Estávamos no avião. Nosso destino era a grande potência mundial, aquela que iniciou o uso de divindades nas caçadas e instigou os demais países a fazer o mesmo. Acho que eu jamais deixaria de temer ser caçada por outra divindade, no entanto, durante boa parte do tempo que levou a nossa viagem, esse temor deu espaço à surpresa.
Mal acreditei quando vi que uma das divindades que iriam nos encontrar na instalação médica era uma garota de treze anos bem cheia de estilo em suas botas de cowboy, roupas casuais e os cabelos mesclados entre preto e rosa presos num rabo de cavalo. Ela se apresentou como Aquilla, o que me fez olhar para Ginger no mesmo instante. Deduzi que todos neste grupo de "divindades protetoras" possuíam algum nome de guerra enquanto Ginger dizia que ela era filha de uma oriental com um ocidental, o que explicava os olhos levemente puxados dela.
- Oiiii! Eu sou Aquilla e prometo que vou cuidar bem de você e do seu bebezinho. Eu só queria que a Ginger tivesse deixado a gente passar no drive thru depois de sairmos daqui. T.D. não quis me levar na lanchonete - disse a garota na sua apresentação, cruzando os braços e fazendo um biquinho.
T.D. era a outra divindade que nos acompanharia nessa viagem. Ele já tinha seus trinta e poucos anos e trajava terno, mantendo as mãos nos bolsos, chegando instantes depois. Fazendo um bico tão grande quanto o de Aquilla, ele retrucou ao ouvir seu nome ser dito de forma rabugenta:
- Não levei mesmo. E acho que já conversamos sobre isso, mocinha. Você é importante para esta missão e deve compreender que, caso Ginger precisasse de nós no momento em que recrutava Leon e Jéssica, deveríamos deixar o hotel imediatamente. Não poderíamos estar em outro local que não fosse lá.
- Aaaahh! Eu sei... - Aquilla desfez a cara feia. Percebi ali que, mesmo sendo tão jovem, ela entendia a responsabilidade que haviam colocado em suas mãos. Fiquei um pouco triste por ela, mas parei uns instantes para pensar. As crianças poderiam estar sendo transformadas em alvos tanto quanto nós, adultos, o que pode ter levado Ginger a ensinar Aquilla a lutar por sua liberdade ao lado dos mais velhos.
- Eu sou T.D., muito prazer. Estou aqui para cuidar do transporte de vocês.
O que Aquilla tinha de extrovertida, T.D. tinha de introversão.
T.D. e Aquilla: duas "divindades protetoras". Estavam sentados do outro lado do avião e algumas poltronas à frente. Se eu tombasse a cabeça um pouco para o corredor, podia ver parte do ombro da garota, esta que parecia adivinhar todos os momentos em que eu fazia isso, pois sempre olhava para trás e fazia uma careta engraçada; Leon também dava uma olhada quando ficava curioso com minhas reações. Eu até dava uma olhadinha para trás para ver se alguém tinha reparado, mas só via a reação de Ginger, exibindo um leve sorriso, sentada também do outro lado do avião e algumas poltronas atrás de nós.
Foi durante uma das brincadeiras de Aquilla que um dos passageiros passou pelo corredor em direção ao banheiro. Senti um arrepio quando ele passou e, imediatamente, olhei para Ginger. Ela fez sinal com uma das mãos para que eu me acalmasse. De alguma forma, ela parecia não ver apenas o interior das pessoas e indícios de qual poder especial elas tinham, mas também o estado emocional das mesmas. Seria algo como ver auras? Ela teria visto como eu fiquei apreensiva naquele momento? Apertei a mão de Leon, mas disse que nada tinha acontecido quando ele perguntou. Eu não queria alarmá-lo, pois ele estava bem sonolento devido aos remédios que estava tomando. Queria que ele descansasse durante a viagem.
Ginger se levantou, foi até Aquilla e T.D., falou com eles rapidamente e voltou para seu assento. Ela nem deu atenção para mim depois disso, mas acompanhou o caminhar do homem tão logo ele retornou do banheiro.
Em pé, ao lado de sua poltrona, ele chamou uma das aeromoças. Assim que ela se aproximou, agarrou-a e tirou uma pistola de suas roupas, envolvendo-a pelo pescoço e fazendo de sua cabeça um alvo. O pânico se iniciou, mas as palavras das outras aeromoças conseguiram colocar um pouco de controle na situação. O homem, ou melhor, terrorista, dirigiu-se com a refém até a porta do piloto. Tão logo esta se abriu, um tiro foi ouvido, seguido dos gritos dos passageiros.
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Eu sou a caça (em hiato)
AçãoO mundo está dividido entre humanos e "divindades". Divindades são as pessoas que por algum fator desconhecido começam a manifestar poderes especiais e isso passa a causar pânico entre os humanos. A fim de proteger a população daqueles que usam os p...