Essas eram as últimas palavras das quais podia me lembrar, antes que tudo isso acontecesse. O rosto embaçado que insistia em perdurar em meus sonhos, ou melhor, pesadelos.
Eu não sabia o que tais lembranças poderiam significar, mas minhas pernas insistiam em se mover...
A estrada deserta é silenciosa, a não ser pelo fato de que o vento ricocheteava as árvores e farfalhava os galhos incessávelmente. Estava marcada por pegadas enlameadas que levavam a um desvio de terra na parte esquerda do acostamento. Era possível ouvir um choro intenso vindo de uma cabana de madeira rústica, algo muito familiar. Eram muitas perguntas que nem sequer possuíam respostas concretas. Quanto mais insistia em procurar alguma ligação entre o passado e o presente, mais minha cabeça latejava.
Não era mais suficiente usar minha resistência para dar fim àquele sofrimento. Às vezes desejava nunca ter descoberto minhas habilidades, pois fomos criados para matar e expelir qualquer sentimento que demonstre fraqueza, como um objeto de experiência científica.
Os que sobrevivem têm suas sugadas e controladas para servirem ao Estado. Os muitos que não conseguem abandoná-las completamente são caçados, como criminosos.
Eu diria que a maior arma de perseverança da espécie humana, o amor, foi corrompida pelo ódio e ambição de nossa própria raça. Passamos a ser prisioneiros de nossos pequenos fragmentos de recordações do que um dia poderia ter sido uma vida.
A clínica antes um para refugiados da era da evolução tornou-se campo para a extinção da humanidade, substituída por nós, os filhos da revolução.
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Fragmentos de Aço
ActionEm uma sociedade treinada para matar, a compaixão aos poucos foi se extinguindo. Eles virão atrás de você. Fuja... Não olhe para trás... Lembre-se de mim... E, acima de tudo, sobreviva.