Descoberta

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Gabriel piscou abruptamente os olhos, despertando de suas lembranças como num clique. Sempre mantinha aquela tarde em seu quarto na memória, embora não soubesse ao certo o porquê. Talvez gostasse de relembrar de uma Manuela tão leve e feliz. Ela transbordava vida, radiante como o sol que insistia em observar partir. De certa forma, o rapaz sentia falta daquilo. Do brilho em seus olhos e o sorriso sincero em sua face diante da janela. A garota ainda disseminava alegria por onde passava, mas era notável o cansaço que se apoderava de seu corpo a cada dia que passava. Aos poucos, a luz dela parecia ser ofuscada pelas dores e lágrimas.

E o garoto sabia que tudo aquilo começara após a entrega de seu diagnóstico. Fora uma das poucas tardes em que Manu não sorrira.


Três meses atrás...


Gabriel rumava apressado em direção a sala de estar, resmungando palavras sem nexo à medida que se direcionava a caminho da porta. Estava por deveras irritado com a campainha, que ressoara insistente pelo seu apartamento e lhe obrigara a correr do chuveiro. Sua camisa ainda estava largada em cima da cama, enquanto seus cabelos castanhos espalhavam água por toda a casa. Seja lá quem fosse, iria escutar poucas e boas por ter atrapalhado seu banho daquela forma.

Porém, quando o garoto enfim rodou a maçaneta e teve conhecimento de quem estava do outro lado, esqueceu-se completamente de quaisquer xingamentos que reservara.

Seus olhos estavam demasiadamente vermelhos, à medida que lágrimas desciam desenfreadas por seu rosto corado e inchado. Os cabelos loiros da garota caíam por seus ombros ainda mais desgrenhados que o natural — embora ela tentasse consertá-los, alisando-os em meio a sua respiração escassa e fungadas de nariz. Havia uma tristeza descomunal em seu olhar; Um pedido de socorro escondido por trás dele.

Gabriel assustou-se de prontidão. Manuela, que sempre se recusara a chorar mesmo em situações difíceis, parecia prestes a desabar na sua frente. Algo realmente grave havia ocorrido.

— Manu? — Seu rosto se contorceu numa mistura de confusão e desespero. — O que aconteceu?

A garota tornou a lhe encarar, secando com a palma da mão o rosto molhado. Sem pronunciar sequer uma palavra, ela se adiantou na direção do amigo, envolvendo-o num abraço quase suplicante por conforto. Sem saber como reagir, Gabriel apenas contornou os braços em sua cintura e colou-se a garota, deixando-a chorar livremente em seu ombro e sentindo todo o seu corpo estremecer.

O que aconteceu? O rapaz refez a pergunta de instantes atrás, por deveras assustado e perdido. A menina afastou devagar a face, desviando seu olhar para o chão numa tentativa de não encará-lo.

Eu fui ao médico Respondeu-lhe num sussurro quase inaudível. Recebi os resultados hoje.

E então? Ele descobriu o que há de errado? Gabriel pousou os dedos em seu pequeno queixo, erguendo-o e podendo assim observar melhor o rosto rubro da melhor amiga. Uma onde de expectativa e tensão se espalhou por seu corpo. Há tempos vinha esperando um esclarecimento a respeito da doença que possivelmente vinha atacando a garota.

Diante de sua indagação, cada mísero pelo do corpo de Manuela se arrepiou, e a reação não passou despercebida por ele. A expressão de tristeza da garota aumentara, enquanto mais lágrimas contornavam suas bochechas. Sim, ele descobriu Confessou, parecendo por deveras hesitante. Mas é melhor que veja com seus próprios olhos.

Olhe para o céu [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora