Capítulo 1: O que na verdade somos / Parte 3: Quem consegue ouvir a terra

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Narração - Hunter Collins
     Tic tic tic tic! Era esse o som que prendia minha atenção essa manhã. Por alguns minutos, estava focado no relógio pendurado na parede branca da cozinha, ao lado da geladeira. Não sabia bem o que esperar desse sábado, afinal seria um dia bem estranho. Sentia a terra vibrar de um jeito diferente, me alertando sobre mudanças. O ar parecia mais frio, apesar do sol já ter nascido e brilhar forte, às 08:00 da manhã. Já estava de pé desde às 07:00 e não tinha animo pra nada. Senti um vibrar forte no solo, e logo meus pensamentos foram interrompidos ao sentir um toque em meus ombros.
     - Como estamos hoje, Hunter? - reconheci a voz do meu irmão.
     - Estamos muito bem, Chad. - respondi num tom calmo.
     - Vai ao jogo da escola hoje? Posso ir também? Prometo não fazer... - ele me pedia animado.
     - Vou e não, você não pode ir. É pra adultos. Você só tem 13 anos. - o interrompi.
     Ele sorriu de uma forma irônica e saiu da cozinha a passos largos, que pude sentir sob o solo, como uma marreta sendo manuseada por um mestre de obras.
     - Ele não fez por mal. Só tá descontado em você involuntariamente. - eu disse em voz baixa, com minhas mãos ao chão.
     Meus pais já haviam saído pra escola, afinal os dois lecionam na Uper Side High School há 19 anos, e como era dia de jogo, era obrigatório os professores comparecerem. Inclui-se aí eu, por ser filho deles. Ou eu ia pro jogo ou eles me obrigariam a estudar com o Chad e ajudar em qualquer lição de casa que ele trouxesse. E então tive que ir ao jogo.
     Caminhando em direção à porta, percebi que estava esquecendo meu celular em cima da mesa. Estendi a mão e o trouxe pra perto, me sentindo preguiçoso por não andar até à mesa.
     - Você fez de novo! - meu irmão gritou da ponta da escada, apontando pra mim.
     - Fiz o que? - questionei, dando as costas a ele.
     - Levitou seu celular. - ele continuou gritando. - Como pode isso? Como você consegue?
     - Você tá vendo coisas, Chad. Não existe esse tipo de coisa. - respondi andando em direção à porta.
     - Vou contar pra mamãe. - me ameaçou.
Nesse momento me virei em sua direção e o encarei com um tom de raiva.
     - Se abrir essa boca faço você se sentir uma garotinha assustada até você completar 70 anos, tá me ouvindo?
     Ele sorriu assustado e acenou com a cabeça, concordando em manter silêncio.
Chad me espiava às vezes e já me viu levitar objetos e até fazer alguns feitiços fracos, coisa de principiante. Ele não era mau garoto, só era curioso.
     Sobre os feitiços? Não faz muito tempo que aprendi, mas também não é tão recente. Desde que completei 16 anos exatamente. Fazem alguns meses. Um dia vi um cara, que parecia velho, deixar, um tipo de papel enrolado, cair quando ia colocar no bolso de seu sobretudo, enquanto andava. Caminhei até lá pra pegar o objeto e devolver pra ele. Quando me agachei percebi que era um pergaminho e tinham coisas estranhas escritas nele. Tudo aquilo começou a brilhar. Lentamente eu me levantei olhando fixamente pra aquilo. E então uma visão de seis guerreiros lutando contra um cara com uma máscara de ferro veio a minha mente. Não conseguia ver mais nada além daquilo. Assustado eu fechei meus olhos e balancei a cabeça, fechei o pergaminho e me virei pra chamar o cara que tinha derrubado aquilo. Não havia sinal dele em lugar algum. Só então percebi que meu peito esquerdo tava ardendo e brilhando, mas isso apenas no contorno da minha marca de nascença, que era um triângulo perfeito apontando pra baixo, com um traço próximo a ponta. Tudo aquilo era muito estranho. Abri o pergaminho de novo e encontrei esse mesmo triângulo sendo reproduzido ali. E como num passe de mágica o triângulo virou várias palavras que iam e vinham sem parar. Tudo o que estava escrito ali eu podia ler claramente, o que não conseguia da primeira vez que vi o pergaminho.
     Depois disso voltei pra casa e li as coisas que estavam escritas naquele pedaço de papel mágico. Pesquisei algumas coisas e descobri que o símbolo no meu peito simboliza o elemento terra num tipo de linguagem mística. No pergaminho li sobre uma profecia que batia exatamente com o ano em que estamos. Contudo, concluí que sou descendente dos Voltors, um povo antigo capaz de controlar os elementos naturais, e muito mais, usando magia, feitiços. Meus pais tem algumas coisas pra me contar depois. Também descobri que existe um herdeiro especial, que pode dominar os quatro elementos naturais e vai nos liderar na batalha contra um demônio banido há 500 anos. Desde então estudei e pratiquei os feitiços contidos no pergaminho na espera do "grande dia". Meu objetivo agora era encontrar os outros três que poderiam dominar os outros elementos e o herdeiro que nos lideraria à vitória.
     Fui arrancado do pensamento com a buzina do ônibus da escola parado em frente à minha casa. Corri pra fora, atravessei o jardim e alcancei a porta do ônibus. Ao entrar acenei pro Sr Donovan, caminhei calado até o meu assento, no fundo no ônibus.
     Não se passaram 15 minutos e já estávamos em frente à escola. Desci do ônibus e caminhei pro pátio na entrada da escola, onde ficavam as mesas de almoço. Ao me sentar, peguei um livro qualquer que trouxe comigo e folheei até onde estava escondido o meu pergaminho. Comecei a lê-lo em busca de alguns feitiços que eu precisava me aperfeiçoar. Foi então ouvi um acelerar forte e senti, de uma forma estranha, uma energia mística. Levantei os olhos em direção ao carro, um Hyundai Sonata 2015, e de dentro dele saiu o capitão do time da escola, Kamdor Haymond. Ele começou a caminhar para dentro da escola. Quanto mais se aproximava, mais a marca em meu peito queimava. A energia mística vinda dele era enorme, levemente descontrolada. Ele parecia ter percebido meu olhar sobre ele e me olhou de volta. Nenhum de nós sabia como reagir, então ele acenou com a cabeça pra mim, que respondi da mesma forma e depois ele desapareceu dentro da escola e junto com ele a energia também se foi.
     - O que? Isso é possível? Essa energia veio... dele? - questionei em voz baixa. - Esse troglodita do futebol não pode conter magia... Ele não é sobrenatural. Ele não tem o dom. - Continuei dizendo a mim mesmo, não podendo acreditar que ele era uns dos descendentes dos Voltors.
     Tentei me distrair no estudo dos feitiços, mas é realmente difícil se concentrar depois de um acontecimento como esse. Só pode ter sido algum engano. Minutos depois fui tirado de meus estudos novamente por outra energia mística vinda do estacionamento. Um Toyota Camry branco estacionou há poucas vagas do carro de Kamdor e quem saiu dele foi Luxor, outro jogador do time. Ele ficou conversando com outro cara do time.
     - Meus poderes místicos tão de brincadeira comigo... Isso não pode estar certo. Com certeza não! - Eu disse em voz alta, sem me importar se alguém poderia ouvir.
     Decidi ir embora dali, precisava esfriar um pouco a cabeça. Como aqueles dois poderiam ser os outros descendentes escolhidos da profecia? Provavelmente eu não iria me surpreender e me contentar com os outros dois que restavam. Acho que vou ter que carregar todos nas minhas costas durante essa jornada.
     Cheguei ao campo da US, me sentei na arquibancada que começava a se encher aos poucos. Senti novamente uma energia mística, olhei a minha esquerda, do outro lado do campo, e avistei uma garota que não conhecia. Era uma líder de torcida da equipe dos Sharks. Ela estava com um grupo de seis garotas, todas se alongando e conversando alto. Minha marca em meu peito queimava. Notei que ela emanava uma energia mística forte e percebi que manipulava o ar em seu alongamento.
     - Não pode ser. É ela quem domina o ar. Será que ela sabe o que tá fazendo? - murmurei sozinho, enquanto a observava.
     Ao perceber que aquela garota me olhava, depois de notar que eu a estava observando, peguei meu celular e comecei a escrever textos aleatórios, pra disfarçar a stalkeada. Senti outra energia, dessa vez mais forte, olhei pra direita, no mesmo lado do campo em que eu estava, e pra minha surpresa estava Luxor Gray, fazendo palhaçadas com outro garoto do time.
     "Ele tem magia... ele emana magia. Era mesmo dele a energia que eu tava sentindo." pensei comigo mesmo.
     Logo depois senti a energia vinda de Kamdor, que passava por meio dos outros jogadores e se aquecia em uma das partes do campo. Fixei os olhos nele e de repente a energia desapareceu, como se alguém ligasse e desligasse um interruptor, todas as energias místicas, sentidas por mim, desapareceram. Não havia percebido, mas a arquibancada estava lotada, os jogadores já estavam se posicionando no campo.
     O juiz chamou os times, no intuito de dar início ao jogo. Fiquei atento a cada movimento de Luxor, que tava no banco de reserva, Kamdor, que se posicionava no campo, e aquela garota misteriosa da torcida dos Sharks, que fazia suas piruetas com toda a suavidade que adquiria do ar. Enquanto faz seus movimentos coreografados ela domina o ar, levita sobre ele e faz o que quer. Assim, começou o jogo e tudo seguia seu fluxo normal, menos eu, que sentia toda aquela energia mística espalhada pelo campo novamente.
     - Hunter, que bom te ver aqui! - uma voz familiar ecoou aos meus ouvidos. Olhei pra trás e lá estava Julie, minha parceira de laboratório.
     - Julie! Bom te ver também. - Respondi e em seguida a questionei sobre algo que eu precisava saber, sem dar tempo pra que ela tentasse continuar nosso diálogo - Escuta, quem é aquela garota, que lidera a torcida rival?
     - Ela se chama Kayra, é namorada do capitão dos Sharks. - Julie me respondeu.
     - Oh. - disse sem demonstrar reação. -  Obrigado! - agradeci me levantando e caminhando em direção à saída mais próxima.
     Ao sair do campo dei a volta pela a arquibancada, no intuito de ir até a lanchonete. Quando eu tava próximo a entrada da área arborizada, que havia disposta pros alunos, senti uma outra energia, diferente das outras três em campo. Ao me aproximar mais, pra ver quem era o dono ou a dona daquela energia me deparei com um grupo de relaxados que não conhecia. Não sabia de qual deles vinha a energia até ver uma das brincadeiras daqueles palermas.
     Um dos rapazes, um loiro, pegou uma das garrafas de água, que estavam dispostas a frente deles, e jogou a bebida em um dos seus amigos. O rapaz fez um movimento pra desviar, porém, de alguma forma, a água fez o caminho certeiro pro rosto dele. Aquele garoto loiro controlou a água.
     - Não pode ser! - disse pra mim mesmo. - Aquele cara domina a água... e nenhum deles percebeu... nem mesmo ele. - pude ver que nenhum deles se questionou sobre a água ter feito um leve desvio pro rosto daquele outro garoto magicamente, agiram como se tivesse sido algo natural. - Mas e se for algo natural... pra eles? E se todos souberem? - continuei a observá-los e, diante de suas brincadeiras e atitudes, pude concluir que nem mesmo o cara loiro sabia o que tinha feito.
     Balançando a cabeça, negativamente, caminhei em direção à lanchonete, eu tava faminto e como era dia de jogo, era costume da escola doar toda a arrecadação da lanchonete pro orfanato Uper Side. Andei a passos largos, cheguei à lanchonete e entrei, sem dar muita atenção às coisas a volta, me sentando à mesa mais próxima do balcão. Imerso em pensamentos peguei o livro que continha o meu pergaminho e continuei a estudá-lo. Isso não foi adiante por muito tempo. Desviei minha atenção pra uma questão importante e, de certa forma, decepcionante. Se aquela garota, Kayra, domina o ar e aquele cara relaxado domina a água, significa que Luxor ou Kamdor domina o fogo e um deles domina o espírito, domina todos os nossos elementos, é o nosso líder, o herdeiro escolhido. Realmente é decepcionante saber que vou ter que fazer parte de uma equipe liderada por pessoas que desconhecem o próprio espírito sobrenatural. Pra tentar deixar isso de lado me forcei a continuar meu estudo sobre os feitiços, e pouco depois eu havia conseguido. Pedi um café, waffles, geleia e ali permaneci.
***
     Passaram 20 minutos e o silêncio da lanchonete foi rompido por várias pessoas eufóricas com o fim do primeiro tempo do jogo. Me levantei pra jogar o copo de papel fora, o segurava em uma mão, e meus livros, junto ao meu pergaminho, na outra. Joguei o copo no lixo e ao caminhar três passos, me afastando da lixeira, esbarrei em Kamdor e deixei cair meus livros.
     - Poxa, cara, foi mal. Eu não te vi. - ele se desculpou.
     - Tudo bem, sem problemas. - respondi sem olhá-lo nos olhos.
     Me abaixei pra recolher meus livros, quando Kamdor também se abaixou e começou a me ajudar.
     - O que é...? - ouvi Kamdor começar a perguntar e notei que ele tava erguendo o braço pro meu pergaminho, que tinha caído pra fora do livro. Avancei em seu braço o mais depressa possível. Não sabia o que poderia acontecer se alguém que possuía outro elemento tocasse nele.
     - Não toque nisso! - não pude me conter e meio que acabei gritando.
     E então algo estranho aconteceu depois de eu encostar nele. Pude sentir toda a sua energia mágica emanar dele. Era uma energia poderosa. Aquela não era uma energia que viria de qualquer um que dominasse somente um dos quatro elementos. Nesse momento, minha marca queimou de uma forma insuportável e brilhou com muita intensidade, os olhos de Kamdor brilhavam num tom vermelho, atrás de sua orelha esquerda também era emitido um brilho, como o da minha marca em meu peito, e pude sentir uma energia ainda mais forte, como nunca sentida antes, a cada milésimo de segundo que se passava. A visão dos guerreiros Voltor lutando contra o ser da máscara de ferro veio a minha mente e um guerreiro de vermelho se destacou. A terra tremia, tudo girava e eu só conseguia focar em seus olhos, depois que as imagens foram embora. Ali estava a resposta da qual eu me questionava tanto, enquanto tentava me concentrar no estudo dos feitiços. Era ele.
     - É você... Você é o herdeiro mencionado por Galleon na profecia! - exclamei rapidamente.
     Nesse momento tudo escureceu, rodou e logo perdi os sentidos. Ouvi vozes chamando o nome do capitão dos Bulls. Logo então percebi vultos se aproximando de Kamdor e outros passando por mim.Foi a última coisa que eu vi e então desmaiei.

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Esperamos que tenham gostado, logo postaremos a segunda parte.
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Esta foi a terceira parte do primeiro capítulo, apresentando mais um de nossos personagens. Se gostou aguarde só um pouco que postaremos os próximos capítulos, que estão sendo elaborados.

Cada capítulo será dividido em partes. Abordaremos narrativas de primeira e terceira pessoa durante o decorrer da fanfiction.

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