Parte 8 - Vamos desenhar

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 Depois que fomos apresentados para o restante da equipe, vários dias se passaram. Nesse meio tempo a equipe saiu várias vezes para atuar em casos envolvendo as divindades que usavam seus poderes para fazer coisas erradas por aí. Em alguns dos casos aconteceu o que haviam dito a nós sobre uma mudança de ares e de identidade. Porém, existiam aqueles que se achavam superiores por serem divindades e não rejeitavam a ideia de continuarem o que estavam fazendo.

Nessas missões Leon ainda não fez parte da equipe. Ginger acreditava que ele ainda precisava de mais preparo e o colocou num treinamento intensivo. Numa conversa com Leon eu deixei claro que não aprovaria algo que o levasse a exaustão, mas ele estava tão empenhado em melhorar. Fui vencida pela determinação dele.

Como Leon passava boa parte do dia no treinamento, David acabou por me fazer companhia todos os dias e o primeiro deles foi bem marcante. No primeiro dia de treinamento ele me viu sozinha e me chamou para conhecer seu estúdio. O local lembrava muito uma sala de aula toda decorada, cheia de brinquedos e mesas com materiais para desenhar.

– Jéssica, quer desenhar comigo? – ele perguntou.

– Claro!

Realmente tinha tudo ali. Pegamos folhas brancas e gizes de cera. Apesar de ser chamada de desenhista, eu não desenhava nada. Mal sabia fazer uma casinha. Porém, minha casinha mal feita com árvore ao lado e o sol no alto da folha o fez ficar muito contente.

– Eu não sou muito boa em desenhar, David – eu disse, dando uns retoques no meu solzinho.

– Mas você é desenhista – ele começou a rabiscar também, mas fazendo graça para eu não ver.

– Bom, desenhista é o nome que dão para quem tem os poderes que eu tenho e não por saber desenhar de verdade.

Ele cobriu o desenho, olhou para mim e disse:

– Entendi. Você não sabe desenhar no papel, mas sabe fazer aquelas linhas quando força os olhos. Eu também sei desenhar essas linhas.

– Você também sabe? – fingi que não sabia dos poderes dele fazendo uma cara de surpresa.

– Aham, mas eu só consegui uma vez e machuquei meus pais. Depois disso me trouxeram pra cá. Acho que meus pais ficaram bravos e eu precisei vir pra cá. Tia Cure fala que não é um castigo, mas acho que meus pais me mandaram pra cá pra ficar de castigo.

Não consegui evitar sentir um aperto no peito. Ele realmente não tinha noção alguma do que realmente aconteceu. Eu não podia contar a ele, mas também não queria que ele acreditasse que estava ali por um castigo.

– David, eu não acredito que esteja aqui por castigo. Acho que mandaram você para cá a fim de que aprendesse a usar as linhas que você consegue fazer. Se a gente não tomar cuidado elas machucam mesmo, mas aqui você vai aprender a controlar seu poder e eu vou ajudar.

– Hmm... Eu vou gostar de aprender com você – ele disse todo sorridente.

Eu ri com ele, mas subitamente algo no desenho dele me chamou a atenção, já que ele abriu espaço entre os braços. Pedi para que ele me deixasse ver e, a princípio, não entendi o que ele quis passar com aqueles traços.

– David, o que você desenhou?

– Meus pais...

Quando voltei meus olhos no desenho novamente, levei uma das mãos aos lábios para esconder a surpresa. O desenho se tratava de dois bonecos feitos com o giz preto e muitos rabiscos sobre eles na cor vermelha. Ele desenhou aquilo que provavelmente ficou gravado no subconsciente dele e isso mexeu comigo. Quando percebi, lágrimas já escorriam pelo meu rosto.

– Por que tá chorando? – ele questionou, confuso.

– Não é nada. Acho que estou me emocionando fácil com as coisas. Deve ser coisa de grávida.

David tocou minha barriga e disse:

– Leon disse que quer ficar forte pra proteger você e o nenê. Eu também quero. Eu quero usar minhas linhas pra proteger vocês.

Fiquei mais emocionada ainda e não resisti à vontade de dar um abraço naquele menininho. Eu o apertei como fizeram meus pais quando descobriram que eu era uma divindade. Ainda não sabia como seria a forma de contar a David o que aconteceu com os pais dele, mas naquele momento a única coisa que eu poderia fazer era demonstrar que ele poderia confiar em mim. E aproveitando que ele tinha tocado no nome de Leon, eu disse:

– Eu gostei muito do seu estúdio e adorei este momento com você, mas estou preocupada com o treinamento do Leon. Vamos ver como ele está?

E David respondeu com um empolgante sim.

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⏰ Última atualização: Aug 03, 2017 ⏰

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Eu sou a caça (em hiato)Onde histórias criam vida. Descubra agora