Parte 6: O Pequeno "desenhista" e a "holograma"

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Cure nos levou até o refeitório depois das apresentações. Ela foi à frente, acompanhada de David que segurava sua mão como se fossem mãe e filho. Pelo menos, fisicamente, não pareciam mãe e filho, mas ele transmitia a imagem da confiança que tinha nela.

O local lembrava muito um refeitório de indústria. Aliás, lembrava muito o local onde eu costumava almoçar quando ainda tinha um emprego, antes de ser descoberta como divindade e despedida por isso.

 T.D. e Aquilla foram direto para o local onde estava a comida, serviram-se e sentaram-se numa mesa afastada de nós. Acho que tinham muita coisa para conversar depois da missão que cumpriram. Olhando melhor para eles, até que se pareciam um pouco. Às vezes gesticulavam da mesma maneira também. Eu até sorri quando constatei isso. Era bonito vê-los conversando.

Ginger nos levou até a comida e me servi bem. Não sei se foi por eu saber que estava grávida, mas neste momento senti, pela primeira vez, fome por dois. Leon também pegou bastante coisa para comer e fiquei contente com isso, afinal, se ele se alimentasse bem, ficaria com o corpo reestabelecido em breve. Ginger também se serviu, mas Cure e David apenas nos observaram. Ou melhor, para não dizer que eles não comeram nada, David pegou apenas um salgado pequeno.

Sentamos à mesa e, para minha surpresa, a médica pediu que o garotinho fosse brincar na “sala dos computadores” e que recebesse os outros que estavam para chegar. Ele nem questionou nada, fazendo um sim com a cabeça, levantando-se da cadeira vagarosamente e seguindo para a porta a passos lentos. Olhei para Leon depois de David deixar o refeitório. Ele se comoveu com a cena tanto quanto eu e perguntou:

- O que ele tem?

- Agora que ele saiu, podemos conversar – disse Cure, tentando não deixar seu sotaque ficar tão evidente, mas em vão.

- Falar na nossa língua parece incomodá-la – eu disse, sorrindo. – Se quiser, podemos conversar na sua língua.

Ginger riu nesse momento e disse:

- Se eu fosse você, não pediria isso a ela.

Devido a minha cara de dúvida, Cure também riu e começou a falar numa língua que não entendia, porém, que logo deduzi ser do país onde a vodka é a bebida nacional. Sorrindo, ela disse que minha dedução estava certa e ali decidimos que seria melhor então que usássemos a língua da grande potência na qual estávamos. Vendo que comíamos com vontade, Cure resolveu nos dar um tempinho e foi sentar-se ao lado de T.D. e Aquilla, retornando assim que terminamos.

- Creio que Ginger já conversou com você sobre a sua importância para o governo, não é mesmo, Jéssica? – Cure questionou e eu confirmei. – Eu não queria tratar disso agora, mas sua chegada foi muito esperada. Você também é importante para nós, mas não da mesma forma que é para o governo. Preciso de sua ajuda para podermos ajudar David.

- Ginger comentou algo sobre eu vir a ser uma tutora – eu disse.

- Correto. David tem uma história triste e ele é o que você viu devido a ela – Cure continuou. – Os poderes dele, que são iguais aos seus, Jéssica, se manifestaram apenas uma vez até este momento que nos falamos e, quando isso aconteceu, ele matou os próprios pais. Até hoje ele não entende o que aconteceu, apenas relatando que viu os pais morrendo frente aos seus olhos.

- Cure acha que a visão da morte lhe trouxe um trauma e que justamente esse trauma está impedindo os poderes dele de se manifestarem novamente – disse Ginger.

- Mas ele é muito novo para ter manifestado seus poderes – disse Leon, apoiando os cotovelos sobre a mesa e, em seguida, virando-se para mim. – Não é mesmo, Jéssica? Os seus poderes apareceram quando você tinha, mais ou menos, a idade de Aquilla.

Eu sou a caça (em hiato)Onde histórias criam vida. Descubra agora