O Caçador

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Eu não estava sozinho. Assim que o vento bateu a pesada porta de madeira escutei um rangido. Eu sei, pisos de madeira rangem conforme a temperatura muda, mas rangem também quando alguém está sobre ele.

A lareira está apagada, mas morna, o que significa que alguém havia acendido há dois dias, no máximo. Tudo esta em perfeita ordem dentro da cabana, mas aquele intruso me deixava intrigado. Matá-lo não seria difícil. Seria até bem fácil pela distância em que estava. Eu precisaria apenas arrancar minha adaga da bainha e arremessá-la para trás em um movimento preciso. Mas, o que ele fazia por ali? Os únicos que se interessavam pela cabeça dela eram: eu, Ele e meus capangas, que fizeram um ótimo serviço, devo admitir. Nem pegadas deixaram. Agiram como os fantasmas que somos. A essa altura a garota já deveria estar numa magnífica cela, tendo como companhia os e baratas.

Dava para sentir o medo e a curiosidade no ar gélido que preenchia a casa. Eu não tinha tempo para um paspalho curioso qualquer então, simplesmente me virei e sai do mesmo modo que havia entrado e, imediatamente senti as gotas gélidas encharcando meu capuz e meu corpo novamente.

Ele me seguiria e eu sabia exatamente o que fazer. Já havia me acostumado a cortar fios e arrancar circuitos inteiros, uma cabeça não seria muito diferente. Óleo por sangue. Fios por veias e artérias. Lataria por pele. Mas não tive problemas e pude seguir meu caminho em paz. Por enquanto.

A trilha já ficava difícil devido ao excesso de lama, mas isso não me impedia, era apenas mais um dia tempestuoso. Não parava de imaginá-la. Será que era muito nova, alta, baixa, gorda, magra, ruiva, loira, esperta ou lerda. Mas tudo se resumia a uma pergunta: o que ela havia feito? Não, não quero saber. O que tem de ser feito, será feito. Ele havia sido bem claro em suas palavras: lavá-la, viva ou morta e assim foi feito.


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