30. A carta

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Era sábado, acordei e adivinha qual foi a primeira pessoa em quem eu pensei? Eu não conseguia controlar. O que ele estaria fazendo? Será que ele estava feliz pelo menos? A ideia de que eu estava fazendo ele sofrer acabava comigo.


Olhei no celular, nenhuma mensagem. Levantei, fui pro banheiro e encarei o espelho. Parecia estar faltando alguma coisa. Um sorriso no meu rosto, talvez. Como eu podia sorrir sem o principal causador do meus sorrisos? Era ele que faltava. Fiz a minha higiene matinal, troquei de roupa e desci pra tomar café.


- Bom dia, querida. - Minha mãe sorriu.

- Bom dia, mãe. - Eu forcei um sorriso. Me sentei para tomar café.

- Tudo bem? - Ela perguntou, se sentando ao meu lado.

- Tudo bem e você? - Eu menti.

- Também.. - Ela voltou a sorrir.

- O Freddy ainda ta dormindo? - Eu perguntei, pegando uma torrada.

- Adivinha? - Minha mãe fez careta.

- É, ele esta. - Eu ri por alguns segundos.

- Ahn.. chegou essa carta pra você hoje. - Minha mãe estendeu um envelope.

- Carta? Pra mim? - Eu arqueei a sobrancelha. Estranho. Peguei o envelope e o olhei pro, tentando adivinhar quem teria me mandado aquilo. No envelope estava escrito 'Para Ana' com uma letra que eu não consegui reconhecer, talvez por que tinha acabado de acordar. Ainda estava meio lerda.

- Obrigada, mãe. - Eu sorri, agradecida. Minha mãe continuou ali, olhando pra minha cara. - O que? - Perguntei sem entender, enquanto tomava uma xícara de café.

- Você não vai abrir? - Minha mãe riu.

- Depois.. - Eu também ri. É claro que eu não abriria na frente dela.

- Hm.. é de algum admirador secreto? - Minha mãe riu, fazendo cara de desconfiada.

- Mãe, não existe mais isso de admirador secreto. - Eu gargalhei.

- Você esta insinuando que estou velha? - Minha mãe fez cara de má.

- Eu? Eu não.. - Eu segurei o riso. - Eu já to subindo pro meu quarto. - Eu ia sair de fininho. Minha mãe era meio revoltada com esses assuntos de 'velhice'.


Peguei o envelope com uma das mãos e uma torrada com a outra. Me levantei e subi em direção ao meu quarto. Acabei de comer a torrada assim que cheguei em meu quarto. Fechei a porta e me sentei em minha cama com o envelope nas mãos. Abri o envelope e encontrei uma folha de caderno dobrada ao meio.


- O que é isso? - Falei sozinha, enquanto abria a folha.




'REDAÇÃO DE SOCIOLOGIA

Nome: José Miguel

Meu coração parou, minhas mãos começaram a tremer no mesmo instante. Antes de continuar a ler, pensei se eu queria mesmo ler aquilo. Meus olhos se encheram instantaneamente de lágrimas. Voltei a olhar o papel em minhas mãos.

'Eu não sei fazer redações, muito menos sobre uma pessoa como a Ana. Eu não sei descrevê-la em palavras. Ela pode ser durona as vezes, mas eu sei, só eu sei o quanto ela é sensível e doce por dentro. Mesmo antes de hoje, eu já sabia. Eu sempre soube. Ela nunca me enganou.


Ela é diferente, sabe? Ela sabe o quanto é bonita e nunca fez questão de se exibir por isso. Diferente de todas as outras garotas. Eu não sei por que os caras não valorizam isso. Eu não sei como eles podem ser idiotas o suficiente em deixá-la ou dar o fora nela. Quer dizer... se fosse eu..' - As lágrimas escorriam pelo meu rosto, mas nessa hora eu soltei um sorriso espontâneo.

Until You ArrivedOnde histórias criam vida. Descubra agora