Parte 1 - Eu sou a caça

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Diferentes, minoria, caçados...

Assim éramos nós em nosso tempo.

Meu companheiro e eu precisávamos repor nossos mantimentos. Para isso, fomos ao banco sacar o dinheiro necessário para aquela compra em particular e lá se iniciou nossa eterna fuga das autoridades. Éramos caçados por possuirmos o que muitos chamam de poderes especiais, ou se preferir, dons. Porém, ainda assim, éramos pessoas comuns que só queriam uma vida normal.

Eu estava no interior do banco e meu companheiro estava do lado de fora com nosso cachorro. Oficiais do governo, bem armados e protegidos, adentraram o local pelos fundos, surpreendendo a todos ao passarem pelas mesas dos gerentes, gritando e fazendo sinais com as mãos para que seus integrantes se espalhassem.

Assim que os vi, imediatamente entendi o porquê de estarem ali. Muitos já haviam sido descobertos e, naquele momento, eu seria a próxima. Busquei um esconderijo fazendo uso da arquitetura interna do banco, observando tanto o movimento dos oficiais como do meu companheiro que estava aflito do lado de fora. O cachorro ficou arisco, dando trabalho para ser mantido próximo.

Minha vontade era de dizer fique tranquilo e eles não vão me pegar. Só que, infelizmente, isso não condizia com a minha situação no momento. Eles estavam me cercando. Chegaram até a dar tiros de alerta dentro do local assim que as pessoas que eles sabiam não ter poderes especiais foram evacuadas. Assim foi até eu ouvir de um deles a seguinte frase:

O governo precisa de você.

Eu sei por que o governo precisa de mim, pensei. Já éramos vários no mundo, mas não tantos assim. Eu sabia muito bem o que o governo queria de mim. E justamente por saber é que não poderia permitir que me pegassem. Escondida atrás de um pilar, vendo o nervosismo do meu companheiro lá fora, agi. Coloquei parte da cabeça para fora de meu esconderijo, ficando à vista dos oficiais, e concentrei-me na solidez de uma das paredes opostas do banco. Imaginei linhas brancas desenhando um retângulo dividido em cubos maior que uma pessoa e adentrando a parede como um fantasma. Concentrei-me mais uma vez e o som agudo e rápido daquelas linhas imaginárias recortando a parede pôde ser ouvido.

Concentrei-me na destruição daquele bloco de concreto, espalhando os pedaços em cubos como projéteis, abatendo o máximo de oficiais que eu pudesse para garantir minha fuga. Naquele momento, apenas eu precisava fugir. EU tinha poderes especiais. No entanto, no desespero, meu companheiro acabou por fazer uso dos seus também. Com uma onda de força invisível ele destruiu a porta, jogando vários oficiais para longe. A nuvem de poeira que se levantou camuflou minha fuga, mas adornou a inclusão de meu companheiro na lista dos caçados.

Eu não queria que ele fosse um alvo também. Meu amor por ele desejava sua proteção mais do que tudo naquele mundo em que vivíamos. Porém, ele me amava também. Receber proteção dele seria como receber um presente divino.

Fugimos. Nós nos escondemos. Alguns anos se passaram até que o governo passou a se armar de caçados.

Eu sou a caça (em hiato)Onde histórias criam vida. Descubra agora