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        Acordei com o barulho de tiros na televisão que esqueci ligada na noite passada e com uma dor de cabeça terrível.

Pensei minuciosamente no que eu faria em um sábado de manhã e minha resposta de sempre seria "nada", mas apesar da dor de cabeça e a garganta dolorida, eu parecia bastante disposto a fazer algo.

Tomei um banho rápido e arrumei a bagunça da cozinha. Limpei a casa e quando olhei no relógio vi que eram dez e meia. Sai correndo e fui para o mercado de agricultores que tinha no bairro todos os fins de semana. Fazia seis meses que eu não ia até lá e algumas das pessoas das quais eu costumava ser cliente assíduo me olharam surpresas e felizes.

- Oi, Jack, quanto tempo. – Rose, uma senhora de uns oitenta anos me cumprimentou – O que vai ser hoje?

- O de sempre. – sorri. Eu esperava que ela se lembrasse do que eu sempre comprava, porque minha mente tinha apagado isso.

Ela entregou-me uma sacola com alguns legumes e lhe entreguei o dinheiro. Eu não lembrava nada do que eu comprava porque ultimamente eu simplesmente pegava o que fosse orgânico e já cortado nas geladeiras do mercado. Passei por outras barracas e peguei algumas outras coisas.

Caminhei até o açougue que eu costumava comprar antes de me render para carnes a vácuo e fatiadas. Minha alimentação estava mesmo uma bosta, mas a de Ava parecia estar pior.

Escolhi minuciosamente os pedaços de carne e uma peça grande de bacon com bastante carne, exatamente do jeito que Ava e eu gostávamos.

Cheguei em casa por volta do meio dia e me surpreendi por ter demorado tanto em algo que parecia ter sido rápido. Procurei por uma caixa de macarrão no armário e não encontrei nenhuma.

Eu não queria sair de casa novamente, mesmo sabendo que o mercado era no quarteirão ao lado. Respirei fundo até criar coragem de bater na porta de Ava, sendo recebido com uma cara mau humorada.

- O que? – ela falou com os olhos fechados – Você sabe que horas são? São tipo... – ela olhou para o braço – Sete da manhã.

- Primeiro que você não está usando relógio e segundo que já é mais de meio dia. – passei por ela e caminhei em direção a cozinha.

- Caramba. – ela bocejou – Dormi demais. – ela deu uma risadinha – O que você quer? Eu não tenho açúcar, nessa casa só entra adoçante.

- Sério? – apontei para um pote de açúcar que estava em cima do balcão.

- Isso é crack. – ela riu.

- Você tem macarrão?

- Oi?

- Eu não tenho mais macarrão em casa e não quero ir comprar, achei que você tivesse já que entra na lista de coisas industrializadas. – abri o armário onde ela guardava comidas.

- Você não costumava fazer seu próprio macarrão? – ela coçou os olhos.

- Já não faço mais isso tem uns seis meses. – falei envergonhado. Eu estava com vergonha em admitir o que todo mundo dizia: eu tinha parado minha vida por causa de Ava.

- Eu tenho aquele macarrão gourmet, serve? – ela abriu os olhos e ficou olhando para os lados.

- Sim.

Ela se agachou e abriu a porta do balcão, tirando de lá uma caixinha de macarrão que eu deveria pegar, mas não conseguia. Meus olhos não saiam do corpo de Ava. Ela empurrou a caixinha contra o meu peito e revirou os olhos.

- Obrigado.

- Não precisa devolver. – ela bocejou – Nem sei porque tenho isso se só sei fazer macarrão instantâneo.

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