazer esse almoço.
- Claro que não. - Ele ri e me oferece a sua cerveja, nem percebi que tinha esquecido a minha em cima da mesa. Pego a cerveja e bebo. - Então porque você saiu de casa?
- Eu sai com alguns amigos, bebi e fumei, e quando cheguei em casa já tinha amanhecido e minha mãe estava me esperando, eu estava meio bêbada, a gente começou a brigar, eu me irritei, sai de casa e fui morar com o meu irmão. Foi mais ou menos isso que aconteceu. - Tento sorrir e abraço meus joelhos. - Mas foi uma das únicas coisas que eu não me arrependo de ter feito.
Ele me olha sério.
- Nossa história até que é parecida, o que mais diferencia é que eu parti pra luta com o meu pai. - Ele levantou os braços e defende o rosto dando saquinhos no ar. Começamos a rir. - Quantos anos você tem, Danielle?
- Pode me chamar de Dani. - Nunca gostei muito que me chamassem de Danielle. - Tenho 21 e você?
- Tenho 28. - Ele olha pra baixo e fica um pouco pensativo mas logo depois sorri de leve.
- O que foi? Porque essa cara? - Será que falei alguma coisa que não devia?
- Nada não, coisa minha. - Ele me encara. - Você namora?
- Não... - Olho pro lado um pouco constrangida. - Por quê?
- Não, nada, eu só... só pensei que uma garota como você tivesse um namorado ou algo assim... - Ele me olha e ri.
- Uma garota como eu? - Olho fixamente em seus olhos.
- É, uma garota tão linda. - Ele sorri sem desviar os olhos e ri de leve. Merda, eu sei porque ele está me olhando assim, com certeza, estou vermelha. - Tá com vergonha? Você tá vermelha. - Merda, sabia. - isso é fofo. - Ele passa as pontas dos dedos levemente pela minha bochecha.
- Não, isso é constrangedor. - Desvio o olhar enquanto ele continua acariciando minha bochecha.
- Ei, Dani, Brian, vamos almoçar! - Meu pai grita do outro lado da piscina.
Brian se levanta rapidamente, estendendo a mão para me ajudar, pego sua mão e ele me puxa com facilidade, como se eu tivesse uns 15 quilos. Olho para ele por um instante.
- Você é forte. - Sorrio e olho para os braços dele.
- Ah, só um pouco de musculação que obrigo seu pai a fazer também. - Ele flexiona os braços e me mostra olhando para os músculos.
- Nossa, convencido. - Dou um soco em seu braço e começo a rir.
O almoço foi silencioso, logo que terminei entrei na casa para pegar mais cerveja. Caminhei até a sala e me sentei nos primeiros degraus da escada, fiquei olhando em volta, lembrando de como era morar aqui. Eu correndo pelas escadas e minha mãe gritando comigo, eu deitada no sofá olhando filme e depois fingindo que estava dormindo pro meu pai ter que me levar no colo até meu quarto e sempre dizer a mesma coisa "Na próxima vez vou ter que alugar um guindaste." Eu sempre segurava o riso nessa parte. Eram lembranças boas mas tudo que é bom tem seu lado ruim...
- Posso? - A voz de Brian me tira de meus devaneios.
- Ah, sim, claro... senta aí. - vou um pouco pro lado para dar espaço pra ele.
- Você estava tão... concentrada, desculpa interromper. - Ele olha para as mãos.
- Não foi nada, só estava lembrando do tempo que morava aqui.
Ele me olha e sorri de leve.
- Dani? Você está aí? - Mike entra na sala me procurando. Ele para na frente da escada e olha para Brian por um bom tempo e depois volta a olhar para mim. - Você tá aí...Vamos? Eu tenho que arrumar umas coisas em casa.
- Claro, vamos. - Me levanto e vou até a mesa de centro, escrevo meu número de celular e vou até a escada, dou o papel com meu número pra ele. - Se quiser me ligar qualquer dia desses... - Sorrio e dou um beijo na sua bochecha. Vou até a porta e dou uma última olhada para ele antes de ir embora, ele estava olhando para o papel sorrindo.
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The Song
FanficComo uma vida muda de um dia para o outro. No início, e estava saindo de casa e indo morar com o meu irmão. Em um almoço entre família e amigos conheci o amor da minha vida, e agora estou aqui, dentro de um carro, ele dormindo em meus braços. Agora...