Capítulo 2

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Não importava o quão alta a música estava, eu ainda conseguia ouvir todas as conversas. Conseguia ouvir tudo aquilo que não me interessava, no entanto eu não resistia e tinha de ouvir.
Eu era muito metida na vida dos outros, gostava mesmo de imaginar ou inventar histórias sobre eles, apenas escutando um pouco das conversas. Ou, às vezes, nem era preciso ouvir conversas.
O simples facto de imaginar outras vidas, com outros caminhos fascináva-me.

A Kristen estava a passar algum tempo com o Aiden, e queria que eu ficasse com Lucas, um amigo de Aiden. Lucas era daqueles rapazes que deveriam ficar como amigos, para sempre. Já para não falar que o meu interesse por rapazes mimados é nulo. Eu preferia continuar a pensar num tópico para poder falar com o tal rapaz. Tinha vontade falar com ele, mas não sabia o que dizer. Como se eu quisesse mesmo falar com ele sobre um tópico que não existisse. Parecia que queria apenas ouvir os sons das nossas vozes.

Ele tinha vindo de manhã, o que não era normal às quintas. Talvez tivesse uma aula extra por causa dos exames, ou apenas queria ficar na escola a desenhar, o que era estranho porque deviam ser 8 e pouco. Caramba, queria mesmo ir falar com ele. Diziam que eu tinha jeito para entender as pessoas, apesar de eu nem entender a mim própria.

Estávamos a meio de junho, a temperatura estava a aumentar, mas aparentemente isso não era razão para não chover. Ficava-lhe bem o cabelo molhado. Ele tinha cara de Collin, não, Tyler. Nenhum deles parecia condizer totalmente com ele. Podia perguntar-lhe o que é que ele estava a desenhar. Ou podia contar-lhe que vejo todos os movimentos dele às quartas, encostado à parede do pavilhão em frente ao meu, e que quero sempre ficar à janela para poder imaginar as coisas que ele estava a fazer. Eu realmente não tinha muito que fazer. Mas não conseguia deixar de pensar na vida dos outros e imaginar o quão perfeita podia ser, ou pelo menos como eu imaginava que eram.

Faltava um dia, apenas um dia para a escola acabar. Depois disso podia nunca mais voltar a vê-lo. Podia dizer adeus ao rapaz que me dava sempre ideias de livros para ler.
Mesmo que não falasse com ele hoje, ia falar com ele amanhã.

Respirei fundo e levantei-me do banco mesmo em frente a ele. Senti que o meu coração ia saltar-me pela boca. De um momento para o outro não havia mais ninguém ali. Apenas  eu, o caminho até ele, e ele. Tudo o resto tinha desaparecido. A minha ansiedade fazia isso, fazia-me concentrar nos meus medos.
Parecia que aquele canto era só dele, apenas ele é que ia para lá. Algo me dizia que ia ser má ideia ir falar com ele. Ainda ia achar que era maluca. Esse era o meu problema. Achar logo que as pessoas me iam achar estranha. Pensava sempre que me iam julgar pela negativa, cresci com comentários negativos e isso começou a ser um problema. Mas não desta vez, meti isso de lado e sentei-me a pelo menos 20 centímetros dele.

- O que é que estás a desenhar?

Ele levantou rapidamente a cabeça, fitando-me por uns segundos. Eu gostava do facto de ele me olhar olhos nos olhos. A avó costumava dizer-me que isso era um ato de bondade, como se a pessoa estivesse realmente interessada naquilo que ias ou estavas a dizer.

- Nada de especial. - Ele chegou o caderno mais para o meu lado para eu conseguir ver todo o desenho, era uma rapariga. Estava incrível para ser honesta, tinha todos os detalhes, parecia tão real. - Apenas uma rapariga.

- Anda cá na escola?

- Não. - Ele suspirou - Conheci-a nas férias. Mas quem és tu?

- Desculpa nem me apresentei. Elisabeth.

- Will.

Finalmente sabia o nome dele. Realmente Will era o nome ideal para ele. Encaixava perfeitamente com aquilo que ele era, ou pelo menos com aquilo que eu achava que ele era.

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